Manifesto “Em Defesa do Estado Democrático de Direito”
As professoras universitárias brasileiras Miriam Madureira (Universidad Autónoma Metropolitana do México) e Yara Frateschi (Unicamp) lançaram na última Conferência Internacional de Filosofia e Ciências Sociais, realizada em Praga (República Tcheca), o…
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As professoras universitárias brasileiras Miriam Madureira (Universidad Autónoma Metropolitana do México) e Yara Frateschi (Unicamp) lançaram na última Conferência Internacional de Filosofia e Ciências Sociais, realizada em Praga (República Tcheca), o Manifesto em Defesa do Estado Democrático de Direito no Brasil. O documento explica o processo de destituição ilegítimo da presidenta Dilma Rousseff e o repudia, manifestando forte apoio à manutenção do Estado Democrático de Direito no Brasil.
Entrevistamos a professora Yara Frateschi por telefone. Segundo a docente, o documento recebeu o apoio de quase todas/os as/os participantes do evento e ressalta assinaturas de acadêmicas/os e estudiosas/os de grande prestígio internacional como Jürgen Habermas e Nancy Fraser, entre outros nomes consagrados nos estudos sobre Democracia.
Frateschi afirma estar segura de que o processo de impeachment contra a presidenta Dilma é um golpe revestido de processo legal e que as acusações feitas contra a presidenta Dilma não se sustentam – trata-se, na realidade, de uma reação da direita aos ganhos sociais e democráticos dos últimos anos. Para a professora, é importante pensar e discutir o combate à corrupção e qualquer tipo de ilegalidade; no entanto, o discurso que sustenta o processo é uma falácia, seja pelos partidos envolvidos, seja pelo presidente interino que está inelegível.
De acordo com Frateschi, é nítido o envolvimento da imprensa nesse processo ao não levar informação de qualidade aos brasileiros e brasileiras. “O acesso à boa informação fez com que as pessoas se manifestassem prontamente no exterior. No Brasil, ela está bloqueada”, afirma.
Quanto ao futuro, “há uma situação de insegurança e instabilidade”. Para a docente não há hoje pior cenário possível que a não reversão do processo, que foi apoiado por setores reacionários e pela grande mídia, insurgindo contra um governo democraticamente eleito. Tudo isso nos evidencia de que se trata de um golpe contra a nossa jovem democracia e suas instituições. “Quantos anos levaremos para nos recuperar?”, questiona.
MANIFESTO EM DEFESA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
CONTRA O GOLPE NO BRASIL
No dia 31 de março de 1964, um golpe de Estado instaurou no Brasil uma ditadura civil-militar, dando inicio a um tenebroso período de 21 anos de suspensão das garantias civis e políticas no País. Hoje, 52 anos depois, o povo brasileiro se vê frente a uma nova ruptura da ordem democrática. Como resultado da admissão pelo Senado brasileiro de um processo de impeachment baseado em irregularidades contábeis, Dilma Rousseff, que havia sido eleita em 2014 para um mandato de 4 anos, foi obrigada, no dia 12 de maio de 2016, a afastar-se de suas funções como Presidenta da República. Ainda que esse afastamento seja formalmente temporário, com duração máxima de 180 dias, período em que os senadores deverão voltar a avaliar os motivos pelos quais se solicita o impeachment, é improvável que Dilma Rousseff retorne à Presidência.
O afastamento de Dilma Rousseff da Presidência é o ápice de um processo caracterizado por uma arbitrariedade e polarização sem precedentes na sociedade brasileira democrática, perceptível pelo menos desde sua reeleição em 2014. Ao atribuir os recentes escândalos de corrupção exclusivamente às administrações do Partido dos Trabalhadores (PT) (embora elas tenham sido as únicas a ter a coragem de investigá-los até o fim, mesmo quando as investigações se voltavam contra elas mesmas) e ao manipular a opinião pública contra os riscos de uma suposta esquerdização do País, a oposição de direita ao governo de Dilma Rousseff aproveitou-se da crise econômica que emergiu depois de anos de estabilidade e crescimento e pôs em marcha uma violenta campanha midiática contra esse governo. A oposição conseguiu aglutinar contra o Partido dos Trabalhadores (PT) vastos setores das elites empresariais e das classes médias conservadoras, assim como setores autoritários representados no Congresso e no Poder Judiciário, com o objetivo evidente de proceder ao corte dos direitos sociais garantidos no governo Dilma Rousseff e à desregulação da economia. Além disso, é provável que, uma vez no poder, a oposição se recuse a dar continuidade às investigações de corrupção, já que estas possivelmente envolverão seus próprios membros – ao contrário do que ocorre com Dilma Rousseff, cuja probidade na administração da coisa pública não se põe em dúvida, já que acusações de corrupção não são parte do processo de impeachment.
