Em São Borja, Lula homenageia legado da CLT deixado por Getúlio
Lula afirmou que escolheu visitar São Borja, no oeste do Rio Grande do Sul, porque os brasileiros começaram a deixar de ser escravos com a CLT
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A Praça 15 de novembro, em São Borja (RS), local onde fica o mausoléu do ex-presidente Getúlio Vargas, criador da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), recebeu uma multidão nesta quarta-feira (21) durante ato de homenagem de Luiz Inácio Lula da Silva a seu predecessor nascido na cidade com Lula pelo Brasil.
Também participaram da homenagem a presidenta legítima Dilma Rousseff, o ex-ministro Miguel Rossetto, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, e a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann. Ao final do ato, o ex-presidente visitou o mausoléu de Getúlio enquanto a militância cantava, em uma só voz, o hino nacional brasileiro.
Sob gritos de “Lula é Unipampa”, homenagem feita por alunos da universidade criada em seu governo, o ex-presidente criticou as manifestações fascistas que tentam impedir a passagem da caravana pelo estado, defendeu o legado de Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, além de reiterar que não irá abaixar a cabeça para aqueles que o acusam.
“Eu queria dizer para vocês que estou um pouco envergonhado pelo comportamento de algumas pessoas no Rio Grande do Sul. A primeira vez que vim ao Rio Grande do Sul foi em 1975, quando o companheiro Olívio Dutra tinha acabado de ser eleito presidente no Sindicato dos Bancários e eu acabava de ser eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC”, afirmou Lula.
“Naquela época eu vim para o Rio Grande do Sul tendo a informação de que estava no estado mais politizado do Brasil. Voltei para São Paulo orgulhoso do primeiro contato com o Rio Grande do Sul”, conta.
O ex-presidente explicou que quando estava planejando a caravana pelo sul do país, não tinha em mente nenhuma preocupação eleitoral, ou teria escolhido regiões de maior densidade populacional. “Se eu estivesse pensando do ponto de vista eleitoral, eu ia para a grande Porto Alegre”, afirmou.
“Vim aqui porque começamos a deixar de ser escravos pelo companheiro Getúlio Vargas. Ele que criou a CLT. Naquele tempo o trabalhador não tinha ferias. Quando na constituinte de 1934 foram discutir férias, os empresários diziam que férias de 10 dias era perigoso, porque o ócio faz mal ao trabalhador. Desde quando férias para trabalhador faz mal e férias para eles faz bem?”, questionou Lula.
“O que aconteceu, o FHC foi eleito presidente em 1994 e anunciou que iria acabar com a era Vargas, ou seja, acabar com os direitos dos trabalhadores, conquistados em 1943. O FHC não teve coragem de mexer nos direitos trabalhistas porque o povo brasileiro não aceitava.”
“Eles deram o golpe na Dilma, construiram maioria no Congresso Nacional, e resolveram acabar, por interesse do empresariado brasileiro e com certeza do empresariado de São Borja, acabar com os direitos trabalhistas dos brasileiros e acabar com a aposentadoria porque na cabeça deles homens e mulheres trabalhadores tem que morrer trabalhando.”
Lula falou que sua intenção inicial era prestar uma simples homenagem a Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola. “A gente não esperava que teriam alguns fascistas nessa cidade, que iriam tentar impedir o Lula e o PT de entrar em São Borja como faziam os fascistas anos atrás. Eles se acham donos.”
“Queríamos apenas fazer um gesto simbólico, mas vejo pela imprensa o povo assustado, eles tacando pedra em ônibus, carro com rojões. Isso só pode ser ignorância.” Ele usou como exemplo o jogo clássico entre Grêmio e Internacional que iria ocorrer ao final do dia, afirmando que após o jogo a rivalidade não deve se tornar violência.
“Fico tentando procurar a razão pela qual essa gente tem ódio do PT e porque essa gente acumulou ódio do Lula. Fico tentando imaginar e a única explicação que encontro para que não venhamos fazer homenagem a Getúlio Vargas é porque os empresário grandes dessa região não querem que o pobres tenham direito. Não querem que a empregada seja respeitada, não querem jovens da periferia na universidade”.
