Ex-presidente espanhol elogia legado do governo Lula para a democracia
Para Felipe González, a saída para a crise provém de investimento maciço em educação e saúde
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O ex-presidente do Governo da Espanha, Felipe González, elogiou o legado deixado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a democracia brasileira ao estabelecer um “projeto de país para todos”. A fala aconteceu nesta segunda-feira (22), durante a conferência “Novos desafios da democracia”, realizada no Instituto Lula.
“Para resolver o desafio da democracia é preciso fazer como fez Lula, criar um projeto de país que seja para todos”, afirmou o ex-presidente do Governo da Espanha.
González ressaltou a necessidade de se manter a cabeça jovem e buscar, mais que respostas, perguntas inteligentes para se debater a democracia. “A pergunta inteligente provoca o bom debate”, disse.
Segundo o ex-presidente, o processo de globalização, iniciado depois da metade da década de 1990, foi responsável por grande revolução tecnológica, com profundas mudanças nas relações humanas, quando foram eliminadas barreiras de distância espacial e cronológica. Para o espanhol, essas condições “hegemonizaram” a economia financista, que implodiu em 2008.
“A hegemonia dos países centrais no controle dos fluxos financeiros produz desigualdade na distribuição das receitas. Nunca aceitei e aceitarei uma sociedade de mercado, na qual o ser humano, o cidadão, seja uma mercadoria”, afirmou González.
O ex-presidente espanhol ressaltou os potenciais agropecuário, energético e humano brasileiro e a capacidade de adotar políticas anticíclicas para enfrentar a crise interna e mundial. Para González, a saída é o investimento maciço e ininterrupto em educação e saúde para a melhoria da competitividade brasileira.
“Acredito que a preocupação do Brasil se encontra em nível político e não no econômico”, ressaltou.
Após uma série de perguntas da plateia, respondidas por González, o ex-presidente Lula encerrou a conferência. Para o petista, a apresentação de González reforça momento de discussão sobre os projetos do PT para o Brasil.
Lula disse que quando se está na oposição é mais fácil de ser democrático. “Quando se está na oposição, só se acha, mas quando se é governo, tem de se tomar decisões, escolher umas coisas e dispensar outras”, ressaltou.
O ex-presidente brasileiro ressaltou também a necessidade de atualizar os quadros do PT, mas lamentou a pouca politização dos jovens. Lula citou um encontro recente com um grupo de católicos na periferia de São Pulo, onde todos os participantes eram fundadores do partido.
“Fui perguntado no encontro, ‘como renovar se não há jovens aqui, somente os velhos?’ O PT precisa falar com a juventude para ela tomar conta do partido”, avaliou.
O ex-presidente também destacou como o maior legado de seus oito anos de governo, a democracia, o exercício de viver na diversidade. De acordo com Lula, foram realizadas 74 conferências nacionais para discutir as políticas públicas que se queria adotar.
Parafraseando Platão, filósofo grego, Lula afirmou que as consequências da não participação política é que “a desgraça de quem não gosta de política é que será governado por quem gosta”.
Comunicação – Lula voltou a defender a regulamentação da mídia ao reforçar a necessidade de democratizar a comunicação no País, onde cerca de nove famílias controlam os principais grupos de mídia nacionais. De acordo o ex-presidente, para contrapor a oposição feita a partir dos editoriais dos grandes jornais, é necessário saber melhor usar as redes sociais.
“E toda vez que se fala em regulação da mídia, vem bordoada de todos os lados. Até mesmo direito de resposta não se tem. O processo é tão difícil que, quando se ganha, é melhor não publicar porque ninguém se lembra mais do assunto”, destacou Lula.
Por Guilherme Ferreira, da Agência PT de Notícias