50 anos das relações diplomáticas entre Brasil e China, por Luiz Inácio Lula da Silva

Sobre essas bases sólidas, China e Brasil estão pavimentando o caminho certo para elevar a Parceria Estratégica Global a um novo nível, aponta Lula, em artigo para o China Daily

Ricardo Stcukert

Os presidentes Xi Jinping e Lula

No dia 15 de agosto, celebramos o 50º aniversário das relações diplomáticas entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China. Ao longo desses 50 anos, construímos uma parceria estratégica que fortaleceu os laços comerciais, culturais, científicos e tecnológicos entre nossos povos.

Como presidente do Brasil, tenho orgulho de ter contribuído para o desenvolvimento dessa prolífica cooperação. Em minha primeira visita a Pequim, em 2004, fortalecemos a Parceria Estratégica ao criar a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), que é fundamental para a coordenação de nossas ações em diversos setores e para o aprofundamento da integração de nossos governos e sociedades.

Desde 2009, a China consolidou sua posição como nosso principal parceiro comercial. Nos últimos sete anos, o Brasil tem sido o principal fornecedor externo de alimentos da China, contribuindo para sua segurança alimentar.

Em 2023, o comércio bilateral atingiu um recorde de 157 bilhões de dólares, com um superávit inédito de 51 bilhões de dólares para o Brasil. Nossas exportações totalizaram 104 bilhões de dólares, superando a soma combinada de nossas vendas para os Estados Unidos e a União Europeia.

O Brasil também foi o quarto maior destino dos investimentos chineses no exterior, representando 4,8% do total global, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Esses investimentos são vitais para o desenvolvimento e modernização de nossa infraestrutura e indústria, e estão em sinergia com o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o programa Nova Indústria Brasil.

Nossas relações bilaterais não se limitam à exportação de produtos agrícolas. Pelo contrário, a dimensão estratégica de nosso relacionamento precede o sucesso de nossas trocas comerciais. O projeto Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), lançado em 1988, é um marco da cooperação Sul-Sul em alta tecnologia, fortalecendo a infraestrutura espacial e impulsionando a pesquisa, a inovação e o co-desenvolvimento em setores críticos.

Por essas razões, a China foi um dos primeiros países que visitei no início do meu terceiro mandato. Na ocasião, destaquei nosso desejo de que as relações Brasil-China transcendam as trocas comerciais.

Da mesma forma que o CBERS foi fundamental para que nossos países dominassem as tecnologias aeroespaciais há 40 anos, confio que seremos capazes de buscar novas áreas nas fronteiras do conhecimento para fundamentar nossa cooperação para os próximos 50 anos, como inteligência artificial, semicondutores e fontes de energia renovável.

Buscaremos solidificar as conexões entre nossas universidades para aumentar o número de estudantes e pesquisadores em intercâmbio. Queremos que mais chineses visitem o Brasil como turistas e que mais brasileiros visitem a China. Esperamos trabalhar juntos no enfrentamento das mudanças climáticas e na transição para energias limpas, particularmente a partir de fontes eólica, solar e de biomassa.

Além dessa densa agenda bilateral, China e Brasil são parceiros de longa data no BRICS, no G20, nas Nações Unidas e em diversos outros fóruns internacionais. Trabalhamos juntos para promover a paz, a segurança e o desenvolvimento. Apoiamo a reforma da governança global para torná-la mais eficiente, justa e representativa dos interesses do Sul Global.

A estreita coordenação entre nossos países em questões de interesse global continuará a contribuir para uma ordem mundial multipolar, baseada nos valores do multilateralismo e do direito internacional. A valorização comum pelo diálogo nos permite promover soluções baseadas na diplomacia e na negociação, como demonstrado em nossa proposta conjunta para o conflito na Ucrânia.

Sobre essas bases sólidas, China e Brasil estão pavimentando o caminho certo para elevar a Parceria Estratégica Global a um novo nível, com um forte componente de cooperação tecnológica e a capacidade de promover resultados verdadeiramente transformadores para nossas sociedades.

É nesse espírito que o Brasil receberá a visita de Estado do presidente Xi Jinping ao nosso país em novembro.

O autor é presidente do Brasil. Publicado originalmente no China Daily

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