Greenhalgh: “Lula é refém dos que tomaram o poder de assalto”

Por Javier Larraín / Fotografia: Rovena Rosa, Agência Brasil

(English below)

Há exatamente um ano, em decorrência da tão falada operação Lava Jato, o ex-presidente brasileiro e líder histórico do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, foi condenado a 12 anos e um mês de prisão por supostos crimes de “corrupção”. A notícia deu a volta ao mundo e não deixou ninguém indiferente, ao mesmo tempo em que a Justiça brasileira, com uma premência inusitada e falta de toda prova, procedeu recentemente a condená-lo a outros 12 anos, em função de crimes de “lavagem de dinheiro e corrupção”.

Paralelamente, no dia 23 de fevereiro fez-se pública a candidatura de Lula ao Premio Nobel da Paz 2019, promovida pelo também galardoado Adolfo Pérez Esquivel. No momento da publicação desta entrevista, as e os apoiadores do ex-presidente inauguram, no Brasil e no mundo, a “Jornada Mundial de Solidariedade com Lula”.

Com o objetivo de desentranhar os meandros do corrupto sistema judicial brasileiro, a enxurrada de irregularidades cometidas por um sem-fim de magistrados para condenar a Lula, a tenaz perseguição contra ele por parte dos meios de comunicação, assim como da urgente tarefa da esquerda e do progressismo global na luta pela sua libertação, Correo del Alba procurou Luiz Eduardo Greenhalgh, um dos advogados de Lula, quem, apesar de se encontrar ocupado com os processos em curso, reservou um valioso tempo para esclarecer as verdades do caso.

Gostaria de começar pedindo que nos diga qual é a atual condição legal de Lula.

Já faz quase um ano que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está encarcerado em Curitiba, condenado a mais de 12 anos de prisão, em um processo sem provas, levado adiante com o único e indiscutível objetivo de impedir sua candidatura á presidência da República.

O senhor pode nos contar sobre as irregularidades vividas antes, durante e depois do primeiro processo judicial contra Lula?

O processo, verdadeira farsa judicial, foi montado com a finalidade que mencionei. Claro, a denúncia é que ele teria recebido de uma empreiteira um apartamento tríplex no Guarujá, em virtude da celebração de três contratos da empreiteira com a Petrobras. No entanto, o que se evidenciou nos autos judiciais foi que os três contratos não contaram com participação alguma de Lula e que o apartamento nunca esteve em seu nome. Para cúmulo, a construtora chegou a usar o imóvel como garantia de um empréstimo bancário em benefício próprio. Inclusive foi utilizado um delator que, após dois depoimentos sem atribuir nenhum ilícito a Lula, em seu terceiro comparecimento disse que o imóvel “seria destinado a Lula”.

A que o senhor atribui essa virada do depoente?

A mudança de versão ocorreu porque essa testemunha foi condenada a 25 anos de reclusão por outro processo e, após o depoimento em que mencionou Lula, sua pena foi reduzida a apenas três anos, com direito à prisão domiciliar.

Em consequência, como não foi encontrado nada contra Lula, o então juiz Sérgio Moro – atual ministro da Justiça de Jair Bolsonaro – disse que o ex-presidente estava sendo condenado a nove anos de prisão “por atos indeterminados”.

Por que as instâncias superiores da Justiça decidiram modificar a condenação original e aumentar os anos de punição?

O Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF-4), ao julgar em tempo recorde – jamais visto – um recurso de apelação interposto por Lula, aumentou a pena para 12 anos exclusivamente para impossibilitá-lo de se beneficiar da prescrição – por ter ele mais de setenta anos – e ordenar sua prisão imediata. Acontece que se a condenação original fosse ratificada, Lula não teria sido preso.

Qual foi o papel do meios de comunicação de massa, como a rede Globo, no açoite sofrido pelo líder do PT?

É preciso dizer que no transcurso do processo, fez-se de tudo para impedir o exercício de defesa de Lula. Foram rejeitadas diversas provas, principalmente uma solicitação de perícia do imóvel.

“A DEMOCRACIA, A LIBERdade e a JUSTIçA SOCIAL, PeLAS QUais LULA e TANTOS OuTROS LUtaram, ESTão com ele, PRESAS na CELA DE CURITIBA”

Desse modo, a mídia fez uma grande ofensiva em torno da ação da Força Tarefa da Lava Jato e em suas sucessivas entrevistas buscou criminalizar Lula e condená-lo antecipadamente, apontando o ex-presidente como chefe de uma quadrilha e o PT como uma organização criminosa.

