Brasil embarca em nova realidade supersônica

Capitães Rodrigo Pascotto e Ramon Fórneas já realizam voos sem instrutores; de volta ao país, em abril, iniciam preparo da geração que pilotará 36 superaviões de combate

Capitães Rodrigo Pascotto e Ramon Fórneas em testes na Suécia

Capitães Rodrigo Pascotto e Ramon Fórneas em testes na Suécia

Há cerca de 20 dias, a operação de um projeto de US$ 5,4 bilhões está nas mãos de dois cidadãos brasileiros numa longínqua cidade do interior da Suécia. O projeto é estratégico para a defesa nacional e de grande impacto no desenvolvimento tecnológico da indústria aeronáutica verde-amarela.

O custo: US$ 4,7 mil a hora de trabalho a bordo de uma realidade supersônica que se agregará à rotina da Força Aérea Brasileira (FAB) a partir de 2019. É quando as primeiras unidades dos superaviões Gripen NG aportam no interior de Goiás, a pouco mais de 100 quilômetros de Brasília.

Os céus iluminados, de azul intenso e profundo do planalto, serão o primeiro endereço da frota. “Os caças Gripen NG deverão equipar, inicialmente, o 1º Grupo de Defesa Aérea (GDA), sediado em Anápolis”, anuncia a Aeronáutica, em nota encaminhada à redação.

“A aquisição do caça proporcionará ao país exponencial poder dissuasório, que resultará na garantia da soberania do Brasil”, prossegue a nota da FAB. O contrato de compra dos 36 aviões foi assinado entre o governo brasileiro e a fabricante Saab, sueca, em outubro de 2014, dos quais 28 com um assento e, os demais (8), com dois. Os 36 estarão atuando do Brasil até 2024.

Único – Mais que custos elevados e dedicação intensa e integral, os capitães aeronautas Gustavo Pascotto e Ramon Fórneas vivem um momento único da história nacional.

E não escondem o sentimento de satisfação ao relatarem, por via eletrônica à reportagem da Agência PT de Notícias, a experiência inédita – e deslumbrante – de pilotar o caça, tendo ao fundo, em cortes da memória, saudades do Brasil. Os dois estão longe do país desde meados de novembro.

Em janeiro, eles começaram os testes no avião e, cerca de três semanas atrás, executaram o primeiro voo solo, sem instrutores, ao lado dos colegas da força aérea sueca. Os Gripen alcançam duas vezes a velocidade do som (2,45 mil quilômetros por hora).

Para se adaptarem a esse desempenho, os dois tiveram de ser submetidos, logo que chegaram à Suécia, a testes específicos de resistência, como a centrífuga. Durante 15 segundos eles foram projetados a uma força de nove vezes a da gravidade – e foram aprovados.

“Durante o voo, a sensação foi a melhor possível. Pilotar uma aeronave de quarta geração com a performance do Gripen, e ter a oportunidade de visualizar e operar uma tecnologia embarcada de última geração, é muito gratificante para qualquer piloto de caça”, relata Ramon Fórneas.

Três palavras – Os pilotos brasileiros adotaram três palavras para expressar o sentimento que os acompanha e que os emociona ao firmarem as mãos no manche do caça numa velocidade superior ao do som, cortando a costa norte da Europa: orgulho, gratidão e responsabilidade.

“Sinto muito orgulho em poder fazer parte desse processo que em muito beneficiará não somente a nossa Força Aérea, mas também o Brasil. Tenho um extremo sentimento de gratidão à FAB pela confiança a mim depositada para o desempenho da missão, a qual é certamente um marco de grande relevância na vida de um piloto de caça”, afirma Rodrigo Pascotto.

“Ao mesmo tempo vem um sentimento de responsabilidade enorme; sei que teremos muito trabalho, não só aqui, durante a formação operacional na aeronave, que é extremamente puxada, bem como no Brasil, onde seremos os responsáveis por disseminar os conhecimentos adquiridos aqui na Suécia”, completa Fórneas.

Os Gripen permitirão à FAB executar a defesa aérea em qualquer ponto do território nacional com carga plena de armas e combustível. Os caças vão integrar o Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro com uma ampla gama de missões a serem realizadas, em cenário compatível com suas capacidades – altas velocidades e grandes altitudes.

Pascotto e Fórneas foram escolhidos entre cerca de 330 pilotos de caça da FAB, que formam 11 esquadrões de 30 profissionais cada um. Gustavo se sente lisonjeado, mas lembra que os históricos operacionais de equipagem (a Ficha Hope) lhes asseguraram a escolha.

Outra preocupação da FAB, esclarece, foi a de selecionar quem pudesse permanecer por um bom tempo no projeto, “de modo a maximizar a transferência dos conhecimentos e experiências obtidas” na Suécia.

“A antiguidade dos pilotos foi levada em consideração, uma vez que os mesmos não poderiam ser muito antigos para que tivessem mais tempo na unidade operacional após retornarem ao Brasil”, anuiu Fórneas.

Numa comparação com os caças que antecederam os Gripen, a principal diferença é a performance, acreditam os dois capitães.

“Por possuir uma boa relação peso-potência, o Gripen possibilita rápidas acelerações e subidas para níveis de voos mais elevados, o que é extremamente importante para o cenário de combate atual. Em relação ao Mirage 2000, embora a performance seja similar, o grande diferencial é o sistema embarcado, que possui uma grande quantidade de sistemas e sensores totalmente integrados, o que aumenta em muito  a capacidade de gerenciar armamentos e a construção da consciência situacional durante um engajamento”, explica Pascotto, de São Bernardo do Campo (SP).

“Inicialmente, a maior diferença que pude perceber foi a performance, uma vez que o Gripen possui aproximadamente quatro vezes a potência do F-5M e uma relação de peso potência muito boa”, conta Fórneas, de Belo Horizonte (MG).

Formação – Ambos frequentaram a Escola de Formação de Cadetes da Aeronáutica, em Barbacena (MG), a partir de 1999 e formaram-se na Academia de Pirassununga (SP) em 2004. De lá seguiram para Natal, onde fizeram, em 2005, o Curso de Formação de Pilotos de Caça.

Por cinco anos, Pascotto voou aeronaves T-27 e A-29 e, em 2011, foi transferido para o 1° Grupo de Defesa Aérea (Base Aérea de Anápolis), onde até 2013 se dedicou às caças F-2000 (Mirage), e, em 2014, ao F-5M.

Fórneas seguiu, em janeiro de 2006, para o Esquadrão Grifo, localizado em Porto Velho (RO), onde ficou durante quatro anos, tornando-se líder de Esquadrilha de Caça. Em janeiro de 2010, se transferiu para o 1º Grupo de Aviação de Caça, no Rio de Janeiro (Base Aérea de Santa Cruz).

Em novembro de 2014 foi designado para realizar o treinamento de conversão operacional para pilotos de JAS-39C/D (Gripen). Antes, voou caças T-25 Universal, T-27 Tucano, A-29 Super Tucano, C-98 Caravan e F-5M.

Por Márcio de Morais, da Agência PT de Notícias

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