Bruno Roger: Novos desafios para uma nova geração de petistas

“Os seres humanos sempre foram em política vitimas ingênuas dos outros e continuarão sendo enquanto não aprenderem a desvendar por trás de todas as frases, declarações e promessas morais, religiosas,…

“Os seres humanos sempre foram em política vitimas ingênuas dos outros e continuarão sendo enquanto não aprenderem a desvendar por trás de todas as frases, declarações e promessas morais, religiosas, políticas e sociais, os interesses de classe. Os partidários de reformas e melhoramentos ver-se-ão sempre enganados pelos defensores do velho, enquanto não compreenderem que toda instituição velha, por mais bárbara e apodrecida que pareça, se mantem pela força de uma ou outras classes dominantes. E para vencer a resistência destas classes há apenas um meio: encontrar na própria sociedade que nos rodeia, educar e organizar para a luta revolucionária, os elementos que possam e devam formar a força capaz de varrer o velho e criar o novo”.  (Vladmir Ilitch Lenin)

Inegavelmente, nosso país atravessa um momento de valiosas conquistas. Combatemos a pobreza, reduzimos a desigualdade social e colocamos o Brasil no eixo do desenvolvimento econômico. Nos últimos doze anos foram gerados mais de 15 milhões de empregos que, por sua vez, fortaleceram a capacidade de consumo do povo brasileiro, aquecendo o mercado interno e possibilitando a inclusão social de mais de 40 milhões de pessoas. Também contribuíram neste processo as políticas de valorização real do salário mínimo e os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família e o BPC (Benefício de Prestação Continuada). Assim, criamos uma nova classe trabalhadora que esbanja autoestima e confiança no futuro, além de prepararmos o caminho para a inserção efetiva e soberana do país no mundo. As politicas sociais e econômicas, adotadas pelos governos do PT, provocaram forte impacto na realidade nacional e modificaram a estrutura de classes ora vigente na sociedade. Contribuímos de maneira decisiva para a melhora na qualidade de vida das pessoas, promovendo um maior bem estar social e criando condições para o exercício ativo da cidadania.

No entanto, tais avanços encontram seus limites em um projeto de conciliação de classes com setores das grandes elites que, lançando mão de uma inescrupulosa seiva reacionária, não permitiram que fizéssemos alterações mais profundas na estrutura do Estado e da nação, isto é, embora tenhamos dado passos firmes na direção de uma sociedade mais justa e igualitária, ainda convivemos com a manutenção dos espúrios interesses e privilégios de parte da classe dominante conservadora. A grande diferença é que, por meio de uma tática acertada, conseguimos crescer e distribuir renda, gerar emprego e manter a inflação dentro da meta, reduzir substancialmente a taxa de juros e atrair investimentos estrangeiros. Além disso, ampliamos e fortalecemos a indústria nacional, bem como o setor de comércio e serviços e, acima de tudo, potencializamos a capacidade de consumo do povo brasileiro, através da melhoria da renda e ampliação do crédito popular.

Os dados da economia brasileira indicam o quanto crescemos e o quanto ainda podemos crescer, transformando o Brasil em uma potência econômica mundial. O PIB, que em 2003 era de 550 bilhões de dólares, hoje  supera os 2.1 trilhões. Somos hoje a sétima economia do mundo e certamente chegaremos em 2016 na quinta posição. O comércio externo passou de 119 bilhões de dólares anuais em 2003 para 480 bilhões em 2013. O país se tornou um dos seis maiores destinos de investimento externo direto, recebendo 63 bilhões de dólares só no ano de 2013, de acordo com as Nações Unidas. Os Governos do PT elevaram o Brasil à condição de segundo maior exportador de alimentos do planeta terra; primeiro exportador de soja, café, carne bovina, laranja, açúcar e etanol; quarta indústria naval do mundo; o quarto produtor de cimento; sétimo produtor de veículos; segundo maior gerador de energia hidroelétrica; o primeiro produtor de etanol e o terceiro de biodiesel; terceiro maior mercado de computadores pessoais; quinto em uso de telefones celulares; quarto país em usuários da internet; a quarta maior força de trabalho, com 104 milhões de integrantes da PEA (População Economicamente Ativa); sétimo maior mercado de consumo do mundo e quinto país em destino de investimentos estrangeiros.

