“Brasil é a espinha dorsal da região”, diz Mujica
Brasília – Em visita de trabalho ao Brasil, o presidente do Uruguai, Pepe Mujica, se reuniu com a presidenta Dilma Rousseff por mais de três horas, nesta sexta (7),…
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Brasília – Em visita de trabalho ao Brasil, o presidente do Uruguai, Pepe Mujica, se reuniu com a presidenta Dilma Rousseff por mais de três horas, nesta sexta (7), no Palácio do Planalto, em Brasília. Na pauta, temas como as relações bilaterais entre os países; os projetos comuns nas áreas de energia, infraestrutura e integração produtiva; e, principalmente, o futuro do Mercosul. “Falamos de política, porque somos seres políticos”, afirmou.
Em final de mandato, Mujica repassará o cargo ao sucessor que será escolhido no próximo dia 30. E ao que tudo indica, quer deixar a casa em ordem. Desde que a política externa brasileira se tornou um dos temas que mais polarizaram direita e esquerda na campanha eleitoral deste ano no Brasil, ele já vinha demonstrando preocupação com o futuro dos blocos Sul-Sul, incluindo o Mercosul.
É claro que o presidente uruguaio reconhece que a vitória da presidenta Dilma fortalece as parcerias entre países. Mas também sabe que a direita não irá refrescar as pressões para que a política externa brasileira se volte apenas para os grandes. De acordo com ele, a concertação política da região nunca será concluída. “É uma longa luta, porque nós passamos séculos sem olhar para nós, olhando para a Europa e para os EUA. Transformar essa cultura não é fácil.”
Mujica ressaltou a importância a responsabilidade do Brasil para com os demais países da região. “O Brasil é a espinha dorsal e precisa se dar conta da responsabilidade que tem. O desenvolvimento está vindo tarde para nós. Há outros países grandes neste mundo que se juntam para poder negociar. Por isso, o Brasil tem que se juntar aos pequenos e médios. Se não, não teremos força”, defendeu.”O Brasil é enorme para nós, para os pequenos da América”, acrescentou.
E, questionado pelos jornalistas se estaria preocupado com os “problemas da economia brasileira”, não perdeu a chance de alfinetar os veículos de comunicação da América Latina que, uníssonos, atentam contra os governos de esquerda da América Latina, inclusive o dele. “Estamos acostumados a ler muitas publicações da América Latina, que sempre fazem prognósticos de que tudo vai desmoronar. Mas as publicações dizem isso e nós continuamos a ganhar as eleições”, provocou.
Mujica também falou sobre as parcerias para melhorar a infraestrutura da região. Como exemplo, citou a necessidade da construção de um porto no Rio da Prata que, segundo ele, “está se transformando em um congestionamento de barcos”.
Visivelmente bem humorada e satisfeita com a visita, a presidenta Dilma disse que o encontro foi muito produtivo. “Conseguimos uma integração energética que estava há muito tempo sendo buscada, baseada não só na interconexão de transmissão, mas também em projetos conjuntos feitos com a Eletrobrás e a empresa uruguaia. Isso significa que, quando sobrar energia lá, eles vendem para nós. Quando sobrar aqui, nós vendemos para eles. Aquele que tiver menor preço tem prioridade”, disse ela.
A presidenta também sinalizou irá manter o papel estratégico do Brasil na constituição dos blocos Sul-Sul. “Acredito que construímos um relacionamento baseado na compreensão da importância que eu acho que o Brasil tem na região”, afirmou. Dilma citou o próprio Mujica para defender a posição conjunta. “Tem uma frase fantástica do Dom Pepe, que ele dizia sempre antes de começarmos as reuniões: ‘Nem o Brasil tem culpa de ser tão grande e nem o Uruguai de ser tão pequeno’. Um processo de integração é justamente sermos capazes de olhamos os interesses da região, porque essa região do mundo em que nos localizamos tem hoje um mercado que eu considero muito significativo. Esse mercado é o que nós temos que ajudar a se expandir”, concluiu.
A presidenta também citou os esforços dos países da região para equacionar o problema da desigualdade social, garantindo que o crescimento signifique mais qualidade de vida para toda a população. “Todas as economias da região, e principalmente sociedades da região, procuraram formas de equacionar o problema secular da desigualdade. Portanto, muitas pessoas, muitos latino-americanos foram levados a ser consumidores e isso significou e vai significar um grande mercado”, explicou.