O que podemos concluir desse primeiro caso?

Que até agora a Justiça Federal em Curitiba, que julga os processos referidos à Petrobras, mesmo reconhecendo que os contratos mencionados na denúncia não guardavam relação com o ex-presidente, manteve sua competência territorial e suas sentenças.

Esse processo é uma farsa judicial, uma perseguição política sem nome. Foi criado por Sérgio Moro para impedir Lula de ser candidato e para viabilizar a eleição de Bolsonaro, a quem hoje serve na pasta da Justiça.

No passado mês de fevereiro, Lula voltou a ser condenado a mais 12 anos e 11 meses de prisão, por presumidos atos de “lavagem de dinheiro e corrupção”. Como devemos entender essa nova sentença?

Embora Lula tenha sido condenado e encarcerado pelo caso do apartamento triplex, esse processo foi desestimado no mundo jurídico democrático brasileiro e internacional pelas terríveis irregularidades que mencionei. Não há um só jurista de respeito, no Brasil ou no exterior, que tenha publicado um artigo, dado uma entrevista ou manifestado sua opinião em defesa da sentença condenatória. O que acontece então? Sérgio Moro e a Força Tarefa da “Lava Jato” buscaram um novo processo, agora referido a um sítio no município de Atibaia – de propriedade do filho de um amigo da família Lula –,  que era regularmente visitado por esta última.

Quais são as novíssimas anomalias do “caso Atibaia”?

Igualmente, esse processo se tornou uma farsa judicial. A acusação diz que o proprietário do sítio era fictício e que na verdade o imóvel pertencia a Lula. Mas o proprietário compareceu aos autos judiciais, mostrou como adquiriu o imóvel, de onde obteve o dinheiro para o pagamento, tudo isso através de documentos, extratos bancários demonstrativos dos saques e respectivos pagamentos das prestações. Contudo, nenhum dos depoimentos e documentos serviram para a Força Tarefa da Lava Jato. A juíza substituta de Moro, Gabriela Hardt, acabou condenando Lula a mais 12 anos de prisão, afastando a possibilidade de prescrição e facilitando o trabalho do Tribunal Regional Federal, que não precisará modificar a sentencia para prejudicá-lo ainda mais.

Essa segunda sentença saiu – também em tempo recorde – exatamente depois da inscrição de Lula como candidato ao Prêmio Nobel da Paz e copiando ipsis litteris grande parte do parecer atinente ao triplex. Em diversos trechos da sentença a juíza se refere ao apartamento do Guarujá e não ao caso em juízo, do sítio de Atibaia, o que demonstra como estão sendo analisados os processos contra Lula.

Qual é a posição da defensa no que diz respeito à última sentença?

Contra essas arbitrariedades, fraudes processuais e manobras para condenar Lula a qualquer custo, sua defesa interpôs diversos recursos, ao próprio Tribunal Regional Federal, ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal. Todos esses recursos estão pendentes.

Qual é a relação entre Sérgio Moro e Jair Bolsonaro? Considera que Lula é vítima de um plano preconcebido ao qual a Justiça brasileira se prestou?

Eu falo por mim. Sou um dos advogados de Lula. Atuei nos processos da ditadura militar, defendi presos políticos e participei na reconstrução democrática do Brasil. Como advogado e militante político, estou convencido de que o que está acontecendo com o presidente Lula se afasta da lei. É uma violência política e antidemocrática, um abuso de poder cada dia mais visível e os tribunais brasileiros estão amedrontados de julgar de acordo com a lei e a Constituição, enquanto são mantidos pelos golpistas e pela mídia como coniventes de atos de corrupção.

Os magistrados que se atrevem a dissentir das decisões da Lava Jato –relativas ou não aos processos de Lula – são criticados na imprensa, hostilizados nas redes sociais e atacados por partidários de Bolsonaro.

Quando dizíamos que Sérgio Moro era um perseguidor político, travestido de magistrado, ele mesmo respondia alegando que obedecia à lei, à Constituição e aos autos dos processos que estavam sob sua alçada. E assim manteve Lula preso. Porém, na manhã seguinte à eleição presidencial, foi o primeiro ministro a ser convidado por Bolsonaro, desligando-se imediatamente da Magistratura para se tornar ministro da Justiça. Assim, a verdade dos fatos que ocorrem com Lula está se revelando.