Reduzimos a inflação de 12.5 por cento em 2002 para 5.9 por cento em 2013. Há dez anos consecutivos ela permanece dentro dos limites estabelecidos pela autoridade monetária, mesmo com a aceleração do crescimento. Reduzimos a divida pública líquida praticamente à metade; de 60.4 % do PIB para 33.8 %. Desde 2008, o país fez superávit primário médio anual de 2.5 por cento, o melhor desempenho entre as grandes economias.

Os desafios colocados para uma nova etapa ou um novo ciclo de transformações exigem a formulação de uma tática mais denodada. Para seguirmos trilhando o caminho do desenvolvimento nacional, far-se-á necessário a realização das reformas estruturais, assim como maiores investimentos na infraestrutura do país. Além disso, precisaremos de uma politica mais encorpada nas áreas da educação, ciência e tecnologia, persistindo na inovação e buscando os meios necessários para alcançarmos o nível de uma economia mais competitiva. Evidentemente, que nos últimos anos obtivemos inúmeras conquistas na área educacional. Poderíamos mencionar o PROUNI que incluiu mais de um milhão de jovens pertencentes às famílias em situação de vulnerabilidade social no ensino superior; a construção de 14 novas universidades federais; criação de 214 novas escolas técnicas; ampliação de campus universitários já existentes; aumento das vagas por meio do REUNI; fomento a formação técnica e profissionalizante através do PRONATEC; dentre tantas outras medidas que colocaram a educação pública em patamar mais elevado. Deste modo, estamos preparando o Brasil para ocupar um lugar de destaque e protagonismo no cenário internacional e acumulando forças para incidirmos na disputa global, muito embora já exerçamos atualmente influencia significativa no mundo.

Neste sentido, convém fazermos um balanço positivo dos nossos governos, mas não podemos cometer o erro de procedermos em uma defesa apaixonada, acrítica e despolitizada. Reconhecer e defender os avanços e conquistas impetrados nos últimos anos é condição sine qua non para garantirmos a continuidade do projeto em curso e, sobretudo, para aprofundarmos ainda mais as transformações iniciadas em 2003. Doravante, somente deste modo cumpriremos de forma eximia com uma etapa histórica fundamental na construção de um Brasil mais justo e igualitário, onde a democracia seja radicalizada em suas buliçosas dimensões.

Decerto, convivemos com uma sensação – em grande medida instilada pela direita – de esgotamento do modelo de desenvolvimento em curso. Com o aumento da capacidade de consumo e o crescimento vertiginoso da economia nacional, surgem novas demandas sociais, por ora, apresentadas pelos agentes de uma sociedade mudada. O que presenciamos nas manifestações de junho de 2013 reflete tal ocorrência. A população exige mais direitos e melhores serviços, como educação, saúde, transporte e segurança. Uma reinvindicação legítima, pertinente e necessária. No entanto, é preciso compreender que para concretizarmos esta etapa, aprimorando a qualidade dos serviços públicos e garantido maior bem estar social, por meio da incorporação programática e da constitucionalização de uma nova agenda de direitos, faz-se necessário intervir em estruturas historicamente sedimentadas. Por isso, uma vez mais, as reformas estruturais tornam-se imprescindíveis. De igual forma, percebemos nas manifestações populares um sentimento agudo de insatisfação e descontentamento com a politica e os políticos tradicionais. Um verdadeiro apelo contra a corrupção endêmica que afeta o Estado brasileiro.