O impeachment é um instrumento jurídico de uso extremamente limitado no presidencialismo brasileiro. Previsto no artigo 85 da Constituição Brasileira de 1988, seu uso é restrito a casos envolvendo crimes graves (crimes de responsabilidade) realizados pelo Presidente. Na medida em que as irregularidades contábeis na administração do orçamento de que se acusa Dilma Rousseff não constituem crimes de responsabilidade no sentido da Constituição, é evidente que este processo de impeachment não está fundamentado de maneira legítima. Além disso, todo o processo esteve cheio de aspectos questionáveis, o que contribui para agregar maior ilegitimidade a seus resultados. Portanto, não é um exagero considerar o presente processo de impeachment contra Dilma Rousseff um golpe branco que terá consequências duráveis para o Estado Democrático de Direito no Brasil.
Diante de isso, consideramos necessário manifestar nosso absoluto repúdio à destituição ilegítima da Presidenta Dilma Rousseff e nosso apoio irrestrito à manutenção do Estado de Direito no Brasil.
- Albena Azmanova – University of Kent, Belgium
- Alessandro Ferrara – University of Rome Tor Vergata, Italy
- Alina Valjent – Witten/Herdecke University – Germany
- Allan Breedlove –Loyola University Chicago, USA
- Alois Blumentritt – University Wien, Austria
- Amy Allen – Pennsylvania State University – USA
- Anahi Wiedenburg – London School of Economics, Argentina/UK
- Andreas Niederberger – Universität Duisburg-Essen, Germany
- Anna Dißmann – Witten/Herdecke University – Germany
- Arthur Oliveira Bueno –University of Erfurt, Germany
- Asger Sorensen – Aarhus University, Denmark
- Axel Honneth – University of Frankfurt/Columbia University, Germany/USA
- Aysen Candas – Bogazici University, Istanbul, Turkey
- Barbara Fultner – Denison University, USA
- Bernat Riutort Serra – University of Illes Ballears –Spain
- Brian Milstein – Goethe University Frankfurt, USA/Germany
- Carlos Henrique Santana – TU Darmstadt, Germany
- Charles Taylor – Mc Gill University, Canada
- Christopher Zurn – University of Massachussetts/Boston, USA
- Cora McKeena – Trinity College, Ireland
- Cristina Sánchez – Autonomous University of Madrid, Spain
- Dan Swain – Czech University of Life Sciences, Czech Republic
- Daniele Santoro – CNR, National Research Council of Italy, Italy
- David Alvarez – University of Minho/Braga, Portugal
- David Rasmussen – Boston College, USA
- Debora Spini – Syracuse University in Florence, Italy
- Dónal O’Farrell – Trinity College Dublin, Ireland
- Elisabeth v. Thadden – University of Jena, Germany
- Felicia Herrschaft – Goethe University Frankfurt, Germany
- Filip Vostal – Czech Academy of Sciences, Czech Republic
- Firica Stefan – University of Bucharest, Romania
- Francisco Naishtat – Universidad de Buenos Aires –Argentina
- François Calori – Université de Rennes 1, France
- Gesche Keding – Jena University, Germany
- Giulia Lasagni – Università de Parma, Italy
- Giuseppe Ballacci – University of Minho, Portugal
- Gorana Ognjenovich – University of Oslo, Norway
- Gustavo Leyva Martínez – Universidad Autónoma Metropolitana, México
- Hans-Herbert Kögler – University of North Florida, USA
- Hartmut Rosa – Jena University, Germany
- Heikki Ikäheimo – University of New South Wales, Australia
- Igor Shoikhedbrod – University of Toronto, Canada
- Isadora Henrichs – Trinity College Dublin, Ireland
- Italo Testa – Parma University, Italy
- Jazna Jozelic – University of Oslo, Norway
- João Honoreto – University of Witten/Herdecke, Germany
