Artigo: Representatividade, pluralidade e raízes no Carnaval, por Anne Moura
A história do Brasil sendo contada pelas verdadeiras protagonistas, escreve Moura
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Foi com muita emoção que assisti aos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, durante esta importante festa popular que preserva as raízes culturais e conta a nossa história, que é o Carnaval. Este ano, foi impossível não comentar e celebrar o protagonismo da mulher negra nas histórias contadas na Sapucaí.
A Portela veio para o Carnaval de 2024 com o enredo “Um Defeito de Cor”, inspirado no romance homônimo da escritora Ana Maria Gonçalves. O enredo portelense ofereceu ao público uma outra perspectiva da história, refazendo os caminhos imaginados de Luisa Mahim, mãe de Luiz Gama, que perdeu o contato com seu filho, algo comum em uma sociedade em que, para sobreviver, muitas mulheres deixam seus filhos em casa para cuidar da casa e dos filhos e de outras famílias, geralmente brancas e privilegiadas. Essa é uma realidade marcante em nosso cotidiano.
A homenagem da Mangueira a Alcione emocionou a Sapucaí. Como não falar da incrível história da “Marrom”, que venceu preconceitos e ocupou seu lugar a partir do seu dom, abrindo portas para muitas de nós. Quem nunca se arrepiou ao ouvir canções entoadas pela Loba?
Não poderia deixar de registar a Unidos da Viradouro, que trouxe para a avenida o enredo “Arroboboi, Dangbé”, sobre a energia do culto ao vodun serpente. Conta a história que a força da serpente mítica se manifestou desde épicas batalhas na Costa Ocidental da África, e que influenciou as lutas das guerreiras Mino, do reino de Daomé, iniciadas espiritualmente pelas sacerdotisas voduns, dinastia de mulheres escolhidas por Dangbé.
Em um país que, infelizmente, conta com tantos casos de intolerância religiosa, é muito importante ver a cultura africana sendo valorizada e reconhecida, em um verdadeiro espetáculo.
E deixo minha admiração pela performance da Comissão de Frente do Salgueiro, que levou para a avenida a luta pela sobrevivência do povo da floresta: “Ya Nomaimi! Ya Temi Xoa! (Eu não morro! Ainda estou vivo!)”contra o trágico Marco Temporal.
É incrível ver a arte retratando a vida, as mulheres negras, os povos, as nossas raízes. Temos que exaltar a ancestralidade brasileira vencendo e avançando por meio da cultura!
Anne Moura é secretária Nacional de Mulheres do PT