Gleisi Hoffmann: “Eles não contavam com o apoio popular”

Presidenta do PT falou em ato político durante a Conferência Nacional de Comunicação, que teve painel debatendo a democratização da mídia

Gleisi Hoffmann fala na Conferência Nacional de Comunicação do PT

Mais de duas centenas de comunicadores populares, de movimentos sociais e sindicatos, além de secretárias e secretários de comunicação de diretórios estaduais e municipais do PT se reuniram em um ato político pela democratização da comunicação, na noite desta sexta-feira (13), no primeiro dia da Confederação Nacional de Comunicação do PT.

A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que o governo golpista de Michel Temer patrocina uma crise no país, com o apoio dos meios de comunicação, e que o ex-presidente Lula, mesmo com toda a perseguição que vem sofrendo até se tornar preso político, ainda segue como esperança para uma parcela expressiva da população.

Também esteve presente o secretário nacional de Comunicação do PT, Carlos Henrique Árabe; o ex-ministro da Defesa, Celso Amorim; a coordenadora da Marcha Mundial da Mulheres, Nalu Faria; o presidente do Psol, Juliano Medeiros; o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, o vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino e o secretário de comunicação da CUT, Rui Barbosa.

Geisi Hoffmann ainda falou sobre a gravidade do momento vivido. “Avaliamos que é o momento mais critico do PT desde os anos 1980, quando foi fundado: o partido viu a prisão do maior líder do país, que nos causa muita dor, e que tem um significado muito forte para as conquistas populares.”

Ela ressaltou que o golpe que teve início em 2016 começou nas próprias instituições do país, “pelas instituições que achávamos resultado da democracia a partir da Constituição de 1988. Exatamente essas instituições empoderadas por nós, desde o Ministério Público até o Judiciário, acabaram sendo instrumentos de um golpe pra tirar um governo progressista e popular”.

“É uma crise institucional patrocinada pelo governo brasileiro, com parte do poder judiciário posicionado publicamente e tudo isso com uma narrativa muito eficiente por parte da imprensa. Lula, mesmo com o processo de desconstrução que vem sofrendo, continua surgindo como uma esperança, com todo respeito a todas as candidaturas, do Boulos, da Manuela, mas obviamente pela grandeza do legado, emerge como uma grande fonte de esperança e confiança que tirará o pais dessa crise”.

Para Gleisi, “o golpe não fecha se Lula tiver condições de disputar a presidência”. Ela chamou a condenação de Lula como “escárnio” e comparou com o caso do governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, que recentemente saiu do cargo para poder disputar a presidência, perdendo o foro privilegiado, foi citado em delações por ter recebido mais de R$10 milhões da Odebrecht e teve seu processo transferido dos tribunais da Lava Jato para a Justiça Eleitoral de São Paulo.

“Eles queriam prender o Lulae ter o momento épico do Moro, e se prepararam para isso, mas não contavam com o apoio popular, com o lastro no movimento social, com o legado. Queriam uma foto dele preso, isolado. Não conseguiram, porque ele estava rodeado de gente, com diversos representantes da sociedade, com lideranças partidos de esquerda”, afirmou Gleisi.

“Eles não sabem o que fazer com Lula porque Lula é grande demais pra ser trancafiado na Polícia Federal. Eles não dão uma palavra na mídia, mas a associação dos delegados e a prefeitura de Curitiba pedem a transferência dele. Mesmo com interdito proibitório para a área da PF, eles não conseguem lidar, tem ato em todo Brasil, vigília também em Brasília”, afirmou Gleisi.

“Queriam o Lula em Curitiba, agora querem que ele saia. Como Lula diz `vocês tem que ser eu`, tem um monte de Lula lá, dando bom dia, boa noite, fazendo ato. Eles estão com um problema politico muito grande. Fomos lá com nove governadores e três senadores e a juíza não deixou ver o Lula.”

Defendendo a candidatara de Lula nas eleições de 2018, Gleisi afirmou que “a direita tenta orientar a esquerda. Como nos unimos, eles tentam forçar uma narrativa: que não vai dar certo que iremos falhar. Dia após dia, os analistas tentam substituir a direção do PT, dizem que agora tem plano B. Eles não entendem nada, não entendem que podemos nor organiza apenas em torno de uma ideia. Deviam olhar para trás, porque desde a década de 1980, dizem que somos natimortos. Lula é o candidato do PT, não vamos abrir mão disso”.

“Defender a liberdade do Lula é defender a democracia. Nunca foi tão importante ter uma comunicação eficiente para levar ao povo brasileiro o que temos feito. Obrigada pela cobertura e luta em favor da democracia, da soberania nacional e da liberdade de lula. Espero que essa conferencia leve ao PT e aos partidos de esquerda uma linha para que a agente possa colocar em execução nosso plano, fazer a comunicação progressista, engajada, que precisamos no nosso pais”, afirmou a presidenta do partido.

Conferência Nacional de Comunicação do PT

A democratização da mídia

A necessidade de se democratizar os meios de comunicação e combater os oligopólios do setor, a importância de se regular o uso de dados pessoais por empresas de internet sem desresponsabilizar o Estado e a compreensão do papel estratégico da comunicação para a sociedade foram o centro do debate que abriu o ato político desta sexta.

