A vida pessoal de Fernando Henrique Cardoso não interessa a ninguém
Os indícios de mau uso do dinheiro público para fins particulares e relações suspeitas com a imprensa, porém, têm de ser explicados. Abaixo, sete perguntas que FHC ainda não esclareceu
Publicado em
Os acontecimentos relativos à vida pessoal do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) não interessam a ninguém. Desde a semana passada, a revelação de que FHC foi amante da jornalista Mirian Dutra Schmidt entre as décadas de 1980 e 1990 e ser pai de um de seus filhos está nos principais portais de notícias do Brasil. A questão pessoal do ex-presidente pouco importa. Mas, em todo esse imbróglio, apareceram indícios de mau uso de dinheiro público, relações escusas com diretores da Rede Globo e da revista Veja e acusações que também atingem o senador José Serra (PSDB-SP). Esses fatos, sim, são de interesse da população. Abaixo, listamos sete questões que necessitam de explicações de FHC.
1 – A empresa Brasif S.A. Exportação e Importação foi usada por Fernando Henrique Cardoso para enviar dinheiro para Mirian Dutra Schmidt e seu filho no exterior?
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Mirian afirma que a Brasif, uma empresa que explorava free shops em aeroportos brasileiros com sede nas Ilhas Cayman, foi usada por FHC para enviar recursos a ela e seu filho enquanto moravam no exterior. As transferências eram feitas por meio de um contrato fictício de trabalho, com duração de dezembro de 2002 a dezembro de 2006. Ela nunca trabalhou na função estipulada pelo contrato. O acordo teria sido mediado pelo lobista Fernando Lemos, então casado com a irmã da jornalista, Margrit Dutra Schmidt. Fernando Lemos foi conselheiro pessoal de FHC durante a corrida presidencial de 1993.
2 – Como FHC teve recursos para comprar, à vista, um apartamento de € 200 mil (cerca de R$ 870 mil) para o filho em Barcelona, além de pagar pelo menos U$ 60 mil ao ano (quase R$ 240 mil) para ele estudar em uma das melhores universidades norte-americanas?
A jornalista afirma que o tucano fez todos esses investimentos em favor do filho. O ex-presidente se aposentou em 1968, aos 37 anos, como professor da Universidade de São Paulo, e hoje recebe aposentadoria de cerca de R$ 22 mil. Também é aposentado como presidente da República, além de dar palestras. Ainda assim, os valores do apartamento e da anuidade universitária saltam aos olhos.
3 – FHC e o diretor de redação da Veja fizeram um acordo para enganar os leitores da revista sobre a paternidade da criança?
Uma reportagem publicada pela revista Veja em 1991, pouco antes de o filho de FHC nascer, atribui uma frase a Mirian: “O pai da criança, um biólogo brasileiro, viajou para a Inglaterra para fazer um curso e voltará para o Brasil na época do nascimento do bebê”. A jornalista, porém, afirma que a história foi inventada para despistar que a criança viria a ser herdeira do político. “Foi uma armação entre Fernando Henrique e Mário Sérgio”. Ela se refere a Mário Sérgio Conti, então diretor de redação da revista Veja, hoje apresentador da GloboNews. A pergunta é inevitável: FHC tinha influência editorial sobre a publicação da então revista mais respeitada do País? Questionado pelo DCM acerca do assunto, Conti se negou a dar qualquer declaração.
4 – Por que mesmo recebendo € 4 mil por mês (cerca de R$ 18 mil), a Globo não aproveitou nenhuma pauta de Mirian enquanto ela morava em Barcelona?
A jornalista afirma que, mesmo sob contrato com a Globo e morando em Barcelona, a emissora carioca não aprovou nenhuma de suas sugestões de reportagens durante anos. Ou seja, ganhava para não trabalhar, mesmo desejando produzir material para a emissora.
5 – Em troca do suposto favor a FHC, a Globo ganhou financiamentos a juros baixos do BNDES?
“Me manter longe do Brasil era um grande negócio para a Globo”, conta a ex-amante de FHC. Perguntada pelo DCM qual seria a vantagem da Globo com isso, afirma: “BNDES. Financiamentos a juro baixo, e não foram poucos”. Ela também diz acreditar, sem certeza, que o diretor de jornalismo da empresa na época, Alberico de Souza Cruz, teria ganho uma concessão da emissora em Minas Gerais durante o governo FHC por esse auxílio ao então presidente. “Será que foi retribuição pelo bem que fez ao Fernando Henrique por me ajudar a sair do Brasil?”, indaga.
6 – A irmã de Mirian teria um cargo de assessora do senador José Serra (PSDB), porém nunca apareceu para trabalhar. Isso é verdade?
De acordo com coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, Margrit Dutra Schmidt, irmã de Mirian, é funcionária fantasma no gabinete de José Serra, no Senado. Serra justificou que ela trabalha em casa, como consultora. Porém, o Senado proíbe esse tipo de função. Mirian conta que, apesar de ter um cargo mediano, a irmã possui um terreno em Trancoso (BA) que custa mais de R$ 1 milhão, apartamentos pelo Brasil, além de conta no exterior. De acordo com o blog Tijolaço, sua primeira nomeação a um cargo público foi feita por FHC em 1995, para o cargo em comissão de diretora do Departamento de Classificação Indicativa, no Ministério da Justiça. A assessora costumava publicar mensagens anti-PT e anti-corrupção em seu Facebook.
7 – FHC tem contas no exterior?
A jornalista diz que o ex-presidente tem contas em outros países. Ele confirma a informação. Mas, como ex-presidente, as explicações deveriam ser mais detalhadas. Quais são as contas que ele possui no exterior? Por qual motivo abriu essas contas?
Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias