Silvio Tendler lança filme sobre privatizações
Da distopia à utopia. Este foi o sentimento coletivo dos presentes na pré-estreia do filme “Privatizações – A distopia do capital”, realizado na noite desta quinta-feira (9/10), no Museu da…
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Da distopia à utopia. Este foi o sentimento coletivo dos presentes na pré-estreia do filme “Privatizações – A distopia do capital”, realizado na noite desta quinta-feira (9/10), no Museu da República. Centenas de pessoas, entre sindicalistas, estudantes, formadores de opinião, comunicadores e parlamentares, estiveram presentes e o consenso era de que somente a esperança da utopia é capaz de vencer as perversidades do projeto neoliberal e sua consequente distopia social. De acordo com o diretor do filme, Silvio Tendler, o objetivo é contribuir pedagogicamente na construção da consciência política. “Este é um filme que eu devia a mim mesmo e ao país. Cinema é patrimônio público e é para ser visto e multiplicado, e não para ser produto confinado em salas de shoppings, em apenas 7% do território brasileiro”, disse.
Em 56 minutos de projeção, intelectuais, políticos, técnicos e educadores traçam, desde a era Vargas, o percurso de sentimentos e momentos dramáticos da vida nacional. “Se não conhecermos o nosso passado podemos incorrer no erro de repetir as farsas e tragédias do neoliberalismo no presente e no futuro”, afirmou o presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), Olímpio Alves dos Santos. Um dos principais pontos levantados pelo filme é o papel do Estado, cuja perspectiva neoliberal está rendida às exigências do mercado, do capital internacional e do lucro. “Este filme faz reflexão sobre como o processo de privatização foi um grande engodo.O argumento forte que elegeu os Fernandos (Collor e FHC) é de que esse dinheiro dos ‘paquidermes’ das estatais serviriam para os serviços públicos, e isso não aconteceu. No Brasil, os serviços só pioraram de lá para cá. Por fim, o filme afirma que apenas a mobilização e organização da população podem garantir um país justo, igualitário e soberano”, destacou o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ).
O final dos anos 80 e a década de 90 são considerados tempos perdidos, devido à ofensiva neoliberal com seu projeto de privatização das principais empresas do Brasil. “Houve asfixia de grandes setores da engenharia nacional, em que investimentos foram negados para que houvesse sucateamento de todas as empresas estatais para justificar o processo de privatização. “Houve asfixia de grandes setores da engenharia nacional, em que investimentos foram negados para que houvesse sucateamento de todas as empresas estatais para justificar o processo de privatização. Esse filme é histórico, pois permite que o povo brasileiro conheça sua história e possa, assim, planejar um futuro melhor para cada cidadã e cidadão desse país”, pontuou o presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), Clovis Nascimento.
Outro destaque do filme é a propaganda feroz em defesa das privatizações, bem como o papel dos meios de comunicação no desmonte do Estado brasileiro. “Eu vivi todo o processo de privatização no Rio de Janeiro. Lembro de cada cartaz que a gente fez, cada momento, cada bomba, cada corrida da polícia. Ou a gente conta essa história ou ela se perde. Perder essa memória é perigoso, porque pode significar a volta de um projeto, que arranca o sangue do povo brasileiro. Esse filme não engana e não disfarça, porque muitas das questões neoliberais se mantiveram”, lembrou a jornalista e coordenadora do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), Claudia Santiago.
Utopia necessária – A perspectiva da produtora e dos realizadores é promover o debate em todas as regiões do país como forma de avançar “na construção da consciência política e denunciar as verdades que se escondem por trás dos discursos hegemônicos”, afirmou Silvio Tendler. Realização do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ) e da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), com o apoio da CUT Nacional, o filme traz a assinatura da produtora Caliban e a força da filmografia de um dos mais respeitados nomes do cinema brasileiro. Tendler lembrou que nos anos 50 a parceria entre sindicatos para produção de filmes acontecia mundo afora. “Num país de 200 milhões de habitantes não pode se resumir a 15 milhões de espectadores. A parceria com os sindicatos é fundamental. Nos anos 50 houve, na França e na Itália por exemplo, já havia esta parceria com entidades e produziram filmes ótimos. O Senge e a Fisenge ao fazerem isso não inovam, mas renovam”, concluiu Tendler.
Vale registrar, ainda, o fato dos patrocinadores deste trabalho, fruto de ampla pesquisa, serem as entidades de classe dos engenheiros. Movido pelo permanente combate à perda da soberania em espaços estratégicos da economia, o movimento sindical tem a clareza de que “o processo de privatizações da década de 90 é a negação das premissas do projeto de desenvolvimento que sempre defendemos”.
Por Camila Marins, da Fisenge