O jornalista e ex-ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, a coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, Renata Mielli e a coordenadora do Intervozes, Bia Barbosa compuseram o painel de discussão.

Franklin Martins destacou que sem o fim dos oligopólios não pode haver democracia no Brasil. Para ele, a questão da democratização dos meios de comunicação é vital para as democracias. “Se tem uma coisa que de alguma maneira pode se chamar de positiva nesse golpe, é que escancarou essa questão”, afirmou.

Para o ex-ministro, “o povo brasileiro sofreu uma grande derrota com o golpe e este é um momento de pensar. O golpe não veio pelos nossos erros. Veio pelos nossos acertos”.

“Os governos inclusivos democráticos desmontaram a ideia de que os pobres eram um peso. Ao contrário. Eles mostraram que quando se governa para todos você passa a ter no povo uma energia fundamental.”

“Estes 13 anos destruíram o discurso da direita. Foram os acertos que motivaram o golpe porque eles perceberam que não tinham como enfrentar mais no discurso. A direita não tem discurso porque não tem plano de governo.”

˜Mas o golpe também triunfou por causa dos nossos erros. Ele triunfou e ocupou uma cadeira vazia. Nós convivemos docemente com os oligopólios da comunicação. E foi o oligopólio que organizou e deu narrativa ao golpe. Eles suspenderam a programação para transmitir uma queda de governo˜.

Bia Barbosa falou do debate sobre regulação de uso dos dados pessoais e liberdade de expressão na rede. Falou sobre o perigo de se combater as fake news com iniciativas que responsabilizem apenas as empresas ou que permitam a censura.

“A gente usa a internet para fazer a contra-narrativa, mas a internet como a gente conheceu está ameaçada”, destacou Bia. “Para começar, tem 40% da população pobre fora dessa ferramenta”.

Ela lembrou que “o Temer quer excluir o poder público da responsabilidade dos dados fornecidos na internet. Temos que lembrar que o Estado tem todos os nossos dados. Então temos que pensar o quanto é fundamental a luta para que o Estado também respeite as regras”.

“Outro ponto que a gente tem negligenciado é a liberdade de expressão nas redes. Vamos lembrar da emenda que quase foi sancionada do deputado que queria obrigar a retirada imediata de dados na internet para supostamente combater a fake news. A gente precisa enfrentar o debate das notícias falsas, mas a gente não pode entrar no discurso da direita que combate é transferir para as plataformas a responsabilidade sobre o conteúdo. A direita está dando essa alternativa fácil e a esquerda não pode cair nestas armadilhas.”

Renata Mielli destacou que falta compreensão do papel estratégico da comunicação para a sociedade, não só para os governos. “É preciso discutir a comunicação como um direito, não como um entretenimento que apenas assisto cansado após o trabalho. As pessoas não entendem que deveriam ter mecanismos de se defender de programas que atentam aos direitos humanos. É compreender a que a comunicação é disputa simbólica da sociedade que queremos construir”.

Segundo Mielli, “democratização da comunicação não é uma proclamação, é uma agenda política de luta”. “Não é só a questão da democratização da comunicação como um slogan a ser propagado. A democratização é disputa simbólica do que queremos construir”.

“Nós nunca fizemos a disputa simbólica do que significava as politicas sociais. As pessoas pensavam que o Prouni era coisa de Deus, depois do esforço pessoal e por ultimo fruto de um plano de governo.”

Conferência de comunicação

A Conferência Nacional de Comunicação tem como objetivo potencializar a comunicação em um cenário de retirada de direitos, da implantação da agenda neoliberal do golpe e de perseguição, não só de parte do Judiciário, mas também pela grande imprensa, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Conferência segue neste sábado, (14), veja a programação:

9h – Debate: Democracia e Comunicação

Marilena Chauí (Filósofa/USP)

Juarez Guimarães (Cientista político/UFMG)

14h – Salas Temáticas simultâneas

1. Redes Sociais

Bianca Santana (jornalista, professora e colunista da Revista Cult)

José Chrispiniano (Instituto Lula)

Otávio Antunes (Agência PT)

2. Audiovisual

Iolanda Depizzol (Jornalistas Livres)

Tarcísio Secoli (TVT)

Tata Amaral (cineasta)

3. Rádio

Bia Pasqualino (Radioagencia Brasil de Fato)

Jerry de Oliveira (Movimento de Rádios Comunitárias)

Paulo Salvador (Rádio Brasil Atual)

4. Jornalismo

João Feres (Manchetômetro (IESP/UERJ)

Joana Tavares (Brasil de Fato)

Roni Barbosa (CUT)

Tereza Cruvinel (jornalista e fundadora da Empresa Brasil de Comunicação – EBC)

17h – Encerramento

Local: Holiday Inn Anhembi R. Prof. Milton Rodrigues, 100 – Parque Anhembi, São Paulo – SP

Mais informações ligue para (11) 3243-1313

Da Redação da Agência PT de Notícias

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