 “‘LULA LIVRE’ PASSOU A SER A PALAVRA DE ORDEM DE TODOS OS LUTADORES PELA DEMOCRACIA, PELO RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS E PELA JUSTIÇA SOCIAL”

Lula é um “preso político”?

Lula é mais do que um preso político, é refém político daqueles que derrubaram uma presidenta eleita, Dilma Rousseff – igualmente sem crime e sem motivo –, daqueles que impediram Lula de disputar a eleição presidencial e agora pretendem mantê-lo preso, incomunicado, buscando afastá-lo da vida política para sempre. Ele foi condenado sem que fosse comprovado contra ele um só ato criminoso. Não se provou jamais benefício indevido algum recebido por ele. Seus processos não ostentam crime e menos ainda prova de crime algum. São milhares de páginas de retórica político-ideológica, moralista e preconcebida, direitista até dizer chega, que não se sustentam perante um julgamento isento e sereno.

Lula foi para a prisão antes do final do processo, contra a letra expressa da Constituição Federal, sob pressão da mídia e do comandante do Exército que hoje ajuda Bolsonaro dentro do Palácio do Planalto.

Inclusive uma ministra do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o habeas corpus a favor de Lula, anunciou um voto contrário a sua consciência e a seus anteriores entendimentos sobre o princípio da presunção de inocência.

Entendo que as autoridades nacionais desobedeceram às Nações Unidas em relação a certos direitos de Lula a serem respeitados.

É real que Lula foi proibido de ser candidato a presidente contrariando uma decisão das Nações Unidas que possuía força legal, porque o Brasil é signatário do tratado de obediência às decisões desse comitê. A Comissão de Direitos Humanos da ONU disse que os direitos de cidadania de Lula estavam sendo violados pelos processos da Lava Jato. Que havia transgressões à sua defesa. Que ele tinha direito a se candidatar. Em suma, para barrar sua candidatura o Brasil faltou à obediência de um tratado internacional que assinou.

Por que esta acintosa decisão da direita de lesar a honra de Lula? Sua figura política os atemoriza?

Como se vê, o medo da elite brasileira e dos reacionários ultradireitistas – submissos ao imperialismo norte-americano – em relação a Lula é tão grande que para eles não bastava prendê-lo e impedir sua candidatura. Era necessário proibi-lo de falar, de gravar mensagens e de dar entrevistas, porque temiam que isso pudesse favorecer Fernando Haddad e não o entreguista ultraliberal, quase fascista, que eles queriam pôr no poder.

Até hoje restringem suas visitas de caráter religioso. Impedem-nos, como advogados, de termos acesso a ele. Reduzem o tempo de reunião, inclusive para os advogados. Limitam as visitas de seus próprios familiares. Impossibilitam Lula de acompanhar o enterro do próprio irmão. Só o deixaram comparecer à cerimônia de cremação de seu neto Arthur após, é claro, disporem de uma gigantesca operação policial-militar que envolveu centenas e centenas de homens, cães, helicópteros, aviões, sirenes, entre outros recursos.

Mas por que esse afã de atingi-lo na dimensão humana?

Hoje Lula deve ser o único brasileiro proibido de dar entrevistas. Ele não pode falar. Também não o deixam ter contato com o povo.

Sabe por que tanta perseguição? Justamente porque sabem que ele não é culpado, porque temem e lutam contra o surgimento da verdade em meio ao escárnio com que os golpistas o tratam. Lula é refém daqueles que tomaram o poder de assalto. E a democracia, a liberdade e a justiça social pelas que Lula e tantos outros lutaram – e que a direita despreza – estão com ele, presas na cela de Curitiba.

Esse é o quadro sombrio do Brasil, dos brasileiros e de Lula. É por isso que se multiplicam as manifestações de solidariedade em todos os cantos do país e no exterior. “Lula Livre” passou a ser a palavra de ordem de todos os lutadores pela democracia, pelo respeito aos direitos humanos e pela justiça social. Sua liberdade será conquistada nesses espaços sociais, nas ruas e praças, pelo povo.

