Carlos Zarattini: Diretas para sair da crise
Nunca, em tempos recentes, um governo teve tão baixa aprovação
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O Brasil vive dias trágicos e impregnados de desilusão. O governo ilegítimo Temer, envolvido em denúncias de corrupção comprovadas por malas de dinheiro e gravações comprometedoras, leva o país para o buraco. Adotou política econômica elitista e ortodoxa desastrosa, com mais de 14,3 milhões de desempregados. Ao mesmo tempo, promove a destruição de direitos sociais e econômicos e a desnacionalização da economia, com entrega irresponsável de riquezas nacionais a grupos estrangeiros, como o pré-sal.
É uma sucessão de equívocos e escândalos que condenam o Brasil a ser um país periférico, verdadeira república bananeira. Nunca, em tempos recentes, um governo teve tão baixa aprovação. É a primeira vez que um presidente, no exercício do cargo, é investigado pela Polícia Federal.
Milhares de empresas faliram, há uma recessão a perder de vista. Esse quadro não mudará com a atual política econômica. Para sair disso, é preciso eleições diretas, para presidente e o Congresso, a fim de se garantir legitimidade e governabilidade que assegurem a implementação de um programa que tire o país da crise e traga paz à sociedade, conflagrada diante da ilegitimidade do atual governo. Temer não tem mais condições de governar.
É necessário haver boa vontade de todos as correntes políticas e ideológicas para estabelecer uma plataforma mínima, que garanta crescimento com distribuição de renda e justiça social. Não se pode, contudo, abrir mão de direitos históricos, como aposentadoria pela Previdência pública e direitos trabalhistas. Tampouco a preservação dos interesses nacionais, num momento em que o mundo reforça a importância da soberania nacional na economia globalizada.
O substituto de Temer deve ser escolhido em eleições diretas. Defendemos a preservação de conquistas como a política de conteúdo local para o setor de petróleo e gás, o reforço à Petrobras e a valorização do pré-sal, ao contrário do que o governo faz. Não podemos abrir mão da capacidade de definir nosso destino como nação. Não podemos nos tornar um país menor, reforçando complexo de inferioridade que parte da elite tenta inculcar nos brasileiros, num país com riquezas naturais e humanas gigantescas.
O desafio está lançado. Para o PT, eleições diretas são o caminho para superarmos a crise atual. Um processo eleitoral amplo, democrático e sem financiamento empresarial suscitará debate sobre os rumos que queremos para o país, com compromissos programáticos de quem for eleito, quiçá sob a égide de uma reforma política e eleitoral que corrija as atuais distorções, responsáveis por escândalos e a crescente decepção da população com a política. Diretas para o Executivo federal e o Congresso significam reforço à democracia e uma barreira à atual blitzkrieg contra os interesses coletivos e conquistas de décadas.
Temer cometeu crime de responsabilidade e quebra de decoro ao receber na calada da noite o empresário Joesley Batista, dono da JBS e investigado na Lava-Jato. O Palácio do Planalto tenta transparecer um falso clima de normalidade, quando, na verdade, vive a continuação de uma farsa que está atrasando o Brasil e prejudicando o povo brasileiro. O Congresso não pode continuar fingindo que nada acontece. A saída passa pelo voto do povo. Esse é o leito natural da democracia no Brasil. Eleições diretas, livres e democráticas para deputados, senadores e presidente.
*Artigo originalmente publicado no jornal “O Globo”
Carlos Zarattini é deputado pelo PT-SP e líder da bancada do PT na Câmara