“Fico conversando com a companheira Dilma, fizemos muito nesse país e provocamos o ódio de uma elite nesse que nunca entendeu a necessidade de ascensão social das pessoas mais pobres. Criamos o luz para todos, que levou energia para milhões de pessoas que viviam na base de candierio, colocamos de graça energia par 15 mi de pessoas”.
Lula relembrou que em 12 anos de governo o PT colocou mais de quatro milhões de jovens em universidades e criou quatro vezes mais escolas técnicas que nos 100 anos anteriores.
“Nós conseguimos em 12 anos, todo ano ter aumento do salário mínimo, as categorias organizadas receberam aumento acima da inflação, garantimos aumento de 64% do salário mínimo, garantimos a criação de piso salarial de professores e professoras. Garantimos durante 12 anos o maior programa habitacional da historia desse Brasil”.
O ex-presidente explicou a importância do programa Minha Casa, Minha Vida, porque “o mais rico pode pagar prestação de 500 reais, mas o mais pobre não pode, porque se pagar não tem o que comer”.
“Conseguimos fazer financiamento para agricultura familiar, que representa 60% do alimento nesse pais. Conseguimos fazer a integração da América do Sul, fazer o Mercosul”, relembrou Lula. “Essa gente tem ódio de nós porque fizemos os mais pobres subirem um degrau na escada da ascensão social”.
“Conheço alguns arrozeiros, aqui e em Roraima. Quando queriam proibir a criação da reserva Raposa Serra do Sol. Quando eles vendem, querem comemorar o sucesso, comprar carro importado, quando têm prejuízo, serem culpar o governo, o Lula e a Dilma”, criticou, referindo-se a um grupo que tentou impedir a entrada da caravana na cidade.
“Vim aqui num gesto de paz e tranquilidade, dizer ao Getúlio Vargas: é uma vergonha e falta de caráter, de hombridade, as pessoas rasgarem tudo que foi construído para garantir direitos elementares a um povo trabalhador nesse país”.
“Esses que me chamam de ladrão, se juntar a mãe, o pai e a tia, não da 10% da minha honestidade”, defendeu. “Quero dizer a vocês que sou homem de paz. Nasci em uma terra onde a criança que não morre vira um cabra desaforado que nem eu. Se eu tivesse medo de arrozeiro eu não saia de casa. O único medo que tenho e de trair os interesses do povo trabalhador brasileiro.”
“Quero que eles saibam que a gente vai voltar”, afirmou Lula. “Vamos federalizar o ensino médio nesse país. Quem ganha até cinco salários mínimos não vai mais pagar Imposto de Renda nesse pais. Quero que eles saibam que a gente vai acabar com a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que limita os gastos na educação e na saúde, porque educação não é gasto, é investimento.”
Segundo o ex-presidente, “o Brasil é o maior país da América Latina, mas a Argentina tem quase o dobro de jovens na universidade, porque a elite nunca se preocupou que o filho do trabalhador estudasse”.
“Quero dizer que nasci pobre, mas aprendi que tenho direito e não quero ser tratado como cidadão de segunda categoria. O trabalhador quer ter acesso a saúde, educação, cultura. Eles não estavam acostumados, por isso o Brasil é o último país da América do sul a acabar com a escravidão, o último a fazer independência, o último a mulher ter direito a voto e o último a fazer uma universidade federal”.
“Nós não aceitamos cara feia”, alertou Lula. “Perdi três eleições e aprendi com o velho Brizola: ‘Lula, quando a gente perde eleições a gente volta para casa e vai lamber as ferias’. Perdi em São Paulo para governador, perdi em 1989 roubado pela Rede Globo, perdi em 1994, perdi em 1998, vocês não viram eu protestar. A Dilma ganhou em 2010, ganhou em 2014, e eles entraram na justiça para não deixar a primeira mulher a ser presidenta para ter seu segundo mandato”.
“É por isso que quero agradecer a generosidade de vcs. O fato de não terem entrado na guerra que parte da elite dessa região criou contra nós, atirando pedra, soltando rojão, vendendo ódio. Somente a generosidade de vocês nos deu força para vir até São Borja. Somente quem poderia proibir a gente de vir aqui era o povo de São Borja, se não quisesse nos ouvir, mas vocês estão aqui e sou grato de coração”.
