Lula: Por que querem me condenar | Lula: Por qué quieren condenarme | Lula: Why they want to condemn me | Lula: Pourquoi veut-on me condamner?

.

Lula em Ipojuca (PE) Foto: Ricardo Stuckert

Lula: Por que querem me condenar

Em artigo publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, nesta terça-feira (18), o ex-presidente reforça nunca ter feito nada ilegal

Em mais de 40 anos de atuação pública, minha vida pessoal foi permanentemente vasculhada -pelos órgãos de segurança, pelos adversários políticos, pela imprensa. Por lutar pela liberdade de organização dos trabalhadores, cheguei a ser preso, condenado como subversivo pela infame Lei de Segurança Nacional da ditadura. Mas jamais encontraram um ato desonesto de minha parte.

Sei o que fiz antes, durante e depois de ter sido presidente. Nunca fiz nada ilegal, nada que pudesse manchar a minha história. Governei o Brasil com seriedade e dedicação, porque sabia que um trabalhador não podia falhar na Presidência. As falsas acusações que me lançaram não visavam exatamente a minha pessoa, mas o projeto político que sempre representei: de um Brasil mais justo, com oportunidades para todos.

Às vésperas de completar 71 anos, vejo meu nome no centro de uma verdadeira caçada judicial. Devassaram minhas contas pessoais, as de minha esposa e de meus filhos; grampearam meus telefonemas e divulgaram o conteúdo; invadiram minha casa e conduziram-me à força para depor, sem motivo razoável e sem base legal. Estão à procura de um crime, para me acusar, mas não encontraram e nem vão encontrar.

Desde que essa caçada começou, na campanha presidencial de 2014, percorro os caminhos da Justiça sem abrir mão de minha agenda. Continuo viajando pelo país, ao encontro dos sindicatos, dos movimentos sociais, dos partidos, para debater e defender o projeto de transformação do Brasil. Não parei para me lamentar e nem desisti da luta por igualdade e justiça social.

Nestes encontros renovo minha fé no povo brasileiro e no futuro do país. Constato que está viva na memória de nossa gente cada conquista alcançada nos governos do PT: o Bolsa Família, o Luz Para Todos, o Minha Casa, Minha Vida, o novo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), o Programa de Aquisição de Alimentos, a valorização dos salários -em conjunto, proporcionaram a maior ascensão social de todos os tempos.

Nossa gente não esquecerá dos milhões de jovens pobres e negros que tiveram acesso ao ensino superior. Vai resistir aos retrocessos porque o Brasil quer mais, e não menos direitos.

Não posso me calar, porém, diante dos abusos cometidos por agentes do Estado que usam a lei como instrumento de perseguição política. Basta observar a reta final das eleições municipais para constatar a caçada ao PT: a aceitação de uma denúncia contra mim, cinco dias depois de apresentada, e a prisão de dois ex-ministros de meu governo foram episódios espetaculosos que certamente interferiram no resultado do pleito.

Jamais pratiquei, autorizei ou me beneficiei de atos ilícitos na Petrobras ou em qualquer outro setor do governo. Desde a campanha eleitoral de 2014, trabalha-se a narrativa de ser o PT não mais partido, mas uma “organização criminosa”, e eu o chefe dessa organização. Essa ideia foi martelada sem descanso por manchetes, capas de revista, rádio e televisão. Precisa ser provada à força, já que “não há fatos, mas convicções”.

Não descarto que meus acusadores acreditem nessa tese maliciosa, talvez julgando os demais por seu próprio código moral. Mas salta aos olhos até mesmo a desproporção entre os bilionários desvios investigados e o que apontam como suposto butim do “chefe”, evidenciando a falácia do enredo.

Percebo, também, uma perigosa ignorância de agentes da lei quanto ao funcionamento do governo e das instituições. Cheguei a essa conclusão nos depoimentos que prestei a delegados e promotores que não sabiam como funciona um governo de coalizão, como tramita uma medida provisória, como se procede numa licitação, como se dá a análise e aprovação, colegiada e técnica, de financiamentos em um banco público, como o BNDES.

De resto, nesses depoimentos, nada se perguntou de objetivo sobre as hipóteses da acusação. Tenho mesmo a impressão de que não passaram de ritos burocráticos vazios, para cumprir etapas e atender às formalidades do processo. Definitivamente, não serviram ao exercício concreto do direito de defesa.

