Conselho Nacional de Igrejas Cristãs celebra vitória de Lula nas urnas
Em nota, CONIC pede unidade nacional para que a “cultura do ódio seja confrontada e transformada pela cultura da paz e do amor”. Entidade desejou “sabedoria, serenidade e capacidade de diálogo” aos eleitos
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O Brasil precisa superar os tempos de ódio que se instalaram no país e inspirar um ambiente de paz e de diálogo para pacificar os brasileiros. Essa foi a mensagem de nota assinada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), divulgada nesta quarta-feira (2) para celebrar o resultado das eleições de 2022. No documento, a entidade parabeniza governadores eleitos e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao mesmo tempo em que alerta que o período que gerou tensão e instabilidade no país não pode cair no esquecimento.
“Que nunca mais nos esqueçamos do que temos vivido, para não corrermos o risco de novamente cairmos na trajetória do ódio”, apontou o CONIC, na nota. A entidade lembrou os tempos difíceis pelo qual o país atravessou desde o golpe contra Dilma Rousseff, em 2016, e a consequente perda de direitos sociais.
“Desde o ano de 2016, o Brasil viveu momentos de tensão promovidos por ações e práticas polarizadoras, que culminou no impedimento, sem bases legais, de uma presidenta democraticamente eleita”, diz um trecho da nota. “Ao longo dos últimos anos, assistimos o desmonte dos conselhos de participação popular, a desestruturação da FUNAI e a interrupção de políticas públicas de valorização da dignidade humana”, lamentou o CONIC.
A entidade elogiou ainda o papel do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na condução do processo e agilidade no processamento dos resultados, considerando “essencial a agilidade do TSE em declarar o presidente eleito, colocando fim ao discurso de que as eleições poderiam ter sido fraudadas”.
Confira a íntegra abaixo
Nota do CONIC sobre o 2° Turno das Eleições
O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) parabeniza o povo brasileiro que, ao comparecer às urnas no dia 30 de outubro de 2022, expressou sua vontade soberana e elegeu governadores e Presidência do Brasil.
Desde o ano de 2016, o Brasil viveu momentos de tensão promovidos por ações e práticas polarizadoras, que culminou no impedimento, sem bases legais, de uma presidenta democraticamente eleita.
Enfrentamos a pandemia da COVID-19 com um país dividido e com discursos contrários à ciência. Setores de igrejas, que deveriam zelar pela vida, tentaram impedir o lockdown, forma mais eficiente de impedir a propagação do vírus até então. A ausência de estratégias coordenadas para disponibilizar recursos públicos a fim de cuidar dos profissionais da saúde e de pacientes afetados pelo vírus da COVID-19 resultou na morte de 700 mil pessoas e deixou mais de 113 mil menores de idade órfãos.
Ao longo dos últimos anos, assistimos o desmonte dos conselhos de participação popular, a desestruturação da FUNAI e a interrupção de políticas públicas de valorização da dignidade humana. Em seu lugar, vimos a implementação de políticas que negligenciaram o direito à existência de brasileiros e brasileiras, a precarização do trabalho e o aumento da violência, principalmente contra a população negra, indígena, mulheres e pessoas em situação de rua.
Votamos para interromper este ciclo que:
conduziu 33 milhões de pessoas ao mapa da fome;
ampliou o fosso entre as pessoas muito ricas e as muito pobres;
propagou o ódio às pessoas pobres;
aprofundou o racismo estrutural e religioso;
naturalizou o feminicídio, a LGBTfobia, o genocídio indígena;
destruiu os biomas e autorizou o uso de novas centenas de agrotóxicos;
dificultou uma alimentação sem veneno;
permitiu maior contaminação do solo e dos mananciais.
Como pessoas cristãs, vinculadas ao movimento ecumênico e inter-religioso, votamos para afirmar a laicidade do Estado, pela retomada do Estatuto do Desarmamento e de políticas públicas de respeito e promoção da diversidade religiosa. Acreditamos que as religiões como um todo terão um papel importante para romper com o ciclo do ódio atual.
Torna-se crucial para o país o que nos ensinou o teólogo Hans Kung:
“Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não haverá sobrevivência do nosso planeta sem um ethos (atitude ética) global, sem um ethos mundial.”
Reconhecemos e destacamos o papel fundamental do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que não mediu esforços para garantir o direito das pessoas de votar, combateu as notícias falsas e, principalmente, agiu nas denúncias de assédio eleitoral, não se rendendo à falsa narrativa de que as urnas não eram confiáveis. Da mesma forma, foi essencial a agilidade do TSE em declarar o presidente eleito, colocando fim ao discurso de que as eleições poderiam ter sido fraudadas.
Aos governadores, governadoras, ao presidente e ao vice-presidente eleitos, desejamos sabedoria, serenidade e capacidade de diálogo.
Colocamos nossa vocação ecumênica e inter-religiosa a serviço de toda e qualquer iniciativa que tenha como objetivo o desarmamento da sociedade, o enfrentamento à intolerância religiosa e a implementação de políticas públicas voltadas para o diálogo e para a promoção da diversidade religiosa.
Queremos de volta o Brasil da religiosidade popular, das romarias e devoções aos santos e santas, dos hinos e festividades evangélicas, das celebrações judaicas, das orações nas mesquitas, dos mantras das tradições orientais, dos toques dos tambores e os maracás. Da mesma forma, estaremos comprometidos para que a cultura do ódio seja confrontada e transformada pela cultura da paz e do amor.
Neste 2 de novembro, lembramos nossos entes queridos que partiram. Neste dia, trazemos à memória as vítimas da COVID-19, que tiveram suas vidas e seus sonhos interrompidos pela ausência do Estado.
Que nunca mais nos esqueçamos do que temos vivido, para não corrermos o risco de novamente cairmos na trajetória do ódio.
Que Deus, pai de Jesus Cristo, presente entre nós pelo sopro do Espírito Santo, em sua infinita amorosidade, nos abrace.
Da Redação, com CONIC