“Escola Sem Partido” nem é lei e traz clima de ‘caça as bruxas’
Já há registros de intimidação, hostilidade e até demissão por pressão de pais organizados em “patrulhas”. Projeto deve ser votado nesta quarta (7)
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O “Escola Sem Partido” (ainda) não virou lei, mas o clima de ‘caça às bruxas’ já afeta a rotina de escolas de todo o Brasil. É o que mostra uma reportagem da BBC Brasil publicada nesta segunda-feira (5).
Há relatos de professores acuados por filmagens e reações hostis dos estudantes. Noutra ponta, docentes foram demitidos após pressão organizada de pais, boa parte deles operando em grupos no WhatsApp. O site movimento criado em 2004, dá o passo a passo para que pais e estudantes “flagrem” os profissionais da educação.
O projeto que impede uma suposta “doutrinação ideológica” nas escolas, na prática, legaliza a censura dentro da sala de aula. Se for aprovado o PL7180/2014, ficaria proibido discutir política, gênero e respeito às diferenças, sob o argumento de não interferir nas visão de mundo que o aluno traz de casa.
Ao discutir a teoria da evolução por exemplo, os arautos do Escola Sem Partido, defendem que o professores apresente o criacionismo como uma outra visão igualmente fundamentada sobre o tema, e não como crença religiosa.
A votação foi adiada no dia 31, mas deve entrar na pauta mais uma vez nesta quarta (7) – sob uma proposta ainda mais autoritária.
Os especialistas ouvidos pela BBC chamam atenção para o “pânico moral” sobre questões de gênero, raça e sexualidade, somado a uma visão mercantilista da educação, sob a qual o professor é o fornecedor e os alunos, o cliente, excluindo função pedagógica a de pensamento crítico e cidadania.
“Eles usam casos extremos e dizem que isso está acontecendo em todo Brasil. É criar a doença para vender a cura. Espalham o pânico e aí falam: ‘você está com medo? Podemos resolver isso'”, explica o professor Fernando Penna.
Segundo levantamento da organização Professores Contra o Escola Sem Partido, mais de 150 projetos correlatos tramitam nas esferas municipais e estaduais. Pelo menos 14 deles foram aprovados.
Dezenas de parlamentares alinhados a Jair Bolsonaro se elegeram sob essa bandeira. É o caso da professora Ana Caroline Campagnolo, em Santa Catarina. A deputada eleita se tornou o rosto da ofensiva autoritária ao pedir que estudantes que “sentirem [sic] seus direitos violados” por professores filmassem o comportamento e lhe enviassem o material via WhatsApp. O caso está sendo investigado pelo Ministério Público.
Na visão dela, “muitos professores doutrinadores” estariam “inconformados e revoltados” com a vitória de Bolsonaro. Curiosamente, ela própria já foi flagrada fazendo panfletagem ideológica em sala de aula, conforme mostra a foto abaixo.
Da Redação Agência PT de Notícias