‘Apagão’ da Enel em SP expõe privatização e empresa vira alvo do MP e CPI
Segundo dados publicados pela CNN e UOL, a Enel cortou 36% de seus funcionários em São Paulo de 2019 a setembro deste ano
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O temporal da última sexta-feira (3) que atingiu várias cidades do Estado de São Paulo, afetando principalmente a capital, mostrou como a combinação de desastres naturais e privatização de áreas estratégicas pode ser prejudicial para a população. As fortes chuvas causaram a morte de sete pessoas nas cidades de São Paulo, Ilhabela, Osasco, Santo André, Suzano e Limeira, das quais quatro foram atingidas por quedas de árvores.
Ao todo, cerca de 2,1 milhões de imóveis do Estado ficaram sem luz na sexta-feira (3). Três dias depois, cerca de 800 mil imóveis da Capital e outras regiões ainda permanecem sem energia elétrica. O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) vai abrir ação ainda nesta semana para investigar suposta omissão da Enel no restabelecimento da energia elétrica para consumidores da região metropolitana do estado.
A concessionária, que já é alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa de São Paulo, poderá ser investigada também pela Câmara Municipal de SP. A vereadora Luna Zarattini (PT-SP) apresentou requerimento solicitando a instalação de uma CPI para investigar a Enel por apagão no atendimento a consumidores que entraram no quatro dia sem energia elétrica.
Nesta segunda-feira (6), só na capital, 12 escolas municipais não abriram e cerca de 413 mil imóveis permanecem sem energia elétrica. O ministro da Justiça, Flávio Dino, informou que o governo federal também cobrará explicação da Enel. A Secretaria Nacional do Consumidor notificará a concessionária para dar esclarecimentos pelo apagão.
O deputado estadual e vice-presidente da CPI da Enel na Alesp, Luiz Fernando, afirmou ser revoltante a situação a que os consumidores de São Paulo estão sendo submetidos desde a última sexta-feira (3).
“Entrei com uma representação no Ministério Público. A Enel precisa ser responsabilizada por um serviço péssimo e demorado. Não tenham dúvidas que a CPI que está em andamento na Assembleia Legislativa está trabalhando arduamente para investigar as falhas frequentes. Fica claro que terceirizar serviços essenciais não é o caminho, como pretende o governador fazer com a Sabesp, Metrô e CPTM”, afirmou Luiz Fernando.
Segundo o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT-SP), líder da bancada da Federação PT/PCdoB/PV na Assembleia Legislativa de São Paulo, “é incrível a Enel querer culpar o evento climático extremo por um apagão absurdo que já dura mais de três dias em bairros de São Paulo”.
O deputado afirmou que a precariedade do atendimento é resultado do desmonte da empresa desde a privatização, quando a Enel adquiriu 73% das ações da Eletropaulo em 2018. “A falta de equipes de rua para atendimento de emergências e a dificuldade de comunicação com a empresa são frutos de uma política decorrente da privatização: cortar custos, reduzir mão de obra e fechar posto de atendimento físico.”
Fiorilo alerta para os riscos a que a população de São Paulo estará exposta caso o governador Tarcísio de Freitas consiga privatizar a Sabesp. “Energia e a água são bens essenciais à sobrevivência. Vamos exigir explicações da empresa na CPI, mas também é necessário que a agência reguladora estadual Arsesp detalhe seu papel de fiscalizar e que medidas serão adotadas diante dos prejuízos à população”, explica o deputado.
A Enel tem sido alvo de constantes críticas e pedidos de investigação no Estado São Paulo, onde atende a cerca de 2,1 milhões de clientes, por praticar preços altos e demora e qualidade de atendimento.
Hoje, ela fornece eletricidade para a capital e outros 23 municípios da região metropolitana de São Paulo. A empresa diz que a redução do quadro de funcionários não afetou o atendimento à população e que o fornecimento só deve ser normalizado nesta terça-feira (7).
A empresa publicou um comunicado prévio no acesso a seu site sobre a situação do fornecimento de energia após as chuvas. “Atenção, São Paulo! Informamos que restabelecemos a energia para 76% dos clientes que tiveram o fornecimento impactado após o forte vendaval que atingiu nossa área de concessão, na última sexta-feira (3). A tempestade foi a mais forte dos últimos anos e provocou danos severos na rede de distribuição. Nossos esforços estão concentrados em reconstruir os trechos destruídos e normalizar o cenário.”
Segundo dados publicados pela CNN e UOL, a Enel cortou 36% de seus “colaboradores” em São Paulo de 2019 a setembro deste ano, de acordo com relatórios trimestrais divulgados pela própria empresa. Em quase quatro anos, esse número caiu de 23.385 para 15.366.
No fim de 2019, a empresa contava com 6.468 funcionários próprios e no mês de setembro deste ano, 3.863. Os terceirizados foram reduzidos de 17.367 para 11.503 no período. Em contrapartida, houve aumento de 7% do número de consumidores, chegando aos atuais 7,85 milhões de imóveis atendidos pela Enel na grande São Paulo.
“Milhões de paulistanos e paulistanas acabaram de entrar no quarto dia sem energia e estão sofrendo um prejuízo imenso. Comidas estragadas, impossibilidade de trabalhar em home office, falta de água por impossibilidade de bombear. Pessoas em condições de saúde que necessitam de aparelhos elétricos tiveram suas vidas colocadas em risco. É uma situação de calamidade”, publicou a vereadora Luna Zarattini (PT-SP).
Da Redação