Indubitavelmente, precisamos alterar o modo e o jeito de fazer política no Brasil, mas não podemos incorrer no erro de ignorar todo processo histórico que resultou e gerou esta cultura política ateada. Não podemos também deixar de dizer que nosso governo combateu e combate de forma decisiva, corajosa e aberta, a corrupção. Assim, para prosseguirmos efetivamente na superação deste gargalo é necessário fazermos a reforma política com voto em lista pré-ordenada e financiamento exclusivamente público, democratizando a democracia e criando mecanismos que coíbam a influencia do poder econômico nas eleições, terminando, desta feita, com a promiscuidade mórbida que existe entre a elite econômica financeira e a elite política. Além disso, tal reforma cumprirá relevante papel na medida em que atenuar os efeitos da dita “crise de representatividade”, tal como do processo de “judicialização da política” que, por sua vez, configura-se como fundamento de uma intensa crise institucional que afeta os poderes da república. Desta forma, torna-se urgente uma repactuação que defina objetivamente as atribuições de cada poder, sem que haja sobreposição institucional, quanto menos exacerbação de autoridade.

Indo adiante, a esquerda precisa resguardar-se do voluntarismo impulsivo que tende a contaminar e putrificar a ação política de determinados agentes. Se estamos construindo uma nova sociedade dentro da perspectiva materialista histórica, torna-se pressuposto inarredável compreendermos as contradições inerentes a cada etapa deste processo. Não podemos perder de vista a disputa política ideológica que deve ser travada através de uma incessante guerra de posições. A iniciativa dos sujeitos políticos coletivos, a capacidade de fazer política, de envolver grandes massas na solução de seus problemas, de lutar cotidianamente pela conquista de espaços e posições, sem perder de vista o objetivo final: promover transformações estruturais que ponham fim à formação econômico-social capitalista. Não podemos esquecer que nossa virtude sublime deve consistir em uma apurada capacidade de analise, acompanhada de uma ação massificada e consubstanciada na paciência revolucionária. A disputa de hegemonia e a formação de uma maioria popular capaz de incorporar nosso conteúdo programático apresentam-se como condição indispensável para vencermos os novos desafios históricos que estão colocados. Neste sentido, vale retomarmos a essência petista, renovarmos as estruturas partidárias e o modo de fazer política, adotarmos uma nova postura diante da sociedade e concretizar o sonho de construirmos um partido de massas que atue em total sintonia com os anseios do povo brasileiro. Queremos um PT com o rosto novo, mas que este novo rosto tenha forma definida e própria, não sendo apenas uma bela produção de maquiagem e pó de arroz.

Os governos do PT mudaram os rumos da história do Brasil. O PT é um partido que nasceu da esperança de milhares de trabalhadores e trabalhadoras, artistas, militantes das organizações de esquerda que combateram a ditadura, estudantes, militantes das CEB’s (Comunidades Eclesiais de Base), dentre outros agrupamentos e setores progressistas que defendiam a retomada da democracia. Um partido que surgiu na contramão da via prussiana. Que nasceu de baixo para cima. Um partido que cresceu em consonância com o sentimento popular, fruto de muitas lutas sociais e políticas. Durante tempos ostentamos a volição da mudança. Não podemos admitir que o PT seja, hoje, percebido ou reconhecido como o partido da conservação do status quo. É necessário que revigoremos o espirito de lutas da militância, reafirmando nosso compromisso histórico com o projeto socialista. Para isso, precisamos de uma analise correta da atual conjuntura e uma ação capaz de nos reposicionar no cenário político, fortalecendo a ideia de que sempre seremos a alternativa real de mudança da realidade lamuriosa que aflige o povo brasileiro.

Não surgimos dentro da lógica pura e simplesmente pragmática do jogo eleitoral. O PT não foi criado para se restringir aos limites da disputa do poder. Antes pelo contrário, nosso objetivo consiste em fazer a disputa real da sociedade, conquistando mentes e corações para o projeto socialista, tendo em vista que a transformação radical da sociedade e a substituição de um sistema socioeconômico por outro devem ser entendidas, como processos resultantes de intensa luta política e ideológica na qual se busca produzir dialeticamente, por meio de embates sociais e da ampla discussão em torno do projeto contra hegemônico, uma nova visão de mundo a ser introjetada pela maioria da população, um novo consenso, um novo senso comum.