E Lula tem suportado todas essas humilhações com dignidade, com altivez e com compreensão de seu papel político na conjuntura do Brasil, da América Latina e do resto do mundo. Ele sairá logo, porque não há derrotas definitivas para os povos. Mas o fará com a cabeça erguida, reforçando sua aliança com os pobres, com os excluídos e com os perseguidos, para continuar sua trajetória de luta.

Perfil

Luiz Eduardo Greenhalgh

Político e advogado, nasceu em 11 de abril de 1948 em São Paulo. Iniciou seus estudos superiores em 1969 na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), onde se bacharelou em 1973. Na década de 70 participou da fundação do Comitê Brasileiro pela Anistia, de cuja direção nacional chegou a fazer parte. Como advogado, atuou em defesa de inúmeros dirigentes políticos perseguidos, entre eles o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos desaparecidos durante a ditadura militar.

Integrou o Comitê Latino-americano de Defesa dos Direitos Humanos para os Países do Cone Sul (Clamor), o Comitê Brasileiro de Solidariedade aos Povos da América Latina (CBS) e, como membro fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), foi eleito deputado federal em diversas oportunidades. Assim como em abril de 1980, hoje volta a defender Lula, e garante que fará tudo quanto for possível para que ele alcance a liberdade.

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Greenhalgh: “Lula is held hostage by those who seized power”

By Javier Larraín / Photo: Rovena Rosa, Agencia Brasil

Exactly one year ago today, on account of the much talked-about “Car Wash” case, former Brazilian president and historical leader of the Workers’ Party (PT, from the acronym in Portuguese) Luiz Inácio Lula da Silva was sentenced to 12 years and one month in prison for alleged “corruption” felonies. The news rapidly spread around the world leaving no one indifferent, while the Brazilian Justice, with unprecedented haste and total lack of evidence, recently proceeded to sentence him to yet another 12 years on charges of “money laundering and corruption”.

In parallel, on February 23 Lula’s bid for the 2019 Nobel Peace Prize was made public by initiative of Adolfo Pérez Esquivel, himself a Nobel Peace Prize winner. At the time this interview is published, those supporting the former president will be setting in motion a “World Day of Solidarity with Lula” in Brazil and worldwide.

With the aim of unraveling the threads of Brazil’s corrupt legal system, the torrent of irregularities committed by countless magistrates to convict Lula, the unrelenting persecution against him by the media, and of supporting the urgent Endeavor of the left and global progressivism in the struggle for his liberation, Correo del Alba approached Luiz Eduardo Greenhalgh, one of Lula’s attorneys, who, overwhelmed as he is by the ongoing proceedings, spared valuable time to clarify the truths of the case.

 

Lawyer, to begin with I would like you to tell us what Lula’s present legal status is.

For almost a year now, former President Luiz Inácio Lula da Silva has been jailed in Curitiba, sentenced to more than 12 years in prison, in a case without any evidence and carried out for the sole and indisputable purpose of preventing him from running for the presidency of the Republic.

 

Can you tell us about the irregularities that took place before, during, and after the first legal case was brought against Lula?

The suit, a veritable travesty of justice, was designed for the purpose I mentioned. Surely, the charge is that he had received a triplex apartment in Guarujá from a construction company in connection with three contracts the contractor had entered into with Petrobras. Nonetheless, none of this has been verified. On the contrary, what became evident in the proceedings is that Lula had no participation whatsoever in the three contracts and that the apartment had never been in his name. What’s more, the construction company even came to use the property as collateral for a loan it applied for. Furthermore, a plea-bargain defendant was used who, after two statements in which he attributed no wrongdoing to Lula, the third time testified that the apartment “was to be Lula’s”.

 

To what do you attribute the plea-bargain defendant’s change?

This changed version happened because that witness was sentenced to 25 years in prison in another lawsuit and, after testifying against Lula, had his sentence reduced to just three years of home arrest.

As a consequence, as nothing was found incriminating Lula, the then Judge Sérgio Moro –currently [President] Jair Bolsonaro’s Minister of Justice– stated that the former president was being sentenced to nine years in prison “for undetermined acts”.

 

Why have the higher courts of Justice decided to review the original sentence an increase the years of punishment?

The 4th Region Federal Court (TRF-4), by judging in unheard of, record time an appeal filed by Lula, increased the sentence to 12 years solely for the purpose of making it impossible to call for a statute of limitations, as granted to 70-year-olds, and ordered his immediate arrest. Had the original sentence been upheld, Lula would not have been arrested.