Passados dois anos de operações, sempre vazadas com estardalhaço, não conseguiram encontrar nada capaz de vincular meu nome aos desvios investigados. Nenhum centavo não declarado em minhas contas, nenhuma empresa de fachada, nenhuma conta secreta.

Há 20 anos moro no mesmo apartamento em São Bernardo. Entre as dezenas de réus delatores, nenhum disse que tratou de algo ilegal ou desonesto comigo, a despeito da insistência dos agentes públicos para que o façam, até mesmo como condição para obter benefícios.

A leviandade, a desproporção e a falta de base legal das denúncias surpreendem e causam indignação, bem como a sofreguidão com que são processadas em juízo. Não mais se importam com fatos, provas, normas do processo. Denunciam e processam por mera convicção -é grave que as instâncias superiores e os órgãos de controle funcional não tomem providências contra os abusos.

Acusam-me, por exemplo, de ter ganho ilicitamente um apartamento que nunca me pertenceu -e não pertenceu pela simples razão de que não quis comprá-lo quando me foi oferecida a oportunidade, nem mesmo depois das reformas que, obviamente, seriam acrescentadas ao preço. Como é impossível demonstrar que a propriedade seria minha, pois nunca foi, acusam-me então de ocultá-la, num enredo surreal.

Acusam-me de corrupção por ter proferido palestras para empresas investigadas na Operação Lava Jato. Como posso ser acusado de corrupção, se não sou mais agente público desde 2011, quando comecei a dar palestras? E que relação pode haver entre os desvios da Petrobras e as apresentações, todas documentadas, que fiz para 42 empresas e organizações de diversos setores, não apenas as cinco investigadas, cobrando preço fixo e recolhendo impostos?

Meus acusadores sabem que não roubei, não fui corrompido nem tentei obstruir a Justiça, mas não podem admitir. Não podem recuar depois do massacre que promoveram na mídia. Tornaram-se prisioneiros das mentiras que criaram, na maioria das vezes a partir de reportagens facciosas e mal apuradas. Estão condenados a condenar e devem avaliar que, se não me prenderem, serão eles os desmoralizados perante a opinião pública.

Tento compreender esta caçada como parte da disputa política, muito embora seja um método repugnante de luta. Não é oLula que pretendem condenar: é o projeto político que represento junto com milhões de brasileiros. Na tentativa de destruir uma corrente de pensamento, estão destruindo os fundamentos da democracia no Brasil.

É necessário frisar que nós, do PT, sempre apoiamos a investigação, o julgamento e a punição de quem desvia dinheiro do povo. Não é uma afirmação retórica: nós combatemos a corrupção na prática.

Ninguém atuou tanto para criar mecanismos de transparência e controle de verbas públicas, para fortalecer a Polícia Federal, a Receita e o Ministério Público, para aprovar no Congresso leis mais eficazes contra a corrupção e o crime organizado. Isso é reconhecido até mesmo pelos procuradores que nos acusam.

Tenho a consciência tranquila e o reconhecimento do povo. Confio que cedo ou tarde a Justiça e a verdade prevalecerão, nem que seja nos livros de história. O que me preocupa, e a todos os democratas, são as contínuas violações ao Estado de Direito. É a sombra do estado de exceção que vem se erguendo sobre o país.

(Artigo inicialmente publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, no dia 18 de outubro de 2016)

Luiz Inácio Lula da Silva foi presidente do Brasil (2003-2010). É presidente de honra do PT (Partido dos Trabalhadores)


Lula: Por qué quieren condenarme

Artículo publicado en el periódico Folha de S.Paulo el 18 de octubre de 2016

En más de 40 años de actuación pública, mi vida personal ha sido permanentemente escudriñada – por los órganos de seguridad, los adversarios políticos, la prensa. Por luchar por la libertad de organización de los trabajadores, me llegaron a meter preso, condenado como subversivo por la infame Ley de Seguridad Nacional de la dictadura. Pero jamás encontraron un acto deshonesto de mi parte.

Sé lo que hice antes, durante y después de ser presidente. Nunca he hecho nada ilegal, nada que pudiera manchar mi historia. Goberné a Brasil con seriedad y dedicación, porque sabía que un trabajador no podía fallar en la Presidencia. Las falsas acusaciones que me han lanzado no apuntan exactamente a mi persona, sino al proyecto político que siempre he representado: el de un Brasil más justo, con oportunidades para todos.

