Onda de intolerância fomenta crimes de ódio, políticos e raciais no Brasil
Em menos de 10 dias, a presidenta Dilma Rousseff foi insultada e teve sua imagem violentada; uma jornalista foi vítima de racismo nas redes sociais e um rapaz foi espancado até a morte no Maranhão
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Menos de uma semana após a imprensa noticiar ataques de ódio a presidenta Dilma Rousseff e atos de violência de gênero contra a chefe do Executivo, na terça-feira (7), o estado do Maranhão foi palco de uma barbárie nutrida por intolerância.
Um homem de 29 anos teve pernas, mãos e tronco amarrados a um poste de energia e espancado até a morte depois de tentar assaltar um bar. Segundo o jornal “Extra”, esse é o quarto caso de morte deste tipo no estado.
Na semana passada, a jornalista da “Rede Globo” Maju Coutinho foi agredida verbalmente em uma rede social. Com palavras de cunho racista, usuários do Facebook expuseram a face conservadora e racista do Brasil. A avaliação é do professor do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Fernando Inocêncio. Para ele, tais práticas nunca deixaram de existir, mas que nunca estiveram tão evidentes como agora.
Fernando Inocêncio afirma ainda que esses atos são consequência de uma sociedade que se desconhece, não percebe suas limitações e não permite o debate.
“Uma sociedade que não está habituada a discutir o racismo dá espaço para que esses atos abomináveis continuem existindo”, afirma.
O professor ressalta que o debate sobre a questão racial é recente, iniciado em meados dos anos 1970. A discussão apenas ganhou evidência a partir da implementação de políticas públicas, ações afirmativas e política de inclusão da população negra.
Violência – O racismo praticado no Brasil tem ganhado visibilidade em números da violência urbana. A juventude negra, de acordo com o professor, é o alvo preferencial, em particular da polícia, há muitos anos.
“Todos os dias vemos vários casos como o de Amarildo no país a fora”, lembra Inocêncio sobre o caso do morador que desapareceu após uma abordagem policial na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ).
Nelson Inocêncio diz que algumas formas de combater o racismo veem sendo feitos a partir das políticas de inclusão do Estado, mas que é necessário aprofundar o debate e ampliar as adesões, conquistar mais segmentos e organizações da sociedade civil para agregar a luta.
Intolerância Política – Em um jogo de provocações políticas, a oposição e alguns cidadãos contrários ao governo têm demonstrado todo seu ódio ao criticar a presidenta Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores.
Na semana passada, um jovem de 25 anos se infiltrou na comitiva da presidenta, em visita a Universidade de Standford, nos Estados Unidos, e usou palavras de baixo calão para atingir a chefe de Estado brasileira.
De acordo com o professor de sociologia da UnB, Benício Viero Schmidt, esses ataques de ódio e intolerância são “lamentáveis” e não ajudam em nada o País.
“Isso me lembra o que aconteceu no período de Getúlio Vargas, Fernando Collor e João Goulart, quando as pessoas se manifestavam de maneira raivosa, pessoal e passional. É importante lembrarmos que a instabilidade econômica vivida pelo Brasil atualmente não é necessariamente culpa do atual governo, mas tem a ver mais com a situação internacional”, avalia.
Segundo Schmidt, o Brasil nunca teve tantas instituições habilitadas para julgar e avaliar as políticas governamentais como temos hoje. O professor cita o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Polícia Federal que nunca estiveram tão “aparelhados e eficientes”.
“Estamos mudando de patamar, estamos em um sistema democrático mais hábil e capaz, porém as pessoas não estão entendendo essas mudanças. Não adianta trocar o presidente da República. Os líderes políticos devem pedir para que a paz seja mantida e não precisam entrar em provocações”, afirma.
Por Danielle Cambraia, da Agência PT de Notícias