DataSenado: 3,7 milhões de mulheres sofreram violência em um ano

Em 71% dos casos, houve testemunhas nas agressões. Companheiros seguem como principais agressores, e o machismo registrou avanço, aponta levantamento

Senado Federal

Há 20 anos a pesquisa desempenha papel estratégico no monitoramento e no combate à violência contra as mulheres

O Instituto de Pesquisa DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, lançou nesta quinta-feira (27) a 11ª edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher. A divulgação ocorre no âmbito da campanha “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”.

Realizada desde 2005, a edição deste ano entrevistou 21.641 mulheres de 16 anos ou mais em todo o território nacional, no período de 16/5 a 8/7/2025. Também participaram 107 mulheres trans, que responderam a um questionário específico sobre suas vivências. Houve, ainda, ampliação na metodologia, incorporando campos como violência digital, indicadores de vivência, impacto emocional, presença de testemunhas e recortes como mulheres trans e mulheres com deficiência.

A pesquisa revelou que 3,7 milhões de brasileiras sofreram violência doméstica nos últimos 12 meses. Em 71% dos casos, a agressão ocorreu na presença de outras pessoas — 70% eram crianças, em geral filhos das vítimas.

Trinta e três por cento das brasileiras vivenciaram ao menos um episódio, mesmo sem reconhecer o ato como violência. Sobre o ciclo da violência, o levantamento mostrou que 58% das mulheres sofrem violência há mais de um ano, e 38% foram agredidas pela primeira vez antes dos 20 anos.

As percepções de machismo e insegurança aumentaram: 79% acreditam que a violência contra a mulher cresceu no país, e 70% consideram o Brasil “muito machista” — alta de 8 pontos percentuais em relação a 2023.

Sobre reagir e buscar ajuda, o DataSenado apurou que, entre as vítimas de violência nos últimos 12 meses, 57% procuraram a família; 53% buscaram apoio na igreja; 28% denunciaram em uma Delegacia da Mulher; 11% ligaram para o 180; e apenas 5% não buscaram socorro. Quanto às medidas protetivas, 20% afirmam que a medida foi cumprida; 17% relataram descumprimento; e 62% não solicitaram proteção.

Representando o Ministério das Mulheres, a secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres, Estela Bezerra, alertou que os dados deixam claro que a violência contra a mulher é explícita: “71% das vezes ela é presenciada por alguém, e 70% das vezes é pelos filhos menores que viram. Vivem, assim como a mulher, em situação do que a gente poderia chamar de tortura, porque a violência contra a mulher não é um evento. Ela é uma situação sistemática”, destacou.

Ela ressaltou ainda que a pesquisa revelou que, de cada quatro mulheres vítimas de violência sexual, três são meninas e adolescentes. Na avaliação da representante do MMulheres, a magnitude dos números evidencia o grande desafio que o país enfrenta. “E não é um desafio de decreto, de lei, não é um desafio de Ministério, de secretarias, é um desafio da sociedade. A violência contra a mulher não pode ser tratada como um simples instrumento, evento ou fenômeno que vai ser apagado. Ela precisa de um esforço de todas e de todos. E eu acho que o esforço principal — e é isso que a gente está celebrando aqui — é o de romper com o silêncio”, defendeu Bezerra.

Os instrumentos de proteção às mulheres

A pesquisa questionou a percepção das entrevistadas sobre seu nível de conhecimento da Lei Maria da Penha. Houve redução de 3 pontos percentuais entre as que declaram conhecer “muito” a lei, caindo de 24% para 21%. Entre as que afirmam não conhecer nada, houve aumento equivalente de 3%.

Entre as brasileiras, a crença na capacidade protetiva da Lei Maria da Penha diminuiu. Entre 2023 e 2025, a proporção de mulheres que responderam “não” subiu 4 pontos percentuais, estimando que, nesta edição da pesquisa, cerca de 20,3 milhões de mulheres acreditam que a lei não protege contra a violência.

Além disso, entre 2023 e 2025, observa-se redução de 3 pontos percentuais no número de mulheres que acreditam que a Lei Maria da Penha “protege em parte”, de 51% para 48%. Apesar da queda, esse percentual ainda permanece elevado, alcançando quase metade das entrevistadas.

Serviços de proteção à mulher

O conhecimento sobre serviços de apoio em casos de violência contra a mulher também foi avaliado. Delegacias especializadas no atendimento à mulher são conhecidas por 93% das brasileiras, seguidas pela Defensoria Pública (87%). Já a Casa da Mulher Brasileira é conhecida por apenas 38% das mulheres.

Houve diminuição no conhecimento sobre CRAS e CREAS (Centros de Referência de Assistência Social e Especializado de Assistência Social, respectivamente) e sobre o Ligue 180.

Cônjuge continua como principal agressor

Em 2025, assim como em 2023, a relação mais comum entre agressor e vítima era afetiva (marido, companheiro ou namorado). Nesta edição, a estimativa subiu de 58% para 70%.

Houve redução na proporção de agressões cometidas por ex-marido, ex-companheiro ou ex-namorado, de 15% para 11%. O terceiro vínculo mais comum é pai ou padrasto, correspondendo a 7% das agressões.

Registro histórico sobre as mulheres brasileiras

A pesquisa bienal acompanha, há 20 anos, a percepção das mulheres brasileiras sobre violência doméstica e familiar. A primeira edição, em 2005, serviu de subsídio para a formulação da Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, marco no combate à violência contra a mulher no Brasil e referência mundial.

Ao longo de duas décadas, o levantamento evoluiu para captar não apenas percepções, mas também vivências das mulheres, refletindo mudanças sociais e políticas. Temas como raça, gênero e tecnologia foram incorporados, assim como maior atenção à rede de proteção e aos recursos disponíveis para o enfrentamento da violência, como as Medidas Protetivas de Urgência. Até hoje, a pesquisa já ouviu 56.085 mulheres, tornando-se a maior e mais longa série histórica sobre o tema no Brasil.

Da Redação do Elas por Elas, com informações do DataSenado

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