 

What has been the role of the mass media, of Rede Globo, in giving the PT leader a beating?

It is worth saying that during the case everything was done to curtail Lula’s defense. Much of the evidence was rejected, especially a request for an expert’s opinion on the property.

“the Democracy, freedom, and social justice for which lula and so many others fought are with him, jailed in a cell in Curitiba”

This way the press pushed for further actions by the Car Wash Task Force and in succeeding interviews sought to criminalize Lula and convict him prior to due process, singling him out as a ringleader and the PT as a criminal organization.


What can we conclude from this first case?

That, thus far, the Federal Justice in Curitiba, which tries cases in connection with Petrobras, although acknowledging that the contracts referred to in the charges kept no relation with the former president, has managed to uphold its territorial jurisdiction and rulings.

This trial is a legal charade, sheer political persecution. It was created by Sérgio Moro to make it impossible for Lula to be a candidate and to enable the election of Bolsonaro, whom he now serves as minister of Justice.


Last February Lula was once again sentenced to yet another 12 years and 11 months in prison for alleged “money laundering and corruption”. What is this new sentence about?

Although [Lula] was convicted and jailed in the case of the triplex apartment, this case has been rejected by the Brazilian and the international democratic juridical world because of the terrible irregularities I’ve mentioned. Not a single respected legal scholar, in Brazil or abroad, has published an article, given an interview, or expressed a favorable opinion regarding the conviction and the sentence. So what do they do? Sérgio Moro and the Car Wash Task Force come up with a new case, now regarding a country house in the municipality of Atibaia –owned by the son of a friend of the Lula family– which was regularly visited by them.


What are the new anomalies of the “Atibaia case”?

Similarly, this case also became a travesty of justice. In the accusation it is stated that the owner of the country house was fictitious and that the property actually belonged to Lula. Yet the owner attended the court proceedings, showed how he acquired the property, where he obtained the money for its payment, all this with documents, bank statements showing the withdrawals and respective payments of the instalments. Still, none of the testimonies and documents were accepted by the Car Wash Task Force. The judge that replaced Moro, Gabriela Hardt, eventually sentenced Lula to another 12 years in prison, preventing the statute of limitation and facilitating the work of the Federal Regional Court, as it will not need to change the sentence to further harm him.

This second sentence was handed down –also in record time– immediately after Lula was nominated for the Nobel Peace Prize, and copying great part of the ruling concerning the triplex apartment word for word. In several passages of the sentence the judge makes reference to the Guarujá apartment and not the case at hand, the Atibaia country house, which goes to show how the cases against Lula are being analyzed.


What is the position of the defense with reference to the last ruling?

Against these arbitrary decisions, legal frauds, and maneuvers to convict Lula at all costs, his defense filed several appeals with the same Federal Regional Court, the Supreme Court of Justice, and the Supreme Federal Court. All these appeals are still awaiting a decision.


What is the relationship between Sérgio Moro and Jair Bolsonaro? Do you consider Lula a victim of a preconceived plan in which the Brazilian Justice was instrumental?

I speak for myself. I am but one of Lula’s lawyers. I worked in lawsuits during the military dictatorship, defended political prisoners, and took part in Brazil’s democratic reconstruction. As a lawyer and political activist, I am convinced that what is happening to President Lula departs from the law. It is a political and antidemocratic violence, an abuse of power that becomes clearer by the day, and the Brazilian courts are afraid of judging in accordance with the law and the Constitution, as they are held by those who plotted the coup and the media as being in connivance with corruption.

Magistrates who dare to dissent from Car Wash rulings –whether concerning Lula’s suits or not– are criticized by the media, harassed on social media, and attacked by Bolsonaro’s partisans.

When we said that Sérgio Moro was a political persecutor disguised as a magistrate, he himself would answer by saying that he obeyed the law, the Constitution, and the records of the cases he had been tasked with. And this way he kept Lula in prison. However, in the week following the presidential election, he was the first minister to be invited by Bolsonaro, and immediately resigned from the courts to become the Minister of Justice. Thus, the truth about the facts regarding Lula are being unveiled.

 “‘Free Lula’ HAS BECOME the watchword for all those fighting for democracy, respect for human rights, and social justice”


Is Lula a “political prisoner”?

