Cantareira registra baixa recorde
Quatro meses passados do início do bombeamento do volume morto, os 182,5 bilhões de litros de água, acrescidos em 16 de maio, já se esgotaram
Publicado em
Nem a redução da pressão na distribuição de água impediu que o Cantareira atingisse o nível mais baixo de sua história. Nessa segunda-feira (22), o volume armazenado do sistema caiu para 8%. Quatro meses passados do início do bombeamento do volume morto e os 182,5 bilhões de litros de água, acrescidos em 16 de maio, já se esgotaram. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) conta agora com 78,8 bilhões de litros para abastecer 6,5 milhões de habitantes da região metropolitana de São Paulo.
Quando o Ministério Público Federal (MPF) recomendou a adoção de racionamento, tanto o governador Geraldo Alckmin(PSDB) quanto a concessionária descartaram a hipótese, assegurando que seria possível garantir abastecimento de água até março do ano que vem.
Para o presidente do Comitê da Bacia do Alto Tietê, Chico Brito, falta transparência do governo estadual sobre a real situação da crise hídrica. “Manifestação correta do estado não vai ter. Por uma questão eleitoral, o Alckmin vai sustentar o argumento de que vai resolver tudo. Na prática, ainda não existe estrutura para resolver o problema de falta de água em São Paulo”, avaliou ele.
Uma das medidas previstas pela empresa é a captação da segunda cota de volume morto do Cantareira. Lá, encontra-se uma reserva de 105 bilhões de litros de água. Entretanto, a Sabesp precisa de uma autorização, ainda não concedida, da Agência Nacional de Água (ANA) para bombear esse volume. Havendo o esgotamento também dessa água, o futuro do Cantareira é incerto.
“Agora não tem muito o que ser feito. É esperar a chuva e o que caiu até agora não foi suficiente. Não tem outra fonte de água. Na rede, existe pouca margem para manobrar os reservatórios. Sem o Cantareira, é possível abastecer 2 milhões de pessoas, mas o restante [cerca de 4,5 milhões de paulistas] depende exclusivamente do Sistema”, explica o especialista em engenharia hidráulica da Universidade de São Paulo José Carlos Mierzwa. Ainda segundo o professor, esgotar a segunda cota significa ficar sem água.
Já Brito lembra que o restante de água disponibilizada atualmente tem prazo de duração: próximos 30 dias. Caso, o governo não entregue neste período as obras para bombeamento da segunda cota, corre-se o risco de colocar os paulistanos numa situação de falta de água pior do que já estamos enfrentando, argumentou. “Estamos uma crise não declarada”, concluiu Brito.
ANA fora do Gtag – Na última sexta-feira (19), o diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, enviou ofício ao superintendente do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), Alceu Segamachi Júnior, comunicando a retirada da ANA do Grupo Técnico de Assessoramento para a Gestão do Cantareira (Gtag). No documento, ele propôs a revogação da Resolução Conjunta ANA/DAEE nº 120 de 10/02/2014, que criou o grupo.
De acordo com o Ofício, a decisão foi motivada pelas manifestações do secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de Alckmin, Mauro Arce, de negar acordo sobre a proposta de novos limites de retirada de água do Sistema Cantareira – uma proposta foi apresentada em nome do secretário na última reunião do GTAG, em 21 de agosto, e posteriormente acordada entre Arce e Andreu.
Por Camila Denes, da Agência PT de Notícias