8 de janeiro, dois anos depois: ato apresenta 21 obras de arte restauradas
Presidente Lula participou, nesta quarta-feira (8), no Palácio do Planalto, de cerimônia de entrega de peças artísticas recuperadas após serem alvo dos ataques da turba de vândalos bolsonaristas
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A entrega de 21 obras de arte restauradas após serem alvo de terroristas que invadiram o Palácio do Planalto e atentaram contra a democracia em 8 de janeiro de 2023 foi o primeiro compromisso do presidente Lula na manhã desta quarta-feira (8), uma data em que vários atos marcaram o dia de memória dos dois anos da tentativa de golpe de Estado.
As obras vandalizadas foram expostas em evento histórico no Palácio do Planalto. Pinturas, esculturas e artefatos históricos foram restituídas ao acervo da Presidência da República, entre elas, o quadro do artista Di Cavalcanti, “As Mulatas”, que foi apunhalado sete vezes, e o relógio de mesa suíço do século XVII, presente da Corte Francesa para Dom João VI, que foi jogado ao chão por um manifestante golpista. As cenas foram gravadas pelas câmeras do Palácio do Planalto e chocaram o país.
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“Estamos aqui dois anos após a tentativa de destruição da nossa democracia e dos prédios que simbolizam os poderes da República. Estamos aqui não para lamentar, mas muito menos para esquecer. Estamos aqui para celebrar e reforçar a democracia e para entregar ao povo brasileiro seu patrimônio inteiramente restaurado”, ressaltou a primeira-dama Janja.
Três Poderes reunidos
O evento teve a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, sua esposa Lúcia Alckmin, do embaixador da Suíça Pietro Lazzari; do senador Veneziano Vital do Rêgo; do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Facchin, do embaixador Mauro Vieira, ministro das relações Exteriores; da deputada Maria do Rosário (PT-RS), professores da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) responsáveis pela restauração e funcionários do Palácio do Planalto.
“Este Palácio do Planalto onde estamos hoje foi vítima do ódio que estimula e continua estimulando atos antidemocráticos, que continua estimulando falas fascistas e autoritárias. Para isso, a nossa resposta é união, a solidariedade e o amor”, salientou Janja em sua fala na abertura da cerimônia. A memória histórica, disse ela, é um dos alicerces mais importantes da identidade brasileira.
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“Sua preservação não é a apenas uma homenagem ao passado, mas também um compromisso com o futuro. O restauro das obras de arte do Palácio é a parte desse esforço comum com a nossa democracia. Não conseguiram impedir a liberdade e nem destruir a beleza. Contra a violência e as cinzas do autoritarismo, fizemos brotar o colorido da nossa cultura e a alegria do nosso povo”, afirmou, ao reforçar que a soma da vontade do povo brasileiro de lutar pelas liberdades democráticas com a união das instituições impediram o golpe.
Defesa diária da democracia
“O país não aceita mais o autoritarismo. O que aconteceu na Praça dos Três Poderes precisa estar na nossa memória, na memória do país como um alerta de que a democracia deve ser defendida diariamente, não importa o esforço”, ressaltou, no mesmo tom da fala da ministra da Cultura, Margareth Menezes e do embaixador da Suíça, Pietro Lazzeri.
“São tempos desafiadores e complexos, é fundamental valorizar e cuidar dos direitos humanos e das nossas democracias que são delicadas e ao mesmo tempo resilientes como esse relógio que volta aqui hoje ao coração do Brasil”, assinalou ele, ao destacar que o longo processo de restauração do relógio é emblemático da amizade e cooperação entre os dois países e “precisou da excelência helvética mas também da criatividade e do jeitinho suíço-brasileiro. Funcionou! Mais de mil horas com talento e precisão de brasileiros e suíços”, disse ele ao agradecer a primeira dama Janja, madrinha do projeto.
“A Suíça está orgulhosa de ter contribuído com os esforços de restauração de um patrimônio histórico de todas e todas os brasileiros”, declarou o embaixador da Suíça, país que fez sem custos a reparação do relógio, o item mais famoso danificado nos ataques.
