Na Câmara, comissão externa quer investigar chacina em São Paulo
Deputados petistas pediram a criação da CPI para dar transparência ao caso e impedir que fique sem solução
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Os deputados Reginaldo Lopes (PT-MG) e Valmir Prascidelli (PT-SP) apresentaram um requerimento na última quarta-feira (19) para criar uma Comissão Externa para acompanhar as investigações da chacina que aconteceu em Barueri, Itapevi e Osasco, no estado de São Paulo, na noite do dia 13 de agosto, deixando 18 pessoas mortas e sete feridos.
A Corregedoria da Polícia Militar investiga 19 suspeitos de envolvimento nos assassinatos, entre eles dois cabos, cinco sargentos e 11 soldados. A suspeita é de que eles queriam vingar a morte de um colega na semana que antecedeu os crimes.
Segundo o deputado Reginaldo Lopes, a CPI da Violência contra Jovens Negros e Pobres já havia denunciado que a existência de um genocídio no Brasil e por trás dele, um racismo institucionalizado. Segundo o parlamentar, há várias chacinas no estado de São Paulo que não foram elucidadas.
“Nós temos que dar uma resposta imediata para a população e punir de maneira exemplar os responsáveis por esses crimes. A comissão externa vai ouvir os familiares, visitar os bairros onde ocorreram os crimes e ouvir os moradores, os comandantes da Polícia Militar, o Secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, e inclusive, o governador Geraldo Alckmin (PSDB)”, afirma.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou, na sexta-feira (21), os assassinatos e pediu para que o Estado prossiga com as investigações iniciadas, esclareça o ocorrido e identifique, processe e puna os responsáveis, além de adotar medidas para que esses fatos não se repitam.
Reginaldo Lopes afirma que a gravidade dos fatos faz com que haja a necessidade de apurar as reais motivações para os assassinatos, e para que as investigações e suas conclusões tenham um desfecho isento e transparente, é necessário o acompanhamento de deputados federais.
“Nós não podemos admitir que nenhum crime tenha o envolvimento de agente de estado que existe para garantir o direito do cidadão e não violá-lo. A sociedade quer passar a limpo essa história e precisa de uma resposta, precisa saber o que ocorreu, além das famílias que merecem justiça”, diz.
Em entrevista ao site “Vi o Mundo”, o sociólogo Sérgio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP) chama a atenção para a indignação seletiva da população brasileira e diz que se os crimes tivessem acontecido em alguma região nobre da cidade a comoção popular seria muito maior.
“Vivemos uma anestesia moral. Estamos anestesiados pela violência, e não nos permitimos nos preocupar com os outros, especialmente os mais vulneráveis. Não somos solidários com a morte dos outros, em especial dos jovens negros pobres da periferia”, explicou.
Para o sociólogo, essa chacina é fruto de disputas pelo controle de território e de negócios ilícitos e faz parte também de um “ciclo de vinganças”. Por exemplo, um policial é assassinado e a partir daí várias pessoas são executadas, muitas delas sem qualquer envolvimento com atividades criminosas.
“Aqui vale lembrar que mesmo que elas não fossem inocentes, deveriam estar sujeitas ao Estado de Direito, julgadas e processadas segundo as regras que prevalecem numa sociedade democrática”, afirmou.
“As chacinas têm um componente racial muito forte. A imensa maioria das vítimas é jovem, negra, pobre e moradora da periferia das regiões metropolitanas”, completou.
Por Danielle Cambraia, da Agência PT de Notícias