Censura em Minas Gerais é marca de gestões de Aécio Neves

“Vivemos, praticamente, em um estado de exceção, onde a imprensa não relata, não faz análise. É dominada pelo Aécio”. O desabafo é do deputado estadual Rogério Correia (PT). Há quase uma década, ele é uma das vozes que luta contra a censura aos meios de comunicação instaurada em Minas Gerais, desde o início do primeiro governo de Aécio Neves, em 2003. Segundo o parlamentar, o silêncio da imprensa local tem sido “comprado” pelo esquema político do tucano.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, ano após ano, tem recebido denúncias a respeito da interferência do governo na mídia local. A entidade espera, agora, uma mudança radical nessa relação a partir da posse do novo governador, Fernando Pimentel, do PT, em 1º de janeiro de 2015.

Criador do grupo Minas Sem Censura, o deputado Rogério Correia afirma que a imprensa mineira vem sendo subjugada desde a chegada do grupo de Aécio Neves ao Palácio da Liberdade, em 2003, sob a batuta de Andréia Neves, “primeira-irmã” do ex-governador. De acordo com Correia, ela e o irmão sempre decidiram os assuntos que podem ou não ser publicados. Jornalistas que ousaram se rebelar, revela, tinha a “cabeça cortada” a pedido dos Neves.

Assim, os casos de censuras atingiram vários meios de comunicação de Minas, como os jornais “Estado de Minas” e “Hoje em Dia”, além de demissões forçadas de jornalistas na TV Globo, Rede Minas e Rádio Itatiaia.

Segundo Rogério Correia, o governo mantém parte desse controle da mídia local pagando os meios de comunicação com valores acima do normal. Segundo ele, era Andréia Neves que liberava o repasse de verbas para os jornais. “Tentamos entrar com uma CPI para averiguar os gastos com a imprensa, mas fomos impedidos”, diz o deputado. O petista também acusa do ex-governador de beneficiar a Rádio Arco Íris, pertencente à família de Aécio.

Autocensura – Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Kerison Lopes, atualmente, os jornalistas mineiros se obrigaram a estabelecer um regime de autocensura para poder sobreviver no mercado. “Os profissionais pensam: porque eu vou perder meu tempo? Eles não se predispõem mais com matérias que contrariem os interesses de 12 anos. Sabem que não serão publicadas”, afirma Lopes.

Para Correia, o nível de censura dos meios de comunicação explica, também, o fato de o candidato Aécio Neves não ter ganhado em Minas: “quem conhece o Aécio, não vota nele. Se ele for eleito presidente, o Brasil vai virar uma ditadura”, completa.

O deputado lembrou o caso do jornalista Marco Aurélio Carone, dono do site Novo Jornal – que denunciava irregularidades do governo –, que está em prisão preventiva desde janeiro de 2014, acusado de formação de quadrilha. “Toda a ação foi truculenta, tanto a prisão de Marco Aurélio quanto o fechamento do site”, afirma.

Assédio pró-tucano – O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais divulgou, nesta terça-feira, dia 7, uma nota contra a atitude tomada pelos Diários Associados, grupo de mídia que edita os jornais “Estado de Minas” e “Correio Braziliense”. Por meio das redes sociais, o grupo “convocou” os funcionários a participar de atos de campanha pró-Aécio.

“Qualquer tipo de pressão deve ser denunciada para que sejam tomadas de medidas jurídicas cabíveis para resguardar o direito ao voto dos eleitores. As duas entidades também esclarecem que os Diários Associados não falam em nome dos trabalhadores. O voto dos mineiros é livre”, diz a nota do sindicato.

Perseguições – O vídeo-documentário “Liberdade, essa palavra”, do jornalista Marcelo Baêta, relata alguns dos casos de censura em Minas, a partir do depoimento de jornalistas perseguidos. Entre os entrevistados estão Marco Nascimento (ex-diretor da Globo Minas), Ulisses Magnus (ex-editor de esportes da Rede Minas), Paulo Sérgio (ex-apresentador do Itatiaia Patrulha) e Ugo Braga (ex-editor do “Estado de Minas”).

Link do vídeo: http://marcelobaeta.wordpress.com/liberdade-essa-palavra/

Por Alessandra Fonseca, da Agência PT de Notícias