Brasil sofre retrocesso diplomático com golpe e Serra ministro
Secretária de Relações Internacionais do PT afirma que José Serra coloca em risco política externa, soberania nacional e recursos naturais do Brasil
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Antes mesmo do afastamento da presidenta eleita Dilma Rousseff, era possível prever que o golpe comprometeria a soberania brasileira e traria, inevitavelmente, retrocessos para a política externa, avalia a secretária de Relações Internacionais do PT, Mônica Valente. Para ela, por conta da ilegitimidade da ruptura institucional, todo ministério do governo golpista de Michel Temer representa um grande retrocesso para o povo brasileiro e para o Brasil.
À Agência de PT de Notícias, Mônica argumenta que as relações exteriores serão especialmente afetadas com a escolha do senador José Serra (PSDB) para ocupar o cargo de ministro. “A primeira medida do chanceler é a de desafiar e de ser deseducado com a Unasul e com países companheiros do Brasil, que são da região latinoamericana e caribenha, países da Alba, que se pronunciaram sobre a ameaça à democracia, no caso brasileiro”.
Este é um sinal de que o chanceler golpista desconhece que, tanto no Mercado Comum do Sul (Mercosul), quanto na União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e na Organização dos Estados Americanos (OEA), há cláusulas democráticas em vigor. Ou seja, estes organismos multilaterais têm como critério que cada um dos países obedeça regras da democracia. “Isto é uma vitória das lutas contra as ditaduras no continente americano. Já por aí mostra o retrocesso da política externa brasileira”, criticou ela.
Diversos países manifestaram oficialmente que não consideram que a abertura de processo de impeachment tenha legitimidade, assim como o governo Temer. El Salvador, Uruguai, Chile, Venezuela, Bolívia, Cuba e Equador manifestaram preocupação com o afastamento da presidenta eleita e com os impactos sobre a estabilidade política e econômica no continente. Partidos políticos de esquerda e organizações internacionais também repudiaram oficialmente o golpe no Brasil.
Outro aspecto preocupante deve ser o fato de Serra ser notadamente um defensor de mudanças nas regras da exploração do pré-sal, propondo a flexibilização da exploração dos recursos energéticos brasileiros pelas grandes multinacionais do petróleo. “O governo golpista e ilegítimo pretende entregar o Brasil e as riquezas do povo brasileiro, e terminar com a política externa altiva e ativa exercida ao longo de 13 anos do presidente Lula e da presidenta Dilma”.
A situação se complica ainda mais porque as decisões de Serra – de se afastar dos países do hemisfério Sul e de flexibilizar regras para exploração de recursos – fazem parte de uma proposta para diplomacia que foi derrotada nas urnas. “Trata-se de querer implementar política externa que foi derrotada nas eleições de 2014, fazendo com que o Brasil volte a uma posição subalterna aos interesses norte-americanos, das grandes multinacionais, das petroleiras, é isto que está em jogo, a riqueza e a soberania nacional”.
A secretária de Relações Internacionais do PT reforçou que esta política foi rejeitada nas urnas tanto em 2010, ocasião em que o próprio Serra foi um dos principais nomes derrotados nas eleições presidenciais, quanto em 2014.
“Contra isso, vamos lutar dentro e fora do Brasil. Não vamos permitir tamanho retrocesso na política externa – e em outras políticas também”, afirmou Valente.
Por Daniella Cambaúva e Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias