Alckmin quer mais água do volume morto do Cantareira

Proposta ainda precisa ser aprovada pela ANA, DAEE e Cetesb

ROBS2282- BRAGANÇA PAULISTA - SP - 13/03/2014 - METROPOLE - FALATA D'AGUA - Barragem Jaguari / Jacarei que faz parte do sistema Cantareira de abastecimento da SABESP está com menos de 15% da capacidade e parou de captar agua. FOTO ROBSON FERNANDJES/ESTADÃO

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) quer captar mais 116 bilhões de litros do volume morto do Cantareira. Essa segunda cota corresponde a 29% do total de água disponível na reserva técnica do Sistema.

A proposta ainda precisa ser aprovada pelos órgãos gestores: Agência Nacional de Águas (ANA), Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE) e Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).

A medida contradiz a afirmação da Sabesp de que os 182,5 bilhões de água que estão sendo bombeados desde maio seriam suficientes para garantir o abastecimento de água em São Paulo até março de 2015.

Caso o Cantareira continue apresentando a taxa de queda atual, o esgotamento do seu estoque deverá ocorrer em meados de outubro. Nesta segunda-feira (28), o sistema opera com apenas 15,8% da sua capacidade.

No início de julho, o governador tucano Geraldo Alckmin havia negado que usaria mais uma cota do volume morto do sistema. Agora, a Sabesp ainda avalia se pede 100 ou 116 bilhões de litros d’água. “A Sabesp segue em processo de avaliação sobre a retirada para definir se o volume será entre 100 e 116 milhões de metros cúbicos”, afirma em nota.

No total, o Cantareira conta com 400 bilhões de litros de água em seu volume morto. Só de Jaguari-Jacareí, a Sabesp quer retirar mais 90 bilhões de litros represados abaixo do nível das comportas. Se a quantidade for toda utilizada, os reservatórios que representam 82% de capacidade ficarão com apenas 4% do seu volume total, incluindo o útil e o morto.

A companhia informa que não há riscos para a represa, caso sejam utilizados mais de 90 milhões de metros cúbicos. Afirmação contestada por especialista em gestão de recursos hídricos. “Sou contra o uso do volume morto. Se trata de uma reserva para sedimentação de partículas em suspensão. Quanto mais o nível de água abaixa, pior a qualidade da água”, explica a doutora em recursos hídricos da Universidade de São Paulo Roberta Baptista Rodrigues. “Além disso, você passa a ter uma taxa de infiltração maior e acaba interferindo tanto na flora quanto na fauna do ecossistema aquático”.

Ainda de acordo com Rodrigues, o uso da reserva jamais deveria ser considerado como alternativa por um planejamento de gestão de recursos hídricos. “O uso da cota retarda a recuperação do Cantareira e dificulta a reversão do quadro de ter o reservatório em volume útil mais confortável”, explica.

 

 

Por Camila Denes, da Agência PT de Notícias

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