“O esforço de restauração mobilizou um conjunto de especialistas suíços e brasileiros, incluindo relojoeiros, curadores e artesãos que se engajaram na missão de planejar e executar as etapas de conserto da peça. Eles vieram ao Brasil em maio de 2023 para examinar o estado do relógio. Em dezembro de 2023, levaram à Suíça as partes do objeto”, publicou o portal Terra.
“Ainda estamos aqui e não vamos retroceder”, diz ministra
A cultura e a arte brasileira são “um tesouro inquestionável inquebrantável”, afirmou Margareth Menezes e é por isso, segundo ela, que as ditaduras buscam destruir a cultura. “Ela afirma e fortalece a soberania e a alma de um povo. Ninguém pode domar nem amordaçar as expressões culturais e artísticas. A força desses trabalhadores e trabalhadoras da cultura é incorruptível, por isso ainda estamos aqui e não vamos retroceder. Ditadura nunca mais! Viva a cultura, a arte brasileira, a liberdade e a democracia!”, disse a ministra, ao apontar que, apesar dos esforços dos golpistas, a democracia venceu e a cultura resistiu.
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“A liberdade e a justiça continuam a guiar nossos caminhos e nesse dia tão simbólico devolvemos a sociedade obras que foram vandalizadas durante aquele ataque”, disse ela ao falar que o resultado do trabalho de restauração é fruto de um projeto conjunto com a Universidades Federal de Pelotas (UFPEL) e IPHAN.
Duas mil horas de trabalho e R$ 2 milhões
O presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Leandro Grass lembrou foram restauradas por 50 profissionais de restauração e conservação, entre professoras e professores, além de bolsistas estudantes da UFP em quase duas mil horas de trabalho e R$ 2 milhões investidos. “Esses recursos também viabilizaram o acesso de centenas de estudantes da rede pública de ensino a uma extraordinária experiência de educação patrimonial”, disse ele ao entregar ao presidente um livro com a memória do trabalho de restauração das peças vandalizadas.
A reitora da UFPEL, universidade responsável pela restauração de um vaso italiano que se quebrou em 180 pedaços, Isabela Fernandes Andrade, agradeceu o apoio do governo federal ao restabelecimento do Rio Grande do Sul e compartilhou sua alegria com a restauração das obras por professores e alunos do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis. Ela destacou a responsabilidade social da universidade diante dos ataques ao patrimônio e à democracia.
“A restauração das obras do Palácio do Planalto é um exemplo de como essas instituições podem mobilizar seus recursos e expertise para responder a crises e ajudar na reconstrução de bens importantes para a nação. A possibilidade de colocar servidores docentes e técnicos e principalmente estudantes à disposição da República e em defesa da democracia, retrata mais uma vez o papel fundamental das nossas instituições públicas de ensino superior. Sem anistia aos golpistas de 8 de janeiro! Viva a democracia brasileira!”, celebrou a reitora.
Lágrimas e reconstrução
Sob a orientação e liderança do presidente Lula, Janja afirmou que a tarefa de restaurar o Palácio foi o símbolo do compromisso com a democracia. “Isso foi expresso pelas lágrimas das trabalhadoras e trabalhadores do Palácio do Planalto, após verem o espaço que cuidam com tanto afeto, amor e dedicação ser tratado de forma tão desumana. Em cima dessas lágrimas a reconstrução se fez. É também para essas trabalhadoras e trabalhadores que entregamos com muita alegria as obras restauradas. Aquelas lágrimas hoje se transformaram em sorrisos pela certeza de que juntas e juntas mantivemos a democracia firme”, destacou.
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Ao citar algumas das obras restauradas, Janja assinalou que a preservação do legado que une cultura história e democracia é responsabilidade de todos. “A memória é um dos alicerces mais importantes da nossa identidade enquanto brasileiros. Sua preservação não é apenas uma homenagem ao passado, mas também um compromisso com o futuro. A memória é o que nos fortalece para seguir adiante conectando quem fomos ao que ainda podemos ser”, sentenciou.
Janja agradeceu a Embaixada da Suíça, o governo suíço, o Ministério da Cultura através do Iphan e a Universidade Federal de Pelotas. “O trabalho de estudantes e professoras do curso de Conservação e Restauro da universidade mostra também a excelência das nossas universidades públicas federais. Quero ressaltar que o trabalho foi coordenado e executado por mulheres”, destacou.
Da Redação