Covid leva Ubirany Félix, importante personagem do samba
A Covid-19 levou Ubirany Félix do Nascimento, fundador do bloco Cacique de Ramos e do grupo Fundo de Quintal, inventor de um instrumento que mudou a cara do samba, o repique de mão, artista negro central na renovação do samba nos anos 80.
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Leia abaixo a nota escrita pelo cantor e compositor Rodrigo Carvalho, o Biro:
Nossas raízes estão enfraquecidas
A poda da árvore é a renovação da sua própria vida. Realimentar, progredir, transgredir. A partir daí, floresce Nova Morada. As folhas, meras comunicadoras, buscam a Divina Luz, o alimento coercitivo. Transportam pelos galhos, junções, e o caule. A água, alimento fundamental, encharca o solo, no antepassado enterrado no escuro do conhecimento. É a Raíz, nome pulverizado sem o devido sentimento, quem mantém todo o sistema de pé, para que, e somente assim, a vida prossiga.
Perto de tudo ali no subúrbio, o fundamento do samba está fincado em raiz profunda e verdadeira. Pois a verdade não morre! No patuá, o Nascimento oferece caminhos, estradas de sair por aí, cantando a alegria de existir. Nesse presente, o mais importante é a fé! Pois bem diz o Cacique: “quem pisar ali com firmeza e tiver o dom, vai prosperar”.
E foram muitos foram buscar esse axé em 60 anos de história. O samba prosperou, e o novo se tornou referência para abrir os caminhos da molecada: é Falange de Erê, brincando de quarta-feira.
Hoje, quem toma o machado de frente, são os seguidores dessa estirpe chamada samba. Chora! Hoje é dia de chorar o dia inteiro! Partiu a oló o bamba do riscado, da elegância, do sapato, chinelo e tamanco, do linho de São Cristóvão, do copo baixo… o barítono que não assusta ninguém. Hoje é dia de repicar as lembranças do ensinamento que Rompe Mato.
Estamos aqui a exaltar Ubirany Félix do Nascimento. Eu não queria estar sentado nessa cadeira escrevendo isso… que um pilar se quebrou lá no Fundo. Pois passei toda a vida apoiado naquilo que me sustenta. No meu egoísmo, ignorância e ingenuidade, é doloroso demais reconhecer que tudo passa. Mas fechar o livro se faz necessário para seguir. Vá em paz, meu Chapinha! Orun te recebe em avenida aberta. Vá em paz!
Biro, sambista carioca