- Joaquín Valdivielso-Navarro – Universitat Illes Balears, Spain
- Johan Söderberg – Göteborg University, Sweden
- Johanna Oksala – University of Helsinki, Finland
- Johannes Schulz – Frankfurt University, Germany
- John Lumsden – University of Essex, UK
- Jonathan Bowman – University of Arkansas, USA
- Julian Culp – University of Frankfurt, Germany
- Jürgen Habermas – J.W. Goethe Universität Frankfurt, Germany
- Karoline Rhein – Witten/Herdecke University – Germany
- Kendralyn Webber –University of California Riverside, USA
- Lenny Moss – University of Exeter, UK
- Leonardo da Hora Pereira – Université Paris Ouest Nanterre La Défense, France
- Lorenz Mrones – University of Witten/Herdecke, Germany
- Luiz Gustavo de Cunha de Souza – Institut für Sozialforschung/Frankfurt –Germany
- Marco Solinas – Florence University, Italy
- Marek Hrubec – Czech Academy of Sciences, Czech Republic
- Maria Ines Bergoglio – Universidad nacional de Córdoba, Argentina
- María José Guerra – Universidad de Laguna – Spain
- María Pía Lara – Universidad Autónoma Metropolitana, Mexico
- Marjan Ivkovic – University of Belgrade, Serbia
- Mark Haugaard – University Galway – Ireland
- Marlon Urizar Natareno, Universidad Rafael Landívar, Guatemala
- Martin Javornicky – University of Galway, Ireland
- Martin Sauter – n/a –Ireland
- Martin Seel – J.W.Goethe Universität Frankfurt, Germany
- Masao Higarashi – Ritsumeikan University –Japan
- Matteo Bianchin – University of Milano, Italy
- Matthias Kettner – University of Witten/Herdecke, Germany
- Matthias Lutz-Bachmann – J.W. Goethe Universität Frankfurt, Germany
- Melis Menent – University of Sussex, UK
- Miriam Mesquita Sampaio de Madureira – Universidad Autónoma Metropolitana, México
- Mykhailo Minakov – Kiev-Mohyla Academy, Ukraine
- Nancy Fraser –New School for Social Research, USA
- Nancy Love –Appalachian State University, USA
- Natalia Frozel Barros –University of Paris 1, France
- Nathan Cogné – Trinity College Dublin, Ireland
- Nicola Patruno – Goethe University Frankfurt, Germany
- Niklas Angebauer – University of Essex, UK
- Odin Lysaker – Agder University, Norway
- Ojvind Larsen – Copenhagen Business School, Denmark
- Onni Hirvonen – University of Jyväskylä, Finland
- Pablo Gilabert – Concordia University, Canada
- Patrick O’Mahonny – University College Cork –Ireland
- Pedro Augusto Pinho – UES-RJ/UFRJ, Brazil
- Pedro Federici Araujo – PUC/RJ – Brasil
- Philipp Schink – J.W. Goethe Universität Frankfurt, Germany
- Philippe Sonnet – Université Catholique de Louvain, Belgium
- Pierre Schwarzer – Universität Witten/Herdecke, Germany
- Radu Neculau – University of Windsor, Canada
- Rahel Jaeggi – Humboldt University Berlin, Germany
- Rainer Forst – University of Frankfurt, Germany
- Richard Stahel – University of Constantin the Philosopher in Nitra, Slovak Republic
- Robert Fine – Warwick University, UK
- Roberta Ramos Marques – Universidade Federal de Pernambuco, Brazil
- Robin Celikates – University of Amsterdam, The Netherlands
- Rodrigo Cordero – Universidad Diego Portales –Chile
- Ronan Kaczyznski – Goethe University, Germany
- Rosie Worsdale – University of Essex, UK
- Ruy Fausto – USP/Université de Paris 8, Brazil/France
- Steven L. White – Wayne State University, USA
- Susan L. Foster – UCLA, USA
- Thomas Fossen – Leiden University, The Netherlands
- Valerio Fabbrizi – University of Rome, Tor Vergata, Italy
- Wolfgang Heuer – Freie Universität Berlin, Germany
- Zuzana Uhde – Czech Academy of Sciences, Czech Republic