El País/Intercept: procuradores atacam Dodge: “Tem que ser incinerada”

Integrantes da Lava Jato, entre eles Deltan Dallagnol, reclamam do fato de PGR não encaminhar acordos de delação para homologação do STF

José Cruz/Agência Brasil

Procuradores da Lava Jato, entre eles o chefe Deltan Dallagnol, passaram os últimos dois anos atacando a procuradora-geral da República Raquel Dodge num grupo do aplicativo Telegram, segundo reportagem desta sexta-feira (9) do jornal El País.

A base da matéria são as milhares de conversas obtidas pelo site Intercept Brasil envolvendo a Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro – e cujos detalhes vêm sendo publicados por vários veículos de comunicação desde 9 de julho..

Segundo o que se depreende dos diálogos agora revelados, a insatisfação dos procuradores com Dodge vinha de sua demora em encaminhar delações da Lava Jato para homologação no Supremo Tribunal Federal (STF). Desde que assumiu o posto, em setembro de 2017, Dodge encaminhou apenas um acordo de delegação ao Supremo, relativo a um caso envolvendo o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Entre as delações que Dodge não deu prosseguimento, está a do empreiteiro Léo Pinheiro, dono da OAS – que mudou duas vezes de versão e só teve o acordo fechado quando passou a incriminar o ex-presidente Lula.

Os procuradores reclamam que Dogde “não despacha nada” e “centraliza tudo”. Em uma das conversas, o procurador Antonio Carlos Welter fala em colocar a questão na “ponta da faca” e discute a possibilidade de o grupo ingressar com mandado de segurança contra ela, por omissão.

Em outro trecho, o procurador Anderson Lodetti eleva a temperatura e fala em “incinerar” a procuradora-geral. “Raquel está destruindo o MPF, achincalhando a gente…[…] teria que ser incinerada publicamente, internamente e internacionalmente”, desabafa.

Barraco

A sugestão de Lodetti se dá em abril deste ano, um mês depois de Dodge ter barrado a tentativa dos procuradores de Curitiba de se apropriaram dos R$ 2,5 bilhões pagos pela Petrobras a título de multas no EUA, no âmbito das investigações da Lava Jato.

O MPF-PR chegou a criar uma fundação para gerir os recursos em supostas ações de combate à corrupção. A manobra despertou grande desconfiança na sociedade e no próprio judiciário – e Dodge foi ao STF para frear o negócio.

“O barraco tem nome e sobrenome. Raquel dodge. O Oswaldo instaurou pgea para pedir informações sobre o acordo”, disse o procurador Januário Paludo, referindo-se ao Procedimento de Gestão Administrativa (PGEA), uma medida administrativa utilizada pelo corregedor-geral do MPF, Oswaldo Barbosa, para ter acesso aos documentos sobre o acordo que permitiria a transferência bilionária para as mãos dos procuradores da Lava Jato.

Pressão

As conversas mostram que os procuradores não se limitaram a reclamar de Dodge, mas chegaram a debater estratégias para pressioná-la.

Em julho de 2018, eles se queixam por ela tenha saído de férias sem resolver “pendências” consideradas urgentes. Dallagnol propõe aos colegas pressioná-la, “usando” a imprensa “em off” (sem que as matérias identifiquem a fonte de informação).

“Podemos pressionar de modo mais agressivo pela imprensa”, diz. “A mensagem que a demora passa é que não tá nem aí pra evolução as investigações de corrupção”, se queixa. “Da saudades do Janot”, encerra Dallagnol, referindo-se ao antecessor de Dodge, Rodrigo Janot.

Por Brasil de Fato

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