Neste sentido, não podemos perder de vista o horizonte estratégico que nos guia e deve sempre nortear a ação política de cada militante, dirigente, parlamentar e governante petista. Não podemos admitir que o PT seja decomposto em uma maquina eleitoral e tenha seu papel histórico reduzido ao de uma legenda qualquer. Assim, cabe um vertiginoso processo de autocritica a fim de reafirmar veementemente a dimensão estratégica, histórica e revolucionária de nosso projeto.

Fazemos parte de uma geração politicamente estigmatizada. Uma geração que convive com a pecha do desinteresse e da desmotivação pelas formas tradicionais de participação. A maior geração de jovens que o Brasil já teve, mais de 50 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos. O que significa uma série inesgotável de possibilidades econômicas, mas também uma fonte insidiosa de problemas sociais e estruturais. Desta forma, os desafios colocados apresentam-se de uma maneira ainda mais complexa.

Durante os 34 anos de existência do partido,vale reconhecer o quanto evoluímos e crescemos, contudo, vale também reconhecer que é necessário reposicionarmos estrategicamente o PT ante a nova conjuntura e seus elementos peremptórios que formam um mosaico alegórico de perspectivas, desafios e oportunidades. Se estamos a pouco mais de uma década liderando um governo de coalização que transformou profundamente a vida do povo brasileiro e mudou os rumos do país, é chegada a hora de refletirmos sobre os limites e esgotamento da tática colaboracionista, bem como avaliarmos os impactos deste processo no interior da organização partidária. A situação de muitos diretórios do PT país a fora é deplorável, e, já percebemos efeitos cogentes do estapafúrdio mal da degeneração burocrática e da decadência ideológica. Existe uma diferença grande entre fazermos opção tática pela via institucional, como meio para atingirmos determinadas metas estratégicas, e, por outro lado, ficarmos restritos à luta institucional, uma vez que seus riscos são eminentes e historicamente comprovados. Por isso, não podemos permitir que os rumos do PT repousem absortos nas mãos de certos agentes que carecem de visão estratégica e perspectiva histórica. Manter e ampliar o trabalho de formação na base, a relação com a sociedade e a luta social é dever de toda organização de esquerda.

Fazemos parte também de uma geração que precisa retomar a formação político ideológica de esquerda. Que tenha capacidade de buscar na fonte do marxismo inspiração para a luta cotidiana e elementos para interpretação da realidade. Por isso, é preocupante quando nos deparamos com determinadas situações que, para tanto, evidenciam sinais da influencia negativa dos vícios institucionais do parlamento e do governo na estrutura partidária. Há que se preocupar com os rumos do PT, do Brasil e do mundo. Pois, o papel básico de um partido de esquerda é contribuir para a elevação da consciência de classe, superando marcos dos interesses puramente imediatos, economicistas, corporativos, para o nível da visão global da realidade, forjando, desta feita, uma “vontade coletiva nacional-popular”, capaz de hegemonizar um projeto político nacional de construção de uma sociedade socialista. O partido, portanto, é a organização capaz de promover a transmutação do momento egoístico-passional, economicista e corporativo dos grupos sociais para o momento ético político, universalizante, hegemônico, no que Gramsci chama de momento “catártico”, quando a ideologia, como “criação da fantasia concreta”, atua sobre um povo disperso e pulverizado para despertar e organizar a sua vontade coletiva.