En vísperas de cumplir 71 años, veo mi nombre en el centro de una verdadera cazada judicial. Han escrutado mis cuentas personales, las de mi esposa y de mis hijos; me han puesto escuchas telefónicas y divulgado el contenido; me han invadido la casa y me han conducido a la fuerza a declarar, sin motivo razonable y sin base legal. Están en la búsqueda de un crimen para acusarme, pero no lo han encontrado ni lo van a encontrar.

Desde que empezó esta cazada, en la campaña presidencial de 2014, recorro los caminos de la Justicia sin renunciar a mi agenda. Sigo viajando por el país, yendo al encuentro de los sindicatos, de los movimientos sociales, de los partidos, para debatir y defender el proyecto de transformación de Brasil. No me he detenido para lamentarme ni tampoco he desistido de la lucha por la igualdad y la justicia social.

En estos encuentros renuevo mi fe en el pueblo brasileño y en el futuro del país. Constato que está viva en la memoria de nuestra gente cada conquista alcanzada en los gobiernos del PT: el Bolsa Familia, el Luz Para Todos, el Mi Casa Mi Vida, el nuevo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimiento de la Agricultura Familiar), el Programa de Adquisición de Alimentos, la valorización de los salarios – que en conjunto han propiciado el mayor ascenso social de todos los tiempos.

Nuestra gente no olvidará los millones de jóvenes y negros que han tenido acceso a la educación superior. Va a resistir a los retrocesos porque Brasil quiere más, y no menos derechos.

No puedo callarme, empero, frente a los abusos cometidos por agentes del Estado que usan la ley como instrumento de persecución política. Basta observar la recta final de las elecciones municipales para constatar la cazada al PT: la aceptación de una denuncia contra mí, cinco días después de presentada, y la prisión de dos ex ministros de gobierno fueron episodios de espectáculo mediático que seguramente interfirieron en el resultado de los comicios.

Jamás practiqué, autoricé o me beneficié de actos ilícitos en la Petrobras o en cualquier otro sector del gobierno. Desde la campaña electoral de 2014, se trabaja en la narrativa de que el PT no es más un partido, sino una “organización criminal”, y yo, el jefe de esa organización. Tal idea fue taladrada sin descanso por titulares de periódicos, portadas de revistas, radio y televisión. Necesita ser probada a la fuerza, ya que “no hay hechos, sino convicciones”.

No descarto que mis acusadores crean en esa tesis maliciosa, tal vez juzgando a los demás por su propio código moral. Pero salta a la vista incluso la desproporción entre los millonarios desvíos investigados y lo que señalan como supuesto botín del “jefe”, poniendo de manifiesto la falacia de la trama.

Percibo, además, una peligrosa ignorancia de agentes de la ley en cuanto al funcionamiento del gobierno y de las instituciones. He llegado a esa conclusión durante las declaraciones que di ante comisarios y fiscales que no sabían cómo funciona un gobierno de coalición, cómo tramita un decreto de urgencia, cómo se procede en una licitación, cómo se da el proceso de análisis y aprobación, colegiado y técnico, de financiaciones en un banco público, como el BNDES.

Por lo demás, en esas declaraciones, no se me preguntó nada de objetivo sobre las hipótesis de la acusación. Tengo incluso la sensación de que no pasaron de ritos burocráticos vacíos, para cumplir etapas y atender a las formalidades del proceso. Definitivamente, no sirvieron al ejercicio concreto del derecho de defensa.

Pasados dos años de operaciones, siempre filtradas a la prensa de forma escandalosa, no han logrado encontrar nada capaz de vincular mi nombre a los desvíos investigados. Ni un solo centavo no declarado en mis cuentas, ni una empresa de fachada, ni una cuenta secreta.

Hace 20 años que vivo en el mismo apartamento en São Bernardo. Entre las decenas de reos delatores, ninguno ha dicho que trató de algo ilegal o deshonesto conmigo, a pesar de la insistencia de los agentes públicos para que lo hagan, hasta como condición para obtener beneficios.

La necedad, la desproporción y la falta de base legal de las denuncias sorprenden y causan indignación, al igual que la voracidad con la que son procesadas en juicio. Ya no se atienen a hechos, pruebas, normas del proceso. Denuncian y procesan por mera convicción – es grave que las instancias superiores y los órganos de control funcional no tomen providencias contra los abusos.

