Com menos cordas e abadás, Bahia pulou um Carnaval mais democrático

Governo estadual do PT investiu na “pipoca”, em Salvador e em 16 cidades do interior

Cantor abre desfiles de domingo no Circuito Osmar e diz que cortas "são os braços do povo". Fotos: Bruno Concha/Gilmar Castro/Jefferson Peixoto/Agecom

Este ano, a grande novidade do Carnaval da Bahia foi, na verdade, uma volta ao passado, às raízes da “pipoca”: os trios sem cordas. Depois de muitos anos, eles foram destaque nos circuitos de Salvador, levando grandes nomes do axé às ruas, sem cordões de isolamento ou a necessidade de comprar abadás. A mudança é fruto da iniciativa do poder público, aliada à retomada das ruas pelo folião que não quer pagar para curtir a festa.

“Esse Carnaval deixou a marca do Carnaval democrático, que deu opção a todos aqueles que não tinham dinheiro para pagar, ao folião pipoca. Ano que vem tem mais”, garantiu o governador Rui Costa (PT), em vídeo publicado no Facebook.

Em Salvador, foram 63 atrações gratuitas, nos circuitos Dodô (Barra) e Osmar (Campo Grande), incluindo Ivete Sangalo, Bell Marques, Saulo, Banda Eva, Carlinhos Brown, Moraes Moreira, Margareth Menezes, Armandinho, Luiz Caldas, a Vingadora, Dodô & Osmar e Ricardo Chaves. No Pelourinho, aconteceu uma grande homenagem ao samba, com mais de 220 apresentações, além de diversas manifestações culturais.

Pela primeira vez, Ivete Sangalo comanda bloco sem cordas

Somente o Governo da Bahia investiu R$ 10 milhões para garantir a saída de 63 trios sem cordas na festa – quase que o dobro do número de atrações “pipoca” do ano passado. Rui Costa ressaltou que o cachê dos artistas principais foi patrocinado pela iniciativa privada. “O Estado remunerou e apoiou as atrações menos famosas e a contratação dos trios elétricos”, disse.

Para o governador, investir na festa significa valorizar a cultura e a história da Bahia, além de promover a democracia e a participação popular. “Os blocos privados e os camarotes são importantes por compor o conjunto da economia do Carnaval, mas eles não são democráticos, já que não permitem a participação de todos. Então o poder público está atuando no sentido de manter essa história”.

O governo do Estado também promoveu a folia no Pelourinho e em 16 cidades do interior: Juazeiro, Lapão, Maragojipe, Porto Seguro, Conde, Cairu, Rio de Contas, Barreiras, Ilhéus, Itacaré, Madre de Deus, Palmeiras, Prado, Salinas da Margarida, Uruçuca e Valença. Ao todo, foram 87 atrações sem corda e um investimento estadual de R$ 69 milhões no Carnaval 2016 –mais de 60% desse valor foi destinado para garantir a segurança de todos.

Investimento – Os trios independentes ou financiados pelo governo são uma espécie de resistência do Carnaval de Salvador, que, com o tempo, passou a ter festas mais elitizadas, pagas e que resultaram em exclusão social. Uma das maiores apostas da gestão de Rui Costa é um resgate dos antigos Carnavais. O projeto, batizado como Furdunço, reúne atrações menos populares em trios elétricos menores e, claro, sem cordas.

A primeira iniciativa mais forte de investimento público no Carnaval pipoca aconteceu em 2010, na gestão de Jaques Wagner (PT), atual ministro-chefe da Casa Civil. O então governador criou um projeto que colocava 20 trios nas ruas, com atrações locais e artistas reconhecidos, incluindo Elza Soares, Lobão, Autoramas, Gerson King Combo, Cascadura e BNegão.

Os próprios artistas há tempos já apostam em uma festa sem cordas. Daniela Mercury foi uma das primeiras – 2016 foi o 17º ano em que saiu com trio independente. Saulo, desde 2011, ainda na Banda Eva, faz o mesmo – este ano, pela primeira vez, não foi atração em nenhum bloco, dedicando-se inteiramente à festa pipoca. Há também os já tradicionais bloco de fantasiados Os Mascarados, arrastão da Timbalada, e saídas do BaianaSystem.

Daniela Mercury comanda bloco independente pelo 17º Carnaval

Ouro Negro – Por meio do projeto Ouro Negro, 94 blocos das categorias afro, afoxé, samba, reggae e de índio tiveram desfiles patrocinados, integral ou parcialmente, pelo governo do Estado.Lançada em 2008, também na gestão Jaques Wagner, a ação visa a garantir a sustentabilidade de agremiações carnavalescas de matriz africana, estimulando a valorização e a preservação da tradição afro no Carnaval. O Ouro Negro recebeu, este ano, investimento de R$ 4,4 milhões.

Futuro – A organização do Carnaval 2017 já começou. Esta semana, a Bahiatursa informou que já estuda uma maneira de ampliar o número de trios sem cordas, especialmente no Campo Grande, para 2017. E o Carnaval do Pelourinho, organizado pelo governo do Estado, já tem tema definido para o ano que vem: os 50 anos da Tropicália.

“Conclamo a todos para que possamos cuidar do patrimônio da Bahia, a marca do povo baiano, que é a nossa diversidade cultural, de raça, de manifestações artísticas. É a arte e a cultura que representam um povo em todo o mundo e por isso acreditamos e investimos no Carnaval. A folia é uma marca do nosso estado, é um pouco do que temos aqui, reforçamos aquilo em que somos singulares, e por isso que vale muito o investimento”, declarou Rui Costa.

Da Redação da Agência PT de Notícias

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