Lula afirmou que seus adversários deveriam se preparar para brigar nas urnas. “Se eles quiserem me derrotar, eles que criem coagem, que vão para a urna. Disputem as eleições, não tentem arrumar subterfúgio e mandar a justiça me proibir de ser candidato.”
“Na tenho respeito pela decisão tomada contra mim, não respeito a Polícia Federal que fez uma investigação mentirosa, o Ministério Público que fez o inquérito mentiroso e o Moro que tomou uma decisão mentirosa.”
“Eu desafios eles a apresentarem um real na minha vida”, disse Lula, acrescentando que o político ladrão fica quieto e submerge, quando é acusado, desaparece. “Eles se esquecem que estão mexendo com um homem que tem caráter e tem honra. Vou brigar porque aprendi a andar de cabeça erguida, e se eu abaixar a cabeça, vão colocar uma cangalha no meu pescoço e aí não levanto mais a cabeça”.
O ex-presidente finalizou desafiando seus opositores a disputarem as eleições com ele. “Venham disputar comigo, porque se eu perder eu fico quieto, mas se eu ganhar eu vou governar ainda melhor esse país!”
Gleisi Hoffmann: “Eles enlameiam o nome daqueles que dão honra para essa cidade”
A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, também criticou as manifestações fascistas que tentaram impedir a chegada de Lula a São Borja.
“Fico admirada que uma parte pequena dessa cidade, os donos desses maquinários no trevo. Eu tenho certeza que esses maquinários foram comprados através do Finame, um programa que financiou maquinário, um programa do governo Lula e Dilma, subsidiando para agricultor familiar e também para a grande agricultura. Quero dizer a eles que pretendiam não nos deixar entrar em São Borja, dizer bem alto que nós entramos em São Borja.”
“Entramos em São Borja porque seus antepassados lutaram pela democracia, lutaram para que tivéssemos uma constituição que garantisse o direito de ir e vir”, afirmou Hoffmann.
“Essa gente com seus tratores, com discurso moralista, que chamam nosso presidente de corrupto, são da mesma laia de Carlos Lacerda, que levou Getúlio ao suicídio. É uma vergonha, filhos de São Borja, que tem Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, tenham atitudes ignorantes como essa”.
“Essa gente é ignorante, antidemocrática, que não sabe conviver com o diferente. Mas não temos medo. Quem enfrentou a ditadura, a luta do povo, não tem medo dos agro-boys. Aqueles que se beneficiam e se beneficiaram de plano de governo, de juros baixo para financiar a safra e o maquinário.”
“Eles deviam ter vergonha do que estão fazendo. Eles enlameiam o nome daqueles que dão honra para essa cidade, pois eles estavam desse lado aqui, do lado do povo, e não do lado da elite. Nós temos lado, o lado de Getúlio, de Jango, de Brizola e do povo brasileiro.”
Rossetto: “Leiam a carta-testamento de Getúlio, e lá vão encontrar uma história que não deveriam desrespeitar”
O ex-ministro Miguel Rossetto também se mostrou indignado com a minoria de ignorantes da direita fascista e autoritária que ousou dizer que Lula e Dilma não entrariam em Bagé, Santa Maria e São Borja. “Pois estamos em São Borja, porque vocês estão aqui”, disse ao povo presente.
“Nós lutamos, meus amigos, muito tempo, para conquistar a democracia, lutamos para garantir o direito de manifestação, lutamos para nos reunir em uma praça como essa. Ninguém vai tirar o direito de nos reunirmos em uma praça”, disse Rossetto.
“Nós estamos aqui porque estamos homenageando a historia de Getúlio Vargas, João Goulart e Brizola. No dia de hoje, dia 21 de março de 1932, o presidente Getúlio Vargas assinava um decreto que criava a carteira do trabalho para garantir direitos ao povo trabalhador. Essa mesma carteira de trabalho que os golpistas querem rasgar e tirar do povo trabalhador”, relembrou o ex-ministro.
“Eu digo isso porque aqueles que nos agrediram, aqueles que bloquearam a entrada de São Borja, não são donos de São Borja, não mandam em ninguém, não mandam no nosso povo. Aquela minoria que agrediu o Lula, a Dilma, todos nós, desonram a memória de luta de Jango, Brizola e Getúlio Vargas”.