Me acusan, por ejemplo, de haber ganado ilícitamente un apartamento que nunca me perteneció – y no me perteneció por la simple razón de que no quise comprarlo cuando se me ofreció la oportunidad, ni siquiera después de las reformas que, obviamente, serían añadidas al precio. Como es imposible demostrar que la propiedad sería mía, pues nunca lo ha sido, me acusan entonces de ocultarla, en una trama surreal.

Me acusan de corrupción por haber dictado conferencias para empresas investigadas en la Operación Java Jato. ¿Cómo puedo ser acusado de corrupción, si no soy más agente público desde 2011, cuando empecé a dar conferencias? ¿Y qué relación puede haber entre los desvíos de la Petrobras y las presentaciones, todas documentadas, que realicé para 42 empresas y organizaciones de distintos sectores, no solo las cinco investigadas, cobrando un precio fijo y pagando los debidos impuestos?

Mis acusadores saben que no he robado, que no fui corrompido ni traté de obstruir la justicia, pero no lo pueden admitir. No pueden echarse atrás después de la masacre que promovieron en los medios. Se volvieron prisioneros de las mentiras que han creado, en la mayoría de las veces a partir de reportajes facciosos y mal investigados. Están condenados a condenar y seguramente evalúan que, si no me arrestan, serán ellos los desmoralizados ante la opinión pública.

Intento comprender esta cazada como parte de la disputa política, aunque se trata de un método repugnante de lucha. No es a Lula al que pretenden condenar: es al proyecto político que represento junto con millones de brasileños. En su intento de destruir una corriente de pensamiento, están destruyendo los fundamentos de la democracia en Brasil.

Es necesario subrayar que nosotros, del PT, siempre hemos apoyado la investigación, el juicio y la punición de quienes desvían dinero del pueblo. No es una afirmación retórica: hemos combatido la corrupción en la práctica.

Nadie actuó tanto como nosotros para crear mecanismos de transparencia y control de recursos públicos, para fortalecer a la Policía Federal, a la Dirección de Hacienda y al Ministerio Público, para aprobar en el Congreso leyes más eficaces contra la corrupción y el crimen organizado. Eso lo reconocen hasta los mismos fiscales que nos acusan.

Tengo la conciencia tranquila y el reconocimiento del pueblo. Confío en que tarde o temprano la Justicia y la verdad prevalecerán, aunque sea en los libro de historia. Lo que me preocupa, y a todos los demócratas, son las continuas violaciones al Estado de Derecho. Es la sombra del estado de excepción que se viene irguiendo sobre el país.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA fue presidente de Brasil (2003-2010). Es presidente honorario del PT (Partido de los Trabajadores)


Lula:  Why they want to condemn me

Article published in the Folha de S.Paulo newspaper on October 18, 2016

During more than 40 years of public activity, my personal life was permanently investigated -by security agencies, by political opponents, by the press. When I fought for the freedom for workers to organize, I was arrested, condemned as a subversive by the infamous National Security Law of the dictatorship. But they never found a dishonest act on my part.

I know what I did before, during and after being President. I’ve never done anything illegal, nothing that could tarnish my story. I have governed Brazil with seriousness and dedication, because I knew that a worker could not fail in the Presidency. False accusations launched at me were not exactly aimed at my person, but at the political project that I always represented: a fairer Brazil, with opportunities for all.

On the eve of completing 71 years, I see my name in the center of a real judicial (witch)hunt. They invaded and released my personal accounts, and those of my wife and my children; they bugged my phone calls and spread the content; they broke into my house and removed me to testify, unreasonably and without legal basis. They are looking for a crime with which to accuse me, but have not found one, nor will they find one.

Since this (witch)hunt began in the presidential campaign of 2014, I walk the path of righteousness without giving up on my schedule. I continue traveling the country to meet with trade unions, with social movements and parties to discuss and defend the project of Brazil’s transformation. I did not stop to mourn and did not give up the fight for equality and social justice.

In these meetings I renew my faith in the Brazilian people and the future of the country.  I see that the memory of our people keeps each achievement realized in the PT governments alive: the Family Scholarship program, the Light for All, the My House, My Life, the new Pronaf (National Program to Strengthen Family Agriculture), the Food Acquisition Program Food, recovery of wages – these together, provided the greatest social advancement of all time.

Our people will not forget the millions of poor and black youth who had access to higher education. Our people will withstand setbacks because Brazil wants more, not fewer rights.

