Deputado relata ameaças feitas por aliados de Temer e Cunha

Deputado Aliel Machado (Rede-PR) votou contra o impeachment de Dilma. Ele conta que aliados de Temer tentaram marcar reunião para discutir votos com o vice

Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados

O deputado Aliel Machado (Rede-PR), relatou, em entrevista ao jornal “Gazeta do Povo“, que foi procurado por pessoas ligadas ao vice-presidente Michel Temer para saber “o que ele queria, do que precisava” para a votação pelo impechment da presidenta Dilma Rousseff.

Ele votou contra o impeachment da presidenta Dilma, na noite de segunda-feira (11).

“Talvez nem deputado eu volte a ser. Mas estou tranquilo, sou jovem, posso trabalhar em outra área. Mas nunca tinha sentido muita tristeza, dias antes da votação. Porque eu tentava arranjar justificativa para votar a favor e não conseguia”, contou, ao lembrar que recebeu inúmeras mensagens antes da votação do relatório de Jovair Arantes (PSDB-GO).

“Eu estava com muita dúvida. A parte política me dizia para fazer uma coisa e a parte jurídica me dizia para fazer outra, na minha cabeça. E estava com  muita dúvida. Se fosse escolher eu me absteria. Mas é um voto morno. Ia me abster na comissão e no plenário. Mas se abster no plenário ia parecer que eu estava ajudando o governo, que eu não tinha coragem. Quando o partido tomou posição pela admissibilidade eu pensei: “arranjei uma desculpa, vou votar com o partido”. Cheguei a dizer para a Record que a admissibilidade não decidia. E a cada minuto a gente vendo as coisas acontecerem. E teve duas coisas que me tocaram bastante. Um vídeo do Bolsonaro, antigo, e a gravação do Temer no final da tarde”, explicou o deputado.

Para Aliel Machado, o relatório não apresenta, juridicamente, nenhum crime de responsabilidade contra Dilma. “Por mais que o contexto seja grave, por mais que esteja praticamente comprovado o desvio de campanha, meu medo era dar uma legitimidade que não existe para o Temer assumir a Presidência. É ajudar o Cunha, que com a entrada do Temer tenho certeza absoluta que se livra da cassação. Tem um acordo com os partidos. E isso me tocou bastante”. 

O deputado contou que foi procurado, inclusive, por aliados de Temer, que propuseram uma conversa com o vice-presidente. “Me ligavam durante esses dias: “Olha, vem aqui, vamos conversar, você não quer falar com o Temer?” “Não”, falei, “acho que não”. “Não, fale com ele.” Chegaram a marcar reunião pra mim. Ontem [segunda] me mandaram: “O sr. pediu uma reunião com o Temer, ele vai lhe atender agora”. “Não, não não. Eu não pedi reunião nenhuma. Eu não vou.” Antes da votação. E do governo alguns deputados do governo, não o Palácio. Do Paraná, inclusive. O Enio veio conversar comigo. Disse que sabe que eu sou oposição, mas que é muito grave. Eles sabem que eu entrei com ação no tribunal pedindo cassação da chapa, digo que a Dilma e o Temer não têm mais legitimidade de ficar. Que tinham que renunciar. Eles me veem meio como o PSol aqui… Mas teve só conversas de parceiros, que vinham me perguntar”.

Para Aliel, a postura do vice-presidente é “vergonhosa”. “Vergonhoso. E de fato está fazendo. Ele foi para o Rio de Janeiro conquistar os deputados do PMDB. E foi para outros estados. E quem está operacionalizando isso para ele é o Cunha. Eu tive uma conversa com o Cunha na semana passada. Porque eu fui na sala dele porque tinha um grupo querendo entrar no plenário e ele não autorizava. Fiquei puto da cara e fui lá. O Cunha falou: “Você não vai mais andar em Ponta Grossa. O Temer vai ser presidente, você vai ver. Ele estava numa reunião com o Paulinho da Força e o Rodrigo Maia do DEM. Eles coordenando, articulando e chamando os líderes partidários, os deputados, convencendo. O Mendonça Filho veio me pedir, do DEM: “Você tem que ser a favor”. Vários deles. Os caras que estão a favor do impeachment estão montando o governo com o Temer, eles vão assumir o comando de tudo. DEM, PSDB, todos esses caras. É o jogo aqui.”.

O deputado ainda afirmou, durante a entrevista, que vai votar contra o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, no plenário.

Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da Gazeta do Povo

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