Categorias em campanha neste semestre anunciam mais greves

Petroleiros acreditam em paralisação por tempo indeterminado contra venda de ativos da Petrobrás e pela retomada de obras

O pacote fiscal anunciado ontem pelo governo federal, embora tenha sido determinante para o tom da manifestação realizada na manhã desta terça-feira, não foi o único tema a ser tratado.

A direção eleita para o mandato 2015-2019 da CUT-SP fez sua cerimônia de posse ali mesmo, durante a manifestação. E como previsto, as categorias que têm data-base no segundo semestre fizeram o lançamento unificado de suas campanhas salariais.

Os petroleiros continuam realizando assembleias por todo o país, mas sua campanha salarial continua num impasse. Cibele Vieira, dirigente do Sindpetro-SP, prevê uma greve geral da categoria por tempo indeterminado. “Caminhamos para uma mobilização semelhante à de 1995”, afirmou, em referência à paralisação dos petroleiros contra a privatização da empresa, durante o primeiro mandato de FHC.

Neste ano, os trabalhadores da Petrobrás decidiram não apresentar reivindicações salariais, e concentram sua campanha em propostas de fortalecimento da empresa e proteção dos empregos. A categoria cobra a conclusão de obras já iniciadas – como o Comperj, a refinaria Abreu e Lima e a fábrica de fertilizantes em Mato Grosso – e a retomada dos investimentos. Outro ponto importante da campanha é que a Petrobrás não venda parte de seus investimentos à iniciativa privada.

“A empresa anunciou que pretende vender R$ 57 bilhões em ativos. Isso representa 30% de seu valor total”, destaca Cibele. “Isso inclui até dutos de distribuição, que se forem vendidos, a Petrobrás deverá pagar depois pelo seu uso”, denunciou. “Já tentamos de tudo. Entregamos nossa pauta para a Secretaria Geral da Presidência, para a própria Dilma, para a direção da empresa, e nada”, explica a dirigente.

Agências fechadas

No setor financeiro, as negociações estão em curso. Ainda nesta terça, ocorre a quarta rodada. Nela, a Contraf-CUT e seus sindicatos, incluindo o dos Bancários de São Paulo, vão apresentar propostas para diminuir a pressão por metas de produção. “Queremos que o sistema de metas seja discutido com os trabalhadores, região por região, para que a realidade do cotidiano seja considerada, o que não ocorre hoje, com as metas sendo impostas de cima para baixo”, explica Ivone Maria da Silva, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo.Rafael (esq.), João Cayres, secretário-geral da CUT-SP, Douglas (ao microfone) e Vagner. Foto: Dino SantosRafael (esq.), João Cayres, secretário-geral da CUT-SP, Douglas (ao microfone) e Vagner. Foto: Dino Santos

Os trabalhadores e trabalhadoras do sistema financeiro têm campanha de abrangência nacional. A campanha salarial reivindica 16% de aumento, vale-refeição com valor equivalente ao salário-mínimo e abertura de novos postos de trabalho, entre outros pontos. Durante a manifestação desta terça-feira, as agências localizadas na avenida Paulista ficaram fechadas até meio dia, assim como agências na região central da cidade. A greve, informa a Contraf-CUT, está em perspectiva.

A presidenta do Sindicato, Juvândia Moreira Leite, lembrou aos manifestantes que os bancos ganham muito dinheiro, de múltiplas formas. “Até quando nós passamos nosso cartão naquelas maquininhas que existem no comércio, eles cobram taxa. E não querem dar aumento salarial para seus trabalhadores e não contribuem com o desenvolvimento do País”, criticou.

Servidores sem resposta

O presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, declarou que a manifestação demonstra que existe unidade das categorias representadas pela CUT para resistir ao discurso da crise como justificativa para não conceder reajustes. “Estamos aqui para dar um recado para os patrões e para os governos: os trabalhadores e trabalhadoras não vão pagar por nenhum tipo de crise”.

Douglas é professor da rede pública estadual paulista. Sua categoria fez greve de 92 dias no primeiro semestre, mas até o momento o governo não concluiu as negociações. Deveria ter havido um reajuste em julho, mas o governador Geraldo Alckmin não cumpriu sua parte. Douglas criticou o adiamento do reajuste aos federais anunciado ontem pelo governo Dilma, e ainda ponderou: “Não é com essa medida que vai se resolver o problema financeiro do Estado”.

Na Ford, contra as demissões

A greve na Ford do ABC, iniciada no último dia 10 por causa de 200 demissões, é a parte mais visível da campanha dos metalúrgicos do Estado de São Paulo. As negociações estão duras em todo o setor. As fabricantes de máquinas e equipamentos, por exemplo, até o momento oferecem índice de reajuste inferior a 8,99%, que é o índice de inflação dos últimos 12 meses.

“As negociações estão muito duras. Os patrões estão se aproveitando e querendo tirar cláusulas fundamentais da convenção coletiva, como a garantia de emprego ao acidentado em caso de doença profissional. A pauta econômica não anda em nenhum grupo patronal. Em outros anos, nessa mesma data, nós já teríamos acordos acertados e algumas greves em grupos mais resistentes às negociações. Em 2015, está tudo atrasado”, informa Rafael Marques, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Mas ele avisa: “A partir de agora, se não houver proposta, vamos endurecer com os patrões. Eles fizeram ajustes, há fábricas que demitiram  muito e, como estão enxutas, não aguentam três dias de greve”.

Na mesma linha segue o coordenador-geral do Sindicato dos Químicos de São Paulo, Osvaldo Bezerra, o Pipoca. “A perspectiva da nossa campanha salarial é contribuir para o destravamento da crise econômica, o que só é possível recuperando o poder de compra defasado nos últimos 12 meses e lutando por aumento real porque os salários são historicamente baixos no Brasil. Não dá para baixar a cabeça e aceitar essa leitura de que está tudo muito ruim. Não vamos reduzir a discussão sobre a campanha salarial em função da crise”.

Ana Lucia Firmino, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-SP e dirigente do Sindicato dos Enfermeiros de São Paulo, informa que, além de cláusulas econômicas, como piso de R$ 4.440, a categoria requisita licença-maternidade de 180 dias.  “Para nossa categoria, formada quase 90% por mulheres, o item mais importante ainda é a discussão sobre a licença de maternidade de 180 dias, pois muitas empresas não cumprem a legislação. Não só os enfermeiros, mas todos os trabalhadores da seguridade social, como médicos, psicólogos e farmacêuticos”, diz.

Os enfermeiros querem também aumento do adicional noturno, como forma de poderem prover cuidado para os filhos pequenos quando as mães fazem plantões nos hospitais e postos de saúde.

PT Cast