Lula is more than a political prisoner: he is a political hostage being held by those who overthrew an elected president –Dilma Rousseff, also without any wrongdoing and motive–, of those who stopped Lula from running in the presidential election and now intend to maintain him under arrest, incommunicado, in an effort to keep him away from political life for good. He was convicted without a single criminal act having been verified. No undue benefit has ever been proven. His trials show no crime, even less any evidence of crime. They contain thousands of pages of political-ideological, moralistic, and preconceived, mostly rightist, rhetoric, that will not hold before an exempt and serene trial.

Lula was arrested before the proceedings were over, against what is expressly written in the Federal Constitution, under pressure of the media and the Army Commander, who today is helping Bolsonaro inside the [presidential] Planalto Palace.

What’s more, a Supreme Federal Court justice, when judging a habeas corpus in favor of Lula, announced a vote that was contrary to her conscience and her previous rulings on the principle of the presumption of innocence.


It is my understanding that the national authorities have disobeyed the United Nations as regards certain rights to be exercised by Lula.

It is true that Lula was prohibited from being a presidential candidate against a decision by the United Nations that was legally binding, as Brazil is a signatory to a treaty by this committee. The United Nations Human Rights Commission stated that Lula’s citizen rights were being violated by the Car Wash trials. That there were infringements to his defense. That he was eligible to run. Ultimately, in order to stop his candidacy, Brazil failed to comply with an international treaty it had signed.


What is the reason for such a stubborn decision of the right to harm Lula’s honor? Do they fear his political figure?

As we can see, the fear of the Brazilian elite and of the far-right reactionaries –submissive to U.S. imperialism– of Lula is so great that it was not enough to arrest him in order to thwart his candidacy. It was necessary to prohibit him from speaking, from recording messages and giving interviews, because they feared that that could benefit Fernando Haddad, but not the ultraliberal submissive quasi-fascist they wanted to put in power.

Even today they restrict his visits of a religious nature. They do not allow us, his lawyers, to have access to him. They reduce visiting time of his own relatives. Prohibit him from attending his brother’s funeral. They just allowed him to attend his grandson, Arthur’s cremation ceremony, but that was only after they set in place a gigantic military and police operation that involved hundreds and hundreds of men, dogs, helicopters, airplanes, sirens, among other resources.


But why all this eagerness to affect him as a human being?

Today Lula must be the only Brazilian who is prohibited from giving interviews. He cannot talk. They do not let him have any contact with the people either.

Do you know why so much persecution? Precisely because they know that he is not guilty, because they fear and fight against the emergence of the truth in the midst of the scorn of the coup plotters he has had to endure. Lula is being held hostage by those who seized power. And the democracy, freedom, and social justice Lula and so many others fought for –and which the right despises– are with him, jailed in a cell in Curitiba.

This is the grim picture of Brazil, of the Brazilians, and of Lula. That is why solidarity demonstrations are mushrooming everywhere in the country and abroad. “Free Lula” has become the watchword for all those fighting for democracy, respect for human rights, and social justice. His freedom will be achieved in these social spaces, on the streets and squares, by the people.

And Lula has endured all these humiliations with dignity, pride, and the understanding of his political role in the present context of Brazil, Latin America, and the rest of the world. He shall leave shortly because there are no definitive defeats for the peoples. But he will do that with head held high, and further strengthening his commitment to the poor, the excluded, and the persecuted to continue his trajectory of struggle.


Bio
Luiz Eduardo Greenhalgh

Born on April 11, 1948 in São Paulo, Mr. Greenhalgh is a politician and a lawyer. He started his higher studies in 1969 at the University of São Paulo’s Law School, where he majored in 1973. In the 1970s, he participated in the founding of the Brazilian Amnesty Committee, becoming a member of its national board. As a lawyer, he acted in defense of countless persecuted political leaders, among them the then president of the São Bernardo do Campo Metalworkers’ Union, Luís Inácio Lula da Silva, and in defense of those who went missing during the military dictatorship.

A member of the Latin-American Committee for the Defense of Human Rights of the Countries of the Southern Cone (Clamor), of the Brazilian Committee in Solidarity with the Peoples of Latin America (CBS), and also a founding member of the Workers’ Party (PT), Greenhalgh was elected federal representative several times. Just as in April 1980, today he is once again defending Lula and pledging to do everything possible to set him free.

 

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