Comissão da Verdade termina fase de ouvir ex-agentes

Depoimentos foram reveladores para esclarecer casos como o da morte da estilista Zuzu Angel e do atentado ao Rio Centro

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O homem encostado no poste, que observa o carro de Zuzu Angel destruído, é o coronel Freddie Perdigão

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) concluiu na sexta-feira (1º) uma série de depoimentos para esclarecer, entre outros casos, o Riocentro e a morte da estilista Zuzu Angel.

Desde 21 de julho, em Brasília e no Rio de Janeiro, a CNV ouviu 21 dos 36 agentes da repressão previstos e mais outras duas testemunhas. Para a Comissão, os depoimentos mais relevantes foram o de Cláudio Guerra, ex-delegado do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) do Espírito Santo, e o do juiz Nelson Machado Guimarães.

 

Zuzu Angel – Além de afirmar ter executado seis ou sete pessoas e incinerado os corpos de outras 13, Guerra garantiu que o coronel Freddie Perdigão, morto em 1998, provocou a batida de carro que matou a estilista Zuzu Angel, em abril de 1976. Ele entregou à Comissão uma foto em que mostra Perdigão na cena do atentado contra a estilista.

O Estado brasileiro, por meio da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, já reconheceu que Zuzu Angel foi morta pela repressão política. Agora, a CNV busca obter mais informações sobre os executores e outras circunstâncias da morte.

Há agentes da repressão que afirmam que o homem na foto não é Freddie Perdigão, mas não foram apresentados à CNV. Para Pedro Dallari, coordenador da Comissão, o testemunho de Guerra tem sido muito consistente: “tanto é que está visivelmente em curso a tentativa de sua desqualificação por parte de agentes da repressão”, diz.

 

Vannuchi – O juiz Nelson Machado Guimarães, que atuava na 2ª Auditoria da Justiça Militar Federal de São Paulo, afirmou que havia tortura sistemática e prisões ilegais em dependências militares e policiais durante o regime.

Embora a Justiça Militar tivesse solicitado, formalmente, providência no caso da morte do líder estudantil Paulo Vannuchi, do sindicalista Olavo Hansen e de Frei Tito, as autoridades da época não instauraram inquéritos. Para Dallari, o depoimento do juiz é de grande relevância, pois as Forças Armadas negaram a existência de tortura em suas dependências quando solicitada a dar informações para a Comissão.

Apesar de não dar depoimento e ter se recusado a colaborar com a Comissão, a presença do coronel reformado do Exército, Wilson Machado, foi considerada importante pelos membros da CNV. Foi sua primeira aparição pública desde 1981. Denunciado à Justiça pelo atentado do Riocentro, Machado informou já ter prestado cinco depoimentos, três à Justiça Militar e dois ao Ministério Público e, portanto, não iria responder às perguntas da Comissão.

 

Ouvidoria – Durante a coletiva de imprensa sobre o balanço dos depoimentos, a Comissão Nacional da Verdade anunciou que vai criar um sistema de ouvidoria para receber as sugestões dos cidadãos, que poderão ser incluídas no capítulo de recomendações do relatório final, que deve ser divulgado no dia 10 de dezembro.

Os integrantes da Comissão vão considerar, principalmente, contribuições de instituições que foram usadas como aparelhos de repressão, como as polícias estaduais e as Forças Armadas, além da Justiça. “o processo é importante para incorporar a percepção da sociedade ao relatório da CNV”.

O sistema estará disponível no site da Comissão (www.cnv.gov.br) do dia 11 de agosto até dia 30 de setembro.

 

Por Aline Baeza, da Agência PT de Notícias

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