Com adesões, BRICS terá maiores reservas de petróleo, gás e alimentos do planeta
Cúpula de chefes de Estado do bloco, na África do Sul, definiu a entrada de Arábia Saudita, Argentina, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos
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Em declaração conjunta, na manhã desta quinta-feira (24), os líderes do BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – anunciaram a entrada de seis novos países no grupo, a partir de janeiro de 2024: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos. Com a ampliação, o bloco de nações emergentes ganhará ainda mais relevância, por meio do controle das maiores reservas de petróleo, gás natural e alimentos do planeta.
“Neste mundo em transição, o BRICS nos oferece uma fonte de soluções criativas para os desafios que enfrentamos. A relevância do BRICS é confirmada pelo interesse crescente que outros países demonstram de adesão ao agrupamento. Entre os vários resultados da cúpula de hoje, ressalto a ampliação do BRICS, com a inclusão de novos membros”, disse o presidente Lula em seu discurso, no último dia da XV Cúpula do BRICS, em Joanesburgo, na África do Sul.
Essa é a primeira expansão do BRICS desde 2011, quando ocorreu a entrada da África do Sul. Com a participação dos novos membros, o grupo terá cerca de 46% da população e quase 36% do PIB global em paridade de compra. A adesão foi oficializada na Declaração de Joanesburgo, documento acordado entre todos os atuais integrantes do bloco.
Arábia Saudita, Rússia, China, Irã e Emirados Árabes estão entre os oito maiores produtores de petróleo do mundo. Quanto ao gás natural, Rússia, Irã, China e Arábia Saudita estão entre os principais. Por sua vez, China, Índia, Brasil e Rússia são expoentes na produção agrícola global.
Mais de 40 países manifestaram interesse em aderir ao BRICS, e o tema esteve entre os principais debates da cúpula de Joanesburgo, que também definiu os critérios para a futura entrada de novas nações no bloco.
Moeda de referência
Outro anúncio da Declaração de Joanesburgo é a de que os bancos centrais e ministérios da Fazenda e Economia de cada país ficarão responsáveis por realizar estudos em busca da adoção de uma moeda de referência do BRICS para o comércio internacional, diferente do dólar. “Essa medida poderá aumentar nossas opções de pagamento e reduzir nossas vulnerabilidades”, afirmou o presidente Lula.
O grupo também acordou seguir em busca de uma reforma da ONU, especialmente em relação ao Conselho de Segurança da organização, para torná-la mais “democrática, representativa, efetiva e eficiente”. O BRICS defende aumentar a “representação dos países em desenvolvimento na composição do conselho para que ele possa responder adequadamente aos desafios predominantes globais”.
A declaração manifesta apoio às “aspirações legítimas de países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina de desempenharem um papel maior nos assuntos internacionais, particularmente nas Nações Unidas, inclusive no Conselho de Segurança”.
O presidente Lula destacou que os países do BRICS seguirão na defesa de temas que impactam diretamente na qualidade de vida das populações do bloco, como o combate à fome, à pobreza e a promoção do desenvolvimento sustentável. “Que o BRICS continue sendo força motriz de uma ordem mundial mais justa e ator indispensável na promoção da paz, do multilateralismo e na defesa do direito internacional”, disse.
Redução das desigualdades
Um dos compromissos de Lula nesta quinta-feira foi a participação no evento Diálogo de Amigos do BRICS, que reuniu lideranças de mais de 40 países. Na ocasião, o presidente afirmou que o Brasil vai assumir a presidência do G20 em dezembro e quer recolocar a redução das desigualdades no centro da agenda internacional.
“A presença, aqui, de dezenas de líderes do Sul Global mostra que o mundo é mais complexo do que a mentalidade de Guerra Fria que alguns querem restaurar. Em vez de aderir à lógica da competição, que impõe alinhamentos automáticos e fomenta desconfianças, temos de fortalecer nossa colaboração. Um mundo com bem-estar para todos só é possível com uma ordem internacional mais inclusiva e solidária”, disse o chefe do governo brasileiro.
Nesse sentido, Lula frisou que essa discussão passa, necessariamente, por uma maior representatividade para a África. “Por isso defendemos o ingresso da União Africana como membro do G20”, disse. “Com minha vinda à África do Sul – de onde seguirei para Angola e para São Tomé e Príncipe –, pretendo inaugurar uma nova agenda de cooperação entre o Brasil e a África”.
Segundo Lula, muitas das respostas para a construção de um mundo mais equitativo estão na África. “A Covid-19 ceifou milhões de vidas, mas – apesar dos obstáculos injustificáveis ao acesso a vacinas – a África apresentou taxas de mortalidade baixas. Enquanto preocupações de segurança limitam cada vez mais o compartilhamento de tecnologias, a União Africana lança estratégia de transformação digital e centenas de startups e centros de inovação surgem na África”, destacou.
Lula acrescentou que, ao mesmo tempo em que proliferam medidas unilaterais que ameaçam a integridade do regime comercial, o continente africano se transforma na maior área de livre comércio do planeta, com 1,3 bilhão de pessoas e PIB combinado de 3,4 trilhões de dólares.
“À medida que órgãos multilaterais falham ao responder a ameaças à paz, a União Africana assume crescente protagonismo na resolução de conflitos. De um lado, alianças excludentes renascem e acirram tensões, e, de outro, países africanos e latino-americanos se unem para preservar a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul”, afirmou o presidente. “Vamos retomar nossa vocação universalista e reconstruir nossos vínculos históricos com os países em desenvolvimento. A prosperidade só é plena quando compartilhada”.
A 15ª Cúpula de chefes de Estado do BRICS chega ao fim nesta quinta-feira, após duas sessões ampliadas com participação dos países-membros e mais nações convidadas. Da África do Sul, o presidente Lula viaja para Angola, onde fará uma visita de Estado, e depois para São Tomé e Príncipe, para participar da conferência de chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Da Redação