Em São Paulo, triplica número de reclamações por falta d’água
O período de seca, a partir de agosto, deve agravar o problema nas periferias e regiões mais altas de São Paulo
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O número de reclamações por falta de fornecimento de água, em 13 das 15 regiões atendidas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), passou de 86.586, no primeiro semestre de 2014, para 140.752, nos primeiros seis meses de 2015.
Para o deputado estadual Ênio Tatto (PT), o fato reflete a falta de planejamento do governo do estado, comandado por Geraldo Alckmin (PSDB), e a consequente diminuição da pressão nas tubulações de água.
Em regiões como Santana e Freguesia do Ó, na zona norte, as reclamações dobraram, enquanto que na Sé, região central, mais que triplicaram. Durante reuniões com as comunidades de várias regiões da capital, como Campo Limpo, M’boi Mirim, Capela do Socorro, Grajaú, Parelheiros, Guianases, Cidade de Tiradentes, Pirituba, entre outras, a falta de água é percebida no dia a dia, quando as pessoas ficam até mais de 16 horas sem água, segundo o deputado.
“Normalmente, a empresa fornece de três a quatro horas de água, de forma reduzida, com pouca pressão. O problema é que grande parte da população não tem caixa d’água e as que têm, são caixas de pequena capacidade”, explica Tatto.
Não apenas a capital está sofrendo com o “rodízio de fornecimento de água não declarado pelo governo”, segundo o deputado. Em municípios onde há saneamento próprio, quem fornece a água é a Sabesp. Em Santo André e Guarulhos, por exemplo, cidades com mais de 700 mil e mais de um milhão de habitantes, respectivamente, não há rodízio, “a Sabesp simplesmente começa a vender menos água e os municípios não tem a quem recorrer”.
Negligência – A represa de Guarapiranga está com cerca de 80% de sua capacidade e os sistemas Cantareira e Alto Tietê, cada qual, com aproximadamente 20%. Segundo Tatto, o governo não fez as interligações necessárias dos sistemas em tempo hábil, e as providências tomadas até o momento não surtirão efeito em menos de dois ou três anos.
“Algumas obras começaram de forma emergencial, como a do rio São Lourenço, a da região do Alto Tietê, e na região da Cantareira, mas de forma bastante lenta, inclusive com dinheiro do governo federal”, explica o deputado.
Consumo de ar – A população reclama também de comprar água e pagar por consumo de ar. A redução da pressão de água nas tubulações não para o relógio do hidrômetro que registra a passagem de ar como se fosse de água. Em junho, o governador anunciou um aumento de 15,24% na conta de água.
“Além do aumento no valor da conta, no mês passado, ainda tem o problema do funcionamento do relógio. E é difícil de perceber esse problema porque não tem como aferir”, explica o deputado.
Sofrimento prolongado – Apesar de ter chovido em julho dentro do limite na maioria das regiões, cerca de 65 milímetros, os níveis do Cantareira e do Alto Tietê não apresentaram melhoras nos níveis de água. Ênio Tatto acredita que a população será ainda mais penalizada a partir de agosto, até outubro, durante o período da seca.
“A população vai sofrer bastante e o governo vai continuar negando que não vai ter problema com falta d’água, mas todos percebem que está faltando água há muito tempo, principalmente nas periferias e regiões mais altas, onde a água chega em baixa quantidade e com baixa pressão”, afirma.
Procurada pela reportagem, a Sabesp informou que o número de reclamações por falta d’água entre o primeiro semestre de 2014 e o primeiro semestre de 2015 corresponde a aproximadamente 2% dos clientes atendidos pela companhia. Segundo a empresa, foram 140.651 registros no período num universo de 6 milhões de ligações de água na Região Metropolitana de São Paulo.
Por Guilherme Ferreira, para a Agência PT de Notícias