Crise no Paraguai envolve grupo ligado a Bolsonaro e esquema na Itaipu

Impeachment de Abdo Benítez volta a ganhar força após divulgação de conversas que mostram um assessor pressionando para atender interesses da empresa Leros

Caio Coronal/Itaipu

Deputados paraguaios do Partido Pátria Querida (PPQ) protocolaram nesta segunda-feira (5) pedido de julgamento político do vice-presidente do país, Hugo Velázquez, sob acusação de tentar beneficiar uma empresa brasileira num acordo entre os dois países envolvendo a venda de excedente de energia da hidrelétrica Itaipu Binacional. Nesta terça (6), o Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) deve apresentar pedido de impeachment do presidente Mario Abdo Benítez, envolvendo o vice e o ministro da Fazenda, Benigno López. O caso, que está sendo tratado como escândalo, foi denunciado pelo portal ABC Color .

Na semana passada, os partidos de oposição haviam ameaçado entrar com pedido de impeachment de Abdo Benítez, mas a ação perdeu força após o governo paraguaio anular o acordo que favorecia o Brasil. A proposta voltou a ganhar força após a divulgação mensagens trocadas entre o advogado José Rodríguez, que dizia falar em nome do vice-presidente, e o então presidente da Administración Nacional de Electricidad (Ande), estatal elétrica paraguaia.

Nessas conversas, Rodríguez tentava intermediar uma reunião entre o presidente da estatal e representantes da empresa brasileira Leros, interessada na compra de energia paraguaia. Atuaria em nome da Leros o empresário Alexandre Luiz Giordano, que é suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP), e, segundo Rodríguez, falaria em nome da “família presidencial do país vizinho”, em referência ao presidente Jair Bolsonaro.

Pelo acordo, firmado em 24 de maio pelos dois países, e cancelado pelo Paraguai na semana passada, o país vizinho pagaria US$ 50 milhões adicionais por ano, até 2023, pela energia produzida em Itaipu. Outro ponto de discórdia foi a retirada do texto do acordo de critérios para a venda do excedente de energia produzida pelo Paraguai a empresas brasileiras interessadas. Em vez de realizarem uma concorrência internacional, uma cota de 300 Megawatts seria repassada com exclusividade à Leros, que faria a venda ao mercado brasileiro.

Para o jornalista e analista político Amauri Chamorro, trata-se de uma “trama complicadíssima”, “de extrema gravidade”, pois, caso os fatos se confirmem, revelaria que o vice-presidente estaria atuando, por meio do advogado Rodríguez, contra a própria soberania do seu país. Ele também cobra que as autoridades brasileiras e a imprensa nacional investiguem os interesses da Leros na negociação do acordo.

“O vice-presidente estaria se subordinando absolutamente aos interesses de uma empresa privada brasileira, que por sua vez tem ligações com o PSL, a partir de um intermediador que se apresenta como representante da família Bolsonaro. Tudo isso tem que ser verificado pelo MP do Brasil para identificar como ocorreu esse processo de pressão e negociação com o vice-presidente paraguaio, burlando a parte técnica do acordo”, afirmou Chamorro em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual.

Resistente em beneficiar a empresa brasileira, o presidente da Ande pediu demissão. O suposto advogado José Rodríguez prestou depoimento à Procuradoria do Paraguai confirmando ter atuado em benefício da Leros, porém, alegou ter mentido ao dizer que falava em nome do vice-presidente, assumindo toda a culpa pelo ocorrido, na tentativa de blindar o político.

Segundo Chamorro, a primeira tentativa de afastamento Abdo Benítez não prosperou porque o Partido Colorado, ao qual ele é filiado, manteve o apoio ao presidente. Mas as ações dos partidos de oposição, somadas às mobilizações de movimentos sociais que pedem a saída das altas autoridades por traição à pátria, podem fazer inclusive o Partido Colorado rever o seu apoio.

Por Rede Brasil Atual

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