Decerto, o momento atual exige um efetivo e profundo pacto geracional, capaz de reoxigenar as estruturas partidárias, dinamizar os processos internos e, acima de tudo, retomar nossa relação com a sociedade brasileira, especialmente com a juventude. Faz-se necessário reconhecermos que ao longo dos últimos anos distanciamo-nos por demais da própria evolução dos tempos. O Brasil não é mais o mesmo e o PT teve papel essencial nesta transformação. Se mudamos a cara do país, não estamos sendo reconhecidos pelos próprios beneficiários de tais mudanças como principais autores da obra. A atuação do PT somente será efetiva se neste processo de elaboração de um pensamento superior ao do senso comum não abandonar o contato com as massas. Pois, é deste contato que podemos extrair a fonte dos problemas a serem estudados e resolvidos, impedindo que o partido descole-se da vida prática e caia em um governismo estéril e de gabinete.

Temos um saldo político positivo, mas não podemos nos eximir da nossa responsabilidade histórica. A geração que fundou o PT cumpriu, cumpre e, certamente, continuará cumprindo um papel central na condução do Partido. No entanto, já percebemos sinais que apontam para a necessidade urgente da transição e renovação geracional.

No 4° Congresso do partido realizado em 2010, aprovamos uma regra estatutária que garante 20% de pessoas até 29 anos em todas as instancias de direção do partido. Sendo assim, atualmente contamos com jovens dirigentes ocupando espaços de destaque e emponderamento, contudo, há que se problematizar as prováveis consequências e impactos futuros de tal medida na dinâmica de funcionamento e na intervenção política da organização partidária. Existe algum critério político ideológico para a indicação destes novos dirigentes jovens? Por que transferimos para as forças políticas e chapas do PED a responsabilidade de renovarem o partido? Será que tal processo não fragilizará as demais instancias partidárias, especialmente as secretarias de juventude do PT? Por que não fortalecer e estruturar a organização de uma juventude petista capaz de formar novos quadros para a ocupação de espaços estratégicos? Uma coisa é certa, necessitaremos de muito preparo político, pois os desafios colocados para a nova geração de petistas que conduzirá o PT ao longo das próximas décadas apresentam-se sob uma conjuntura ideologicamente imponderável e historicamente indeterminada.

Do ponto de vista partidário, precisamos transformar o PT em um partido verdadeiramente de massas e das massas. Um partido que consiga restabelecer o dialogo com a sociedade e incendiar corações e mentes. Um partido que acumule forças e seja propulsor da disputa de hegemonia. Precisamos disputar as opiniões da sociedade. Precisamos devolver ao PT à condição de patrimônio do povo brasileiro, forjando uma nova utopia popular. Sermos vanguarda na reforma intelectual e moral do povo, construindo novos valores, contrários aos valores do capitalismo global, e pavimentando, desta forma, o caminho para a realização do socialismo em nosso país. Um socialismo com a cara do Brasil. Que contemple a diversidade do nosso povo e da nossa gente, levando em consideração a tradição histórica e cultural que tanto enrijece as raízes brasileiras. Um socialismo que demude o Brasil no polo irradiador de outro mundo possível. A começar pela América Latina e Caribenha, mas a espalhar-se pelo mundo. Deste modo, transformar o PT em um partido de massas e das massas, com milhões e milhões de filiados e filiadas, pessoas identificadas com nosso programa e com nossas lutas, é condição necessária para avançarmos na disputa real da sociedade brasileira e modificarmos definitivamente a correlação de forças historicamente arraigada nas instituições anacrônicas do Estado e também na sociedade.

Para tanto, é preciso ter clareza das incontáveis lições acumuladas ao longo da tradição da esquerda que acenam na direção de uma concepção de partido capaz de transcender seus próprios limites. O PT deve assumir uma posição de vanguarda na conquista da hegemonia, na medida em que deve ser um lugar de reflexão ideológica, atuando de maneira educativa, no sentido de aumentar substancialmente a influencia política do povo. O PT não deve lutar apenas pelo poder, mas também por uma revolução cultural, pela criação e desenvolvimento de uma nova cultura, baseada em outros valores e outras perspectivas históricas. Nesta linha, temos uma energia geracional acumulada e concentrada em nosso país, falta-lhes, entretanto, direção política para que tal força seja canalizada na luta contra hegemônica, criando as condições materiais e simbólicas para o surgimento do novo.

