Vanguarda compartilhada: uma ideia em movimento!
“A unidade política não prescinde da pluralidade da vanguarda e deve ser construída a partir dela”
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Em Vanguarda e Crise Atual, de 1990, a intelectual marxista Marta Harnecker utiliza o método de entrevista com dirigentes políticos de esquerda para estabelecer a ideia de vanguarda compartilhada ou coletiva como a unidade de todos os agentes de transformação social. Vanguarda é definida por Harnecker como “força social dirigente” dos processos políticos de transformação social. Logo, vanguarda não pode ser confundida com movimentos sem estrutura que se caracterizariam pela ausência de condução política.
A obra de Harnecker tem como pano de fundo a articulação das cinco organizações que deram origem a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN) que, em 1989, chegou a ocupar a capital de El Salvador mas foi derrotada pela ingerência do presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagen. A conclusão de Harnecker a partir do caso salvadorenho e de outros na América Latina é que as organizações de vanguarda desenvolvem características próprias a partir da origem social dos seus militantes e do trabalho político que desenvolvem. Há organizações de vanguarda que construíram seu trabalho entre camponeses; outras entre estudantes e setores de classe média e outras entre os trabalhadores das fábricas e nas cidades. As organizações representam individualmente forças sociais relevantes, mas não conseguem alcançar toda a atividade política nacional e setores sociais. Esta conclusão de Harnecker se opõe a uma visão idealista de vanguarda e está voltada para as conduções reais do processo político ao invés do somatório de siglas de organizações autoproclamadas revolucionárias.
Quando a intelectual marxista distingue vanguarda compartilhada e frente política, fica ainda mais nítida a importância que dá a vanguarda na condução do processo de transformação global. A frente política é, portanto, algo mais amplo – a exemplo de uma frente democrática e de resistência – em que a vanguarda define a condução real do processo de forma compartilhada – não obstante os demais setores que a compõe não terem a mesma visão de conjunto. Vanguarda compartilhada exige, portanto, mais do que criar frentes – fundamentais e necessárias – mas estabelecer programas compartilhados de ação de vanguarda, ou seja, que apontem a uma transformação profunda da ordem social e política. Outra contribuição importante de Harnecker é que vanguarda compartilhada não é sinônimo de fusão entre organizações. Ao contrário, as características que singularizam cada organização podem ser preservadas em nome do acúmulo do trabalho político. O que dá a elas sentido de transformação comum é a articulação de sujeitos sociais reais em torno de um programa político que estabeleça direcionamento e intencionalidade às suas ações.
Na atual conjuntura do país, vanguarda compartilhada pode ser uma ideia força que contribua para um maior estreitamento às organizações de vanguarda, partidárias ou não. A unidade política não prescinde da pluralidade da vanguarda e deve ser construída a partir dela. O nosso desafio é, a partir da realidade de cada grupo e organização, superar nossas reservas e construir um debate franco e aberto sobre os termos da resistência a Bolsonaro, recuperando nossas formulações sobre socialismo, democracia e luta popular.
Ivan Alex, Secretário Nacional de Movimentos Populares do PT
Fábio Nogueira, Secretário Nacional de Organização do PSOL