I cannot be silent, however, on the abuses committed by government agents who use the law as a political persecution instrument. Just observe the final stages of the municipal elections to see the (witch)hunt against the PT: the acceptance of a complaint against me, five days after it was presented, and the arrest of two former ministers of my government were spectacular episodes that certainly interfered in the outcome of the election .

I never practiced, authorized or benefited from wrongdoing in Petrobras or any other government sector. Since the election campaign in 2014, they worked to change the narrative about the PT from a party to a “criminal organization” with me as its head.  This idea was hammered relentlessly by headlines, magazine covers, on radio and television. It had to be proven by force, since “there are no facts, but convictions.”

I do not rule out that my accusers believe this malicious thesis, perhaps judging others by their own moral code. But it does catch the eye how the disproportion between the embezzled billions investigated and the pointing to the supposed booty “boss”, shows the fallacy of the plot.

I notice, too, a dangerous ignorance of law enforcement on the functioning of government and institutions. I came to this conclusion during the statements I gave to the police and prosecutors who did not know how a coalition government works, how an executive order is transmitted, how a bidding process works, how the review and approval happens, both collegiate and technical, how a public bank such as BNDES gets financed.

Moreover, during these testimonies, there were no questions about the hypothesis of the accusation. I really have the impression that these were empty bureaucratic rites to fulfill steps and meet procedural requirements. They definitely were not the real and concrete exercise of the right to defense.

After two years of operations, always cast with fanfare, they failed to find anything to link my name to the embezzlements investigated. Not even a penny not declared in my finances, no front company, no secret account.

For 20 years I have lived in the same apartment in Sao Bernardo. Among the dozens of informer defendants, none said that they had illegal or dishonest dealings with me, despite the insistence of public officials to do so, even as a condition to get benefits.

The levity, the disproportion and lack of legal basis in the charges against me are a surprise and cause indignation, as does the eagerness with which they are processed in court. They no longer care about facts, evidence, and procedural standards.  They charge and process me by mere conviction –it’s serious that higher courts and agencies do not take action against this abuse.

They accuse me, for example, to have illicitly owned an apartment that never belonged to me- and it didn’t belong to me for the simple reason that I did not buy it when I was offered the opportunity, not even after the reforms that obviously would be added to price. Since it’s impossible to prove that the property was ever mine, because it never was, they instead accuse me of hiding the purchase in a surreal plot.

They accuse me of corruption for having delivered speeches for companies investigated in the Car Wash Operation. How can I be accused of corruption if, when I started to give lectures in 2011, I am no longer a public servant? And what relationship can there be between Petrobras embezzlements and my presentations, all documented, that I gave for 42 companies and organizations from various sectors, not just the five investigated, for which there were fixed prices charged and taxes collected?

My accusers know I did not steal, I was not corrupt or did not try to obstruct justice, but cannot admit it. They cannot retreat after the massacre they promoted in the media. They became prisoners of lies they created, most often from factitious and barely checked reports. They are condemned to condemn and must believe that if they don’t arrest me, they will be discredited.

I try to understand this (witch) hunt as part of the political dispute, although it is a repugnant method of struggle. It’s not Lula they wish to condemn: it’s the political project that I represent, along with millions of Brazilians. In an attempt to destroy a thought process, they are destroying the foundations of democracy in Brazil.

It is necessary to stress that we, the PT, have always supported the investigation, trial and punishment of those who embezzle money from the people. It is not a rhetorical statement: we fight corruption in practice.

No one worked as hard to create mechanisms of transparency and control of public funds, to strengthen the Federal Police, the Treasury and the Public Prosecutor to pass more effective laws against corruption and organized crime in Congress. This is recognized even by the prosecutors who accuse us.

I have a clear conscience and recognition by the people. I am confident that sooner or later justice and truth will prevail, even if it is in the history books. What worries me, and all democrats, are the continuous violations of the rule of law. It is the shadow of the state of emergency that has been rising over the country.

Luiz Inácio Lula da Silva was president of Brazil (2003-2010). He is honorary president of the PT (Workers Party)


Lula: Pourquoi veut-on me condamner?

Article publié dans le journal Folha de S.Paulo le 18 octobre 2016.