Doravante, do ponto de vista do país, cabe à nova geração de dirigentes petistas perseverar nas reformas estruturais e estruturantes do estado. Precisamos criar uma nova cultura politica. Para isso, torna-se inadiável a reforma política, urbana, agraria, judiciária, tributária, educacional e a democratização das comunicações. Ou seja, todas as medidas capazes de modificar substancialmente a estrutura política e socioeconômica do Brasil.

Depois de 50 anos desde o discurso de Jango na Central do Brasil, onde o então presidente lançava o pacote das Reformas de Base, contabilizamos melhorias pontuais em várias áreas, mas é impressionante como ainda permanece urgente a necessidade de mudanças estruturais. Não podemos simplesmente fazer uma transposição histórica automática das reformas defendidas pelo Jango, pois os tempos mudaram e seria fatalismo crer que nada avançou nos últimos 50 anos, mas é válido reconhecermos que o Golpe Militar de 64 interrompeu um processo que, provavelmente, daria outros rumos para a história do país. Por isso, não podemos achar que vivemos em uma democracia consolidada e que ameaças de potenciais golpes de Estado não encontram espaço na atual conjuntura. Seria muita ingenuidade pensar desta forma. Seria o mesmo que desconsiderar a disposição das forças reacionárias e de direita de defenderem a todo custo seus interesses. A disputa política é sempre uma disputa de interesses de classe. Por mais que os tempos tenham mudado, o fator que dificulta a realização das reformas estruturais atualmente no Brasil é o mesmo que impossibilitou Jango de realizar as reformas de base.

Por isso, disputar as opiniões da população no sentido de conquistarmos o apoio popular e politico necessário à concretização das reformas estruturais, transfigura-se como elemento constitutivo de nossa tarefa histórica. Faremos isto na medida em que tivermos uma boa estratégia, acompanhada de criatividade e flexibilidade tática para disputarmos efetivamente a hegemonia cultural, formando uma nova mentalidade política, uma nova moral, um novo ethos, uma nova concepção de mundo.

Além disto, precisamos consolidar os avanços obtidos pelos governos do PT na área social, transformando programas de governo em ações de estado, constitucionalizando-os por meio de marcos regulatórios consistentes. Precisamos consolidar os avanços obtidos no combate às discriminações e garantia dos direitos humanos. É nosso dever elaborar uma agenda que acene para ações estratégicas do ponto de vista do desenvolvimento nacional, considerando medidas de infraestrutura, combinadas com inovação tecnológica na indústria, nos serviços e no comercio. Transformar o Brasil em pais de economia competitiva, com crescimento e distribuição de riquezas, combatendo a desigualdade social, regional e estrutural que tanto assola o nosso povo. Pensar um país que seja soberano e autossuficiente, que seja referencia na geopolítica mundial, fortalecendo parcerias estratégicas como no caso da América do Sul, Latina, Caribenha e especialmente dos BRICS.

O que está em jogo é um novo ciclo na politica nacional e na politica mundial. Estamos diante de um processo de “transição” geracional que, inexoravelmente, incidirá nos rumos do Brasil e do mundo. Por isso é fundamental disputarmos os caminhos estratégicos do PT, pois este deve continuar sendo o instrumento da classe trabalhadora para intervir nas grandes decisões políticas, na realpolitik. É preciso ter claro que não podemos pensar e construir o futuro a partir do presente, mas, ao contrário, temos que pensar e construir o presente a partir do futuro. Pois, o futuro que nos aguarda – para aqueles que fazem a disputa política sob os pressupostos do materialismo histórico e dialético – é a sociedade sem opressores e oprimidos, a sociedade livre e igual, a sociedade SOCIALISTA.

À luta companheir@s!

 

Bruno Roger Ribeiro é membro da Direção Nacional da Juventude do PT.

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