“Ações sobre demarcações indígenas são racistas”, diz relatora da ONU
Relatora especial das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas criticou a decisão de Bolsonaro de transferir atribuições à pasta da Agricultura
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A decisão de Jair Bolsonaro de retirar da Funai a responsabilidade pela identificação, delimitação e demarcação de terras indígenas e quilombolas no país e transferir para o Ministério da Agricultura, comandado pela líder ruralista Teresa Cristina, é um “enorme retrocesso” de acordo com a relatora especial da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, segundo noticiou a DW Brasil.
A decisão é parte da medida provisória publicada no dia seguinte a posse de Bolsonaro. O presidente falou em seu twitter sobre o assunto e afirmou haver necessidade de “integrar” os indígenas à sociedade brasileira e que “menos de um milhão de pessoas vivem nesses lugares isolados do Brasil, exploradas e manipuladas por ONGs”.
Para Tauli-Corpuz, as declarações de Bolsonaro são racistas e discriminatórias. Ela afirmou em entrevista à DW que “entrar em territórios onde indígenas vivem em isolamento voluntário pode levar ao desaparecimento ou ao genocídio desses povos”.
A ativista também explica que isso pode afetar a Floresta Amazônica.”Como a Amazônia está entre as áreas com potencial para a expansão agrícola, essa medida significará um aumento não só do desmatamento, mas também do deslocamento dos povos indígenas da Amazônia e das violações dos seus direitos. Isso também vai significar uma redução da capacidade de mitigação da Amazônia contra as mudanças climáticas”.
“Os povos indígenas não têm direitos especiais. São direitos garantidos, precisamente, devido à história de marginalização, discriminação e colonização que eles sofreram. Não é nada especial. Estamos apenas fazendo o que é socialmente justo. Eu não compro o argumento de que os indígenas têm direitos especiais, afinal eles são os que sempre estiveram no território brasileiro. Portanto, eles devem ter a possibilidade de continuar a viver nas terras demarcadas e praticar suas culturas”, finalizou Victoria.
Leia aqui a entrevista na íntegra
Da Redação da Agência PT de Notícias com informações da DW Brasil