Bancada do PT sugere ao Governo revisão da tabela do IR para justiça tributária no Brasil

Petistas entregaram ao ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, propostas para diminuição da carga tributária do setor produtivo e ampliação das faixas de isenção do imposto de renda para a classe média e os trabalhadores

O ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, recebeu nesta quarta-feira (28) um conjunto de propostas elaborado pela Bancada do PT na Câmara para a retomada do desenvolvimento econômico com justiça social. A Bancada propôs, entre outras medidas, a diminuição da carga tributária do setor produtivo e a ampliação das faixas de isenção do imposto de renda para a classe média e os trabalhadores.

No caso do IR, a sugestão é de que a faixa de isenção seja ampliada para o salário mínimo do Dieese, que é de R$ 3.390,00, em valores de hoje. Propõe-se a redefinição e a redistribuição das alíquotas e faixas de renda. A proposta em discussão, portanto, reduziria a carga tributária do imposto de renda sobre os setores da classe média.

As alíquotas seriam oito, de 0% a 40%. De R$ 3.390,00 a R$ 6.780,00, a alíquota seria de 5%; até R$ 10.170,00, 10%; até R13.560,00 , 15%. Dessa faixa até R$27.120,00, a alíquota seria de 20%; desse patamar até R$54.240,00 a alíquota seria de 25%. Já para a faixa até R$ 108.480,00, a alíquota seria de 30% e a partir desse valor, 40%.

O documento foi entregue ao ministro, durante reunião no Palácio no Planalto, pelo líder do PT, Sibá Machado (AC), juntamente com deputados que integram uma comissão criada para consolidar as sugestões: Afonso Florence (PT-BA), José Mentor (PT-SP), Paulo Teixeira (PT-SP) e Vicente Cândido (PT-SP). De parte da reunião participaram também o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e o líder do Governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

Segundo o líder Sibá Machado, a mudança da tabela do Imposto de Renda é um dos eixos centrais para garantir mais justiça fiscal. Conforme dados do IPEA, a partir das informações consolidadas da declaração de IRPF, divulgadas pela Receita Federal, 71.440 contribuintes têm renda mensal superior a 160 salários mínimos , totalizando R$ 289 bilhões /ano. Eles têm um patrimônio avaliado em R$ 1,2 trilhão (ano base 2013).

“Essa camada da ultra elite econômica representa 0,3% do total do universo de contribuintes que declaram o IR, e 0,05% da população ativa do Brasil”, informou o líder.

Conforme Vicente Cândido, o setor privilegiado do conjunto dos contribuintes tem apenas 34,2% de sua renda tributada pelo IR. “Significa que pagam, em média, 2,6% de imposto em relação a sua renda total, daí a necessidade de rever a tabela do imposto de renda para que haja, de fato, justiça tributária no Brasil”, comentou o parlamentar. Ele observou que é necessário, igualmente, pôr fim à isenção de distribuição de lucros e dividendos e juros sobre capital.

Sibá Machado disse que as propostas da bancada nas áreas tributária e não tributária , podem assegurar uma arrecadação de R$ 70 bilhões anuais, ao taxar setores privilegiados da sociedade que hoje gozam de isenções que, em alguns casos, são únicas no mundo. “ As sugestões destinam-se a fortalecer a economia no curto, médio e longo prazos, assegurando estabilidade macroeconômica e condições para o crescimento da produção e a geração de emprego e renda”.

Sociedade – As propostas da Bancada serão apresentadas também aos partidos da base aliada e a diferentes setores da sociedade, como entidades sindicais, empresariais e acadêmicas. O desafio é taxar os setores privilegiados da sociedade e aliviar o setor produtivo e a classe média e os trabalhadores, sobre os quais recaem o maior peso dos impostos. “É preciso manter a integralidade dos direitos dos assalariados e implementar uma política desenvolvimentista com mais justiça social’’, comentou o líder da Bancada.

Segundo Vicente Cândido, as propostas da Bancada asseguram condições de crescimento sustentável do País na ordem de 3% a 4% ano, a partir de 2018.

Além da revisão da tabela do Imposto de Renda, a bancada propõe outras medidas, algumas delas já em análise no Congresso Nacional, como o projeto de lei 2960/15, de autoria do Poder Executivo, referente à repatriação de capital depositado ilegalmente no exterior. Essa medida poderá garantir arrecadação, no ano que vem, de cerca de R$ 30 bilhões, conforme estimativa do governo.

Remessa de lucros – Outra medida é a taxação das remessas de lucros e dividendos para o exterior. O Brasil é um dos poucos países do mundo onde existe isenção nesta área; só em 2013 foram enviados ao exterior US$ 30,6 bilhões como lucro e dividendo, sem nenhum centavo de imposto.

A Bancada defende também a atualização da legislação relacionada a acordos de leniência, tema em tramitação na Câmara dos Deputados. A ideia, segundo Vicente Cândido, é dotar o País de uma legislação moderna, com base nas melhores experiências internacionais. Um dos focos é preservar a atividade econômica das empresas envolvidas em irregularidades, de modo que possam funcionar desde que paguem o que devem ao Estado e seus executivos sejam, eventualmente, responsabilizados.

A Bancada estuda também medidas de reforço do relacionamento econômico e comercial com países como a China. Esse país, segundo Vicente Cândido, está disposto a emprestar de R$ 30 a R$ 40 bilhões/ano como capital de giro para empresas brasileiras, aceitando o pagamento em mercadorias.

Outros temas da agenda: tributação das grandes fortunas, o imposto sobre grandes heranças e doações, a recriação da CPMF, o aperfeiçoamento dos mecanismos de cobrança de dívida ativa da União, taxação de bens de luxo (como jatinhos e iates) etc.

Confira o documento, na íntegra.

Do PT na Câmara

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