Aécio Neves, o falso policial civil que nunca fez a própria cama
As peripécias do menino rico que prega os bons modos e a meritocracia, mas que se fingia de policial e vivia num Brasil particular onde as mulheres tinham “vida fácil”
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A história de Aécio Neves em dois tempos.
Primeiro, para ficar no conceito da neoaliada Marina da Silva, usava um artifício próprio da “velha política” – o uso da “carteirada” para mostrar poder em situações corriqueiras.
Depois, o charme pequeno burguês de não arrumar a própria cama, uma obrigação comum aos que, ao contrário do candidato do PSDB, não nasceram em berço de ouro. Como Marina.
De acordo com reportagens do jornalista Paulo Moreira Leite, no site “Brasil 247“, e do “Viomundo“, veiculadas nos últimos dois dias, Aécio passou a juventude como um príncipe da República. A convivas americanos, admitiu: “nunca fiz minha própria cama”. Ao mesmo tempo, mantinha na carteira uma identificação para atuar como policial civil do estado de Minas Gerais – mesmo sem ter jamais pisado numa delegacia para dar expediente.
Aécio obteve a carteira de policial aos 23 anos, quando o avô Tancredo Neves governava Minas Gerais. O rastro da utilização do documento como identidade ele deixou no Conselho Regional Economia do estado (Corecon-MG), onde uma cópia do original permanece arquivada.
De acordo com Rodrigo Lopes, repórter do “Viomundo”, Aécio aproveitou da influência do clã familiar para obter a carteira de polícia de número 8.248, emitida em 19 de abril de 1983 pela Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais. O documento, explica o jornalista, assegurava ao portador poderes de polícia.
Registro profissional – O então aspirante a economista utilizou o documento para obter o registro profissional no órgão representativo da categoria, em vez da identidade civil convencional.
Antes, relata Lopes, Aécio exerceu o cargo de secretário de gabinete parlamentar da Câmara dos Deputados, dos 17 aos 21 anos, entre 1977 e 1981, no gabinete do pai, deputado federal Aécio Ferreira da Cunha, da Arena, partido que sustentava a ditadura militar. Entende-se, portanto, porque o tucano chama o golpe de 1964 de “revolução”.
A residência de Aécio era no Rio, apesar de o gabinete do pai, na Câmara, ficar em Brasília – algo permitido, à época. Depois, deixou o cargo para trabalhar na campanha de Tancredo Neves ao governo de Minas Gerais, em 1983, quando foi nomeado secretário particular do avô.
Com a morte de Tancredo, Aécio foi nomeado, aos 25 anos, titular de uma diretoria na Caixa Econômica Federal pelo então ministro da Fazenda, Francisco Dornelles, primo dele e sobrinho de Tancredo. José Sarney assumiu a presidência e outorgou a Aécio uma concessão pública de emissora de rádio em Minas Gerais.
Na cama com Aécio – Um jornal do estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos, registrou a insólita presença de um garoto brasileiro no lugarejo denominado Midlebush, em 1977, segundo conta o jornalista Paulo Moreira Leite. Era Aécio Neves, de passagem pelos EUA para cumprir um intercâmbio escolar.
Em um período de férias, o brasileiro estava numa estação de esqui quando conheceu um rapaz da mesma idade, Glenn Davis. Juntos, foram passar um fim de semana na casa dos pais no novo amigo, Pat e Roger Davis, no lugarejo – hoje com cerca de dois mil habitantes e cerca de 800 casas.
“Com direito a foto e tudo”, conta Moreira Leita, Aécio foi parar nas páginas do FranklinNews-Record, pequeno jornal da região, que na edição de 24 de fevereiro de 1977 publicou uma pequena reportagem a respeito do jovem estudante de Minas Gerais.
O autor, o repórter Bob Bradis, perguntou sobre música/rock (Led Zeppelin, The Who, Crosby, Stills, Nash and Young e Bob Dylan eram seus favoritos), preferências na televisão (os seriados Kojak e Waltons, de muita audiência na ocasião), esportes favoritos (futebol e vôlei) e carros (Aécio gostava do “confortável” Puma nacional, apesar de ter apenas 17 anos).
Bradis também quis saber sobre os costumes da vida social brasileira e Aécio não se furtou a avaliar a condição feminina no Brasil como “muito fácil”. Bradis reproduziu na reportagem as palavras do estudante mineiro, segundo as quais “as mulheres brasileiras não tem necessidade financeira de trabalhar e podem passar a maior parte de seu tempo na praia ou fazendo compras”.
Além disso, explicou o jovem bem nascido, a vida no Brasil tinha outras regalias. “Todo mundo tem uma empregada ou duas; uma para cozinhar, outra para limpar”, afirmou, para então disparar um exemplo pessoal sobre a vida no paraíso: “Eu nunca fiz minha própria cama”.
Aécio lamentou ao jornalista estar ausente do Brasil em pleno carnaval, época em que “todos dançam nas ruas, comem, bebem até altas horas e vão para casa dar um mergulho, para aí retornar para mais festas”. E foi além: “Essa é a única época em que a classe baixa e a classe alta se reúnem”.
Por Márcio Morais, da Agência PT de Notícias com “Brasil 247” e “Viomundo“