Dans mes quarante ans d’activité publique, ma vie personnelle a été fouillée en permanence par les organismes de sécurité, par mes adversaires politiques, par la presse. Pour avoir lutté en faveur de la liberté d’organisation des travailleurs, j’ai été arrêté, condamné comme subversif par l’infâme Loi de Sécurité de la dictature brésilienne. Néanmoins on n’a jamais trouvé un acte malhonête de ma part.

Je sais tout ce que j’ai fait avant, pendant et après avoir été président de la république. Je n’ai jamais rien fait d’illégal, rien qui puisse hanter mon histoire. J’ai gouverné le Brésil avec sérieux et dévouement, parce que je savais qu’un travailleur ne pouvait pas échouer dans sa fonctin de président. Les fausses accusations qu’on m’a fait ne visaient pas exactement ma personne, mais le projet politique que j’ai toujours représenté : celui d’un Brésil plus juste avec des opportunités pour tous.

Aux veilles de mes 71 ans, je vois mon nom au centre d’une vraie chasse judiciaire. On a dévoilé mes comptes personnelles, ceux de mon épouse et de mes enfants ; on a intercepté mes communications téléphoniques et divulgué le contenu de mes conversations ; on a envahi ma maison et m’ont même conduit de force à être interrogé en justice, sans un motif raisonnable et sans fondément légal. Ils sont à la recherche d’un crime duquel m’accuser, mais il n’en ont pas trouvé, et n’en trouveront pas.

Depuis que cette chasse a commencé, à la campagne présidentielle de 2014, je parcours les chemins de la justice sans préjudice de mon agenda. Je continue à voyager dans le Pays à la rencontre des syndicats, des mouvements sociaux, des partis, afin de discuter et de défendre le projet de transformation du Brésil. Je ne me suis pas arrêté pour me plaindre ni n’ai arrêté la lutte pour l’égalité et la justice sociale.

Pendant ces rencontres, je renouvelle la foi que j’ai dans le peuple brésilien et dans le futur du Pays. Je constate que chaque conquête faite pendant les gouvernements du Parti des Travailleurs vit encore dans la mémoire de notre peuple. Le Bolsa Família (allocation familiale instituée dans mon gouvernement), l’Eléctricité pour Tous, Minha casa, minha vida (programme de logement populaire), le nouveau Pronaf (Programme nationale d’appui à l’agriculture familiale), le programme d’acquisition d’aliments, l’augmentation des salaires dans leur ensemble, ont procuré la plus grande vague d’ascension sociale de tous les temps.

Les gens n’oublieront pas les millions de jeunes pauvres et noirs qui ont eu accès à l’enseignement supérieur ; ils vont résister aux regressions, parce que le brésiliens ne veulent plus voir leurs droits éliminés.

Je ne peux pas me taire, cependant, face aux abus commis par des agents de l’État qui se servent de la loi comme instrument de persécution politique. Il suffit d’observer les derniers moments des élections municipales pour constater cette chasse au PT : l’acceptation d’une dénonciation contre ma personne cinq jours après sa présentation, et la détention de deux anciens-ministres de mon gouvernement ont été des épisodes spectaculaires qui certainement ont influencé leur résultat final.

Je n’ai jamais pratiqué, autorisé ou bénéficié d’actes illicites à la Petrobras ou dans n’importe quel autre département du gouvernement. Depuis la campagne électorale de 2014, on travaille un scénario où le PT n’est plus un parti, mais une « organisation criminelle », et moi son chef. Cette idée a été répété sans répit dans les titres de la presse, sur la une des journaux et à la radio et à la télé. On veut la prouver de force, puisqu’il « n’y a pas de faits, mais des convictions », (selon a dit un juge).

Je n’écarte pas l’idée que mes accusateurs croient à cette thèse malicieuse, peut-être en jugeant autruit par leur propre code moral. Mais ça saute aux yeux la différence de proportion qui existe entre les milliardaires déviations investiguées et ce qu’on a indiqué comme le soi-disant butin du « capo », ce qui met en évidence le leurre de ce récit.

Je vois aussi une dangereuse ignorance des agents de la loi quant au fonctionnement du gouvernement et des institutions. Je suis arrivé à cette conclusion pendant les témoignages que j’ai fait aux commissaires et promoteurs qui ne savaient pas comment fonctionne un gouvernement de coalition, quel est le parcours d’une mesure provisoire, comment on procéde à un appel d’offres, comment se fait son analyse et son approbation collégiée et technique, des financements dans une banque publique comme la BNDES (banque nationale de développement)

Du reste, pendant ces témoignages on n’a rien demandé d’objectif sur les hypothèses de l’accusation. J’ai même le sentiment que ce n’étaient que des rites bureaucratiques vides, juste pour accomplir des étapes et répondre aux formalités du procès. Décidément, ça ne servirait pas à l’exercice concret de la défense.