“Leiam a carta-testamento de Getúlio, ignorantes, e lá vão encontrar uma história que não deveriam desrespeitar. Ali tem a historia do homem que lutou para transformar esse país em uma nação. Ali está a história de um homem que construiu a Petrobras e a CLT, tudo aquilo que o presidente Lula representa hoje, a luta pela reforma agrária de João Goulart”.
Para Rossetto, “os mesmos que tiraram Getúlio, deram golpe em Jango, os mesmos golpistas que afastaram a presidenta Dilma, não querem que Lula represente o povo brasileiro nessas eleições”.
“Estamos imensamente felizes com o que vemos na raça de São Borja, que é do povo. Viva Lula, via a democracia, os direitos sociais do povo, viva a esperança do povo, viva o povo de São Borja”, finalizou o ex-ministro.
O ex-governador Olívio Dutra relembrou que “os trabalhadores do campo e da cidade, querem a democracia não apenas como discurso, mas querem a democracia vivida no cotidiano, na distribuição da renda, da riqueza, de forma igualitária e justa, uma saudação para todos e todas”.
“A Unipampa não é só uma universidade federal de qualidade, fruto das políticas de Lula e Dilma. Ela significa também uma vontade política de unificar o campo com a cidade, unificar o processo de busca por conhecimento, para se produzir renda, dignificar o trabalho, relacionar melhor o país pelo conhecimento”.
Dutra destacou a presença de dois ex-pressidentes, Lula e Dilma, para homenagear outros dois ex-presidentes, nascidos em São Borja: Getúlio Vargas e João Goulart, além do Leonel Brizola, que também foi governador do Rio Grande do Sul.
“Getúlio Vargas foi acusado de que seu governo vivia em um mar de corrupção. Era o discurso da direita na época, que o governo de Getúlio era um mar de corrupção quando ele enfrentava as oligarquias desse país. Jango foi derrubado pelo golpe de 1964 acusado de querer transformar o Brasil em federação sindical. Essas são acusações usadas hoje. Leonel Brizola também era injuriado, diziam que recebia dinheiro de Fidel Castro para financiar guerrilhas no Brasil”, relembrou Olívio.
“Os que agora deram o golpe na democracia de 2016, para derrubar uma presidente justa, legitima e correta que é Dilma. Estes que agora querem impedir o direito legitimo, justo e certo de um inocente que está sendo vilipendiado pela vilania política de se candidatar a presidência da republica. Esse mesmos estão enxovalhando a rica historia do povo de São Borja. Não representa São Borja, não representam o Rio Grande do Sul, não representam o povo brasileiro”
Olívio Dutra reiterou que “a luta de todos nós não é só de um partido ou das nossas candidaturas, dos nosso companheiros. A democracia é um valor que foi pisoteado varias vezes nesse país. Precisamos resgatar a democracia. Eles querem democracia restrita, sem o povo votar. Querem que no tapetão se decida quem será o candidato à presidência da republica e se nos descuidarmos eles não querem eleições em 2018”.
“Democracia é uma luta no cotidiano, nos organizando na resistência e na luta. Nesse objetivo, garantir que o presidente Lula possa ser candidato. Não tem uma prova concreta contra ele, é uma vilania política para impedir o programa de inclusão do povo brasileiro, de soberania de um país. Façam a resistência, lutem, se mobilizem-se”, finalizou o ex-governador.
Lula pelo Brasil
A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos estados do Sul do país, em março, é a quarta etapa de um projeto que deve alcançar todas as regiões do país nos meses seguintes. No segundo semestre de 2017, Lula percorreu todos os estados do nordeste, o norte de Minas Gerais, o Espírito Santo e o Rio de Janeiro.
O projeto Lula Pelo Brasil é uma iniciativa do PT com o objetivo de perscrutar a realidade brasileira, no contexto das grandes transformações pelas quais o país passou nos governos do PT e o deliberado desmonte dos programas e políticas públicas de desenvolvimento e inclusão social, que vem sendo operado pelo governo golpista.
Por Clarice Cardoso, da Redação da Agência PT de Notícias, enviada especial ao RS