Lula defende o apoio às cooperativas do campo em Santa Catarina
“Nós vamos fazer uma melhoria nas coisas para ajudar os produtores familiares porque vocês representam 70% do que a gente come”, afirmou em visita com Lula pelo Brasil
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Pequenos agricultores do oeste catarinense e trabalhadores da Cooperoeste se encontraram com o ex-presidente Lula na tarde deste domingo (25), na cidade de São Miguel do Oeste, durante a quarta etapa de Lula pelo Brasil.
Com a voz um pouco rouca de tanto conversar com o povo em sua viagem pela região sul do Brasil, Lula falou da importância de se apoiar o pequeno produtor com condições adequadas à sua realidade, e criticou a burocracia estatal que muitas vezes dificulta a implementação de políticas públicas
O ex-presidente afirmou que estava feliz em visitar uma cooperativa e ter acesso a informações do que é possível os trabalhadores fazerem quando eles têm oportunidade e crédito. “Não é quando tem favor. O que as pessoas querem é apenas acesso ao que todo mundo tem.”
“Eu sei que temos muita coisa para fazer no Brasil e sei que fizemos muita coisa. Sei da melhoria da vida de muitos trabalhadores rurais nesse país. Sei o que foi o Luz Para Todos, levando energia para mais de 4 milhões de famílias, atendendo 15 milhões pessoas que viviam nas trevas do século 18. Mulheres com fogão de lenha, fogão de uma boca. Lembro de mulheres que ficavam apagando e acendendo a luz e diziam que era porque nunca haviam visto o filho dormindo.”
“Há coisas fortes, que quem nasceu na cidade com luz elétrica, televisão e geladeira não tem noção do ganho. Aqui mesmo no Rio Grande do Sul, um companheiro disse que nunca viu um jogo da seleção. Quando a gente colocou o Luz Para Todos, ele comprou uma televisãozinha, uma pena porque ele também ia ver a Globo e a Record falando mal de mim.”
“O acesso à água, que muita gente teve pelo programa água para todos. Foram pessoas que nasceram e morreram carregando lata de 20 litros na cabeça e de repente a gente não sabe o valor de uma mulher ter uma torneira de água na pia e não ter que ir no rio. De ter um chuveiro para tomar banho.”
“Lembro que uma vez fui a Afogados da Ingazeira no nordeste, duas moças não iam na escola porque não tinha água para banho nem para roupa. Isso ainda acontece no Brasil e em muitos lugares, porque o governo precisa estar atento em vasculhar esse Brasil. A gente pensa que o Brasil é a avenida da praia em Porto Alegre, a avenida Atlântica no Rio de Janeiro.”
“O Brasil é o pequeno proprietário com três hectares de terra que sustenta sua família, mas está ficando difícil porque o governo hoje não garante nem o preço do litro do leite”, denunciou.
“Não dá para que a cooperativa fique submetida às mesmas condições dos grandes. São cooperativas com outra metodologia de financiamento e portanto precisa de um regime próprio, mais adequado, e por isso nas instituições que gerenciam o dinheiro, é preciso de gente que entenda de povo.”
“Eu sei a briga que fizemos para tentar fazer a água do São Francisco chegar a 12 milhões de pessoas do semi-árido. Quem é do Rio Grande do Sul, de São Paulo ou do Rio de Janeiro, muitas vezes não sabe o que é uma seca.”
“Às vezes a gente empresta 1 bilhão para o grande empresário e ele diz que não é suficiente, mas se a gente empresta 15 mil para o pequeno produtor, ele investe e muda sua vida.”
“Vou dizer que nunca tive tanta vontade de ser Presidente da República. Hoje, depois de ficar 8 anos fora, tenho clareza das coisas que a gente deixou de fazer. Tenho clareza de quantas vezes no governo você é enganado. Não basta aprovar a lei, mas tem que aplicar com mais aprimoramento do que quando se fez a lei, porque sempre há um burocrata para colocar uma vírgula para não facilitar a vida dos pequenos.”
“Eu sei da burocracia porque participei de muitas reuniões com Banco do Brasil, com as pautas de reivindicações do MST, da Via Campesina, e cada vez que tinha pauta de reivindicações, em cada reunião com os burocratas de ministério, parecia que eles eram eleitos e que a gente era um merda.”
“O presidente é uma locomotiva, a burocracia é a estação. A estação não muda. A gente passa de quatro em quatro anos, mas a estação não tem sentimento, não muda. Não se pode tratar da mesma maneira um empréstimo para a Gerdau e para o pequeno produtor, as garantias não podem ser as mesmas.”
“Estamos tranquilos porque não vamos aceitar o jogo rasteiro que estão fazendo, mas não vamos dar a outra face. Nós sabemos fazer política. Já perdi muitas eleições e acatei o candidato. Se eles não tem candidato, não vão apelar para a justiça.”
“Eu quero voltar para consertar o nosso país, para voltar o povo a acreditar, ter esperança, que milhares de jovens possam fazer uma universidade, se aperfeiçoar. A reforma agrária tem que ser concluída, a terra com os índios tem que ser legalizada, e temos que fazer reforma tributária, que vamos fazer na campanha, que quem ganha até 5 salários mínimos não tem que pagar imposto de renda. Vamos voltar aprimorado, escolher melhor os ministros”.
“Quando vejo uma cooperativa dessas, dá para acreditar que é possível criar outras cooperativas e aprendi que cooperativa para ser forte tem que nascer de baixo para cima. O que eu puder fazer para ajudar, nós vamos fazer. Nós vamos fazer uma melhoria nas coisas para ajudar os produtores familiares porque vocês representam 70% do que a gente come”, finalizou Lula.
Na sequência, o ex-presidente visitou uma fábrica de sementes do Movimento de Pequenos Agricultores em São Miguel do Oeste.
Lula pelo Brasil
A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos estados do Sul do país, em março, é a quarta etapa de um projeto que deve alcançar todas as regiões do país nos meses seguintes. No segundo semestre de 2017, Lula percorreu todos os estados do nordeste, o norte de Minas Gerais, o Espírito Santo e o Rio de Janeiro.
O projeto Lula Pelo Brasil é uma iniciativa do PT com o objetivo de perscrutar a realidade brasileira, no contexto das grandes transformações pelas quais o país passou nos governos do PT e o deliberado desmonte dos programas e políticas públicas de desenvolvimento e inclusão social, que vem sendo operado pelo governo golpista
Da Redação da Agência PT de Notícias, enviada especial a SC