Après deux ans d’opérations médiatisées, toujours avec fracas, ils n’ont rien trouvé capable de lier mon nom aux déviations investiguées. Aucun centime qui ne fût pas déclaré dans mes comptes, aucune fausse société, aucun compte secret.

Il y a vingt ans que j’habite le même appartement dans la ville de São Bernardo. Parmi les dizaines d’accusés délateurs, aucun n’a déclaré avoir traité d’acte illégal ou malhonête avec moi, en dépit de l’insistence des agents publiques pour qu’ils le fassent, même comme condition pour l’obtention de bénéfices.

La légèreté, la démesure et le manque de fondément légal des dénonciations sont surprenantes et provoquent de l’indignation, ainsi que la difficulté avec laquelle elles sont traitées en jugement. Ils n’y tiennent pas compte des faits, des preuves, des normes du procès. Tout est dénoncé et processé par simple conviction des accusateurs – c’est grave que les instances supérieures et les organismes de contrôle fonctionnel ne prennent pas de mesures contre ces abus.

On m’accuse, par exemple, d’avoir reçu de façon illicite un appartement qui ne m’a jamais appartenu – et ça par la simple raison que je n’ai pas voulu l’acheter quand l’occasion s’est présentée, même pas après les reformes qui, évidemment seraient ajoutées au prix. Comme il leur est impossible de démontrer que l’appartement m’appartiendrait, car il n’a jamais été à moi, ils m’accusent alors de l’avoir caché, dans un scénario surréaliste

On m’accuse de corruption pour avoir fait des conférences pour des sociétés investiguées par l’opération Lava-Jato. Comment puis-je être accusé de corruption si je ne suis plus agent publique depuis 2011, année dans laquelle j’ai commencé à faire des conférences? Et quel rapport peut-il avoir entre les déviations de Petrobras et les exposés, tous documentés, que j’ai faits à 42 sociétés et organisations de différents secteurs, et non seulement aux 5 sociétés investiguées, à un prix fixe et avec les impôts dûment déduits?

Mes accusateurs savent que je n’ai pas volé, que je n’ai pas été corrompu, ni n’ai essayé de faire entrave à la justice, mais ils ne peuvent pas l’admettre. Ils ne peuvent plus reculer après le massacre qu’ils ont promu par les médias. Il sont devenus prisonniers des mensonges qu’ils ont créées, la plupart des fois avec des reportages factieux et mal vérifiés. Ils sont condamnés à condamner et doivent évaluer que, s’il ne me font pas arrêter, ce sont eux qui seront démoralisés devant l’opinion publique.

J’essaie de comprendre cette chasse comme faisant partie de la dispute politique, quoique ce soit une méthode répugnante de lutte. Ce n’est pas moi, Lula, qu’ils prétendent condamner ; c’est le projet politique que je représente auprès des millions de brésiliens. Dans la tentative de détruire un courant de pensée, ils sont en train de détruire les fondéments de la démocratie au Brésil.

Il faut souligner que nous, au PT, nous avons toujours appuié les investigations, les jugements et les punitions de ceux qui dévient des fonds publics, de l’argent du peuple. Ce n’est pas une affirmation réthorique : nous combattons la corruption dans la pratique.

Personne n’a tant agi pour créer des mécanismes de transparence et contrôle des fonds publics ; pour renforcer l’action de la Police Fédérale (ministère de l’intérieur), ainsi que le département des finances publiques et le parquet, outre le fait de faire approuver par le Congrès National des lois plus efficaces contre la corruption et le crime organisé. C’est reconnu même par les procureurs qui nous accusent.

J’ai la conscience tranquille et la reconnaissance du peuple. J’ai confiance que tôt ou tard la Justice et la vérité devront prévaloir, ne serait-ce que dans les livres d’histoires. Ce qui me préoccupe, ainsi qu’à tous les démocrates, ce sont les continues violations faites à l’état de Droit, c’est l’ombre de l’état d’exception qui se déploie sur le Pays.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA a été président du Brésil (2003-2010). Il  est le Président d’honneur do PT (Parti des Travailleurs).

PT Cast