Erick da Silva: A esquerda, a crise e as Diretas Já!

Diretas Já é a bandeira com a maior capacidade de unificar setores, para além da esquerda e com potencialidade de converter-se num movimento de massas

Lula Marques/Agência PT
Tribuna de Debates do PT

Após a formidável unidade construída e demonstrada na Greve Geral de abril e na grande mobilização do “Ocupa Brasília” no 24 de maio, na velocidade da conjuntura brasileira atual, a frágil e instável unidade da esquerda encontra-se na encruzilhada sobre as saídas para a crise envolvendo o presidente em queda Michel Temer.

Sem dúvida, os pontos de unidade da esquerda já existentes devem servir de estímulo e caminho para a esquerda evitar uma fragmentação ainda maior de seu campo, a exemplo do que ocorre neste momento entre as forças que promoveram o golpe que conduziu Temer ao poder.

Um ponto de unidade fundamental, já consolidado entre o conjunto de movimentos sociais articulados pelas Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo, assim como entre setores a margem destas frentes, é não restringirem-se no “Fora Temer”, exigindo em conjunto o fim das reformas anti-povo, capitaneadas pela coalização governista, em especial as reformas trabalhista e da Previdência.

Este ponto é importante, pois garante uma unidade política mais profunda, em bases políticas não restritas apenas a uma eventual queda do presidente ilegítimo. Barrar as contrarreformas neoliberais é uma agenda estratégica que a esquerda, corretamente, tem priorizado e atingido alguns resultados significativos. Apesar do discurso triunfante dos governistas, a ampla rejeição popular as reformas, apontada por diferentes pesquisas, mostra que a agenda de retirada de direitos encontra-se em xeque, podendo selar o destino destas forças políticas para um verdadeiro acaso.

Temer converteu-se em um “zumbi político”. Sua condição de presidente em queda é quase que incontornável. Mas sua sucessão está longe de representar, necessariamente, uma virada à esquerda, que possibilite alguma agenda política alternativa para o país. Em direção contrária, neste momento, a “condução” do processo, tenta se colocar alheia aos clamores das ruas. A direita partidária, empresários e demais agentes políticos da “Casa Grande”, tratam a sucessão de Temer a partir da necessidade de encontrar a melhor alternativa para a continuidade da agenda ultra-neoliberal das reformas. Especulam, via imprensa, nomes de banqueiros, juízes, tucanos e afins, para o mandato tampão na presidência. Em comum a todos estes, o compromisso com esta agenda e o fato de que nenhum dos nomes ventilados conseguiria eleger-se pelo voto popular.

O caminho da eleição indireta, através do parlamento, evitaria que a variável “povo” provoque uma eventual mudança de rota no Brasil, com a reversão da agenda política. Não por acaso, por tanto, que a alternativa pela via indireta é a preferida das elites e do conservadorismo. Boatos apontam que setores minoritários da esquerda flertariam com a alternativa das indiretas, buscando formas de melhor se posicionar, pragmaticamente, neste cenário. Aqueles que optarem por este expediente serão, inevitavelmente, atropelados pela onda dos acontecimentos, caminhando para a irrelevância.

Por esta razão que as forças de esquerda, em sua maioria, corretamente apostam na inclusão do povo, através de eleições, como forma de superar a crise política e busca restabelecer, em parte, uma democracia plena no país.

Diretas Já é, sem sombra de dúvidas, a bandeira com a maior capacidade de unificar setores diversos, para além da esquerda organizada e com potencialidade de converter-se num movimento de massas. Sua viabilidade, seja através da aprovação de uma emenda constitucional no congresso ou pela interpretação constitucional do STF, só será de fato materializada através de pressão das ruas. O clamor popular, crescente mas ainda insuficiente, é a forma de garantir que o conjunto da população tenha protagonismo na solução de parte da crise.

Algumas alternativas ventiladas, como “Eleições Gerais” (renovando-se também o parlamento) ou ainda “Eleições Constituintes” (elegendo além do presidente, uma Assembleia Constituinte), são pouco realistas e mesmo temerárias, por desconsiderarem a correlação de forças e as regras do “jogo” eleitoral. Para estas propostas, cabe indagar: sem reforma política e com estas atuais regras, é de supor que teríamos um resultado eleitoral, em 2017, que daria a esquerda uma maioria no congresso? Não poderia ocorrer justamente o inverso, tornando ainda pior a composição do parlamento? É de se supor que no atual ambiente político nacional, produziríamos algo superior a Constituição Cidadã de 1988?

Diretas Já é a melhor alternativa como bandeira de luta, a mais realista e com condições de apresentar uma perspectiva popular para a crise. Uma campanha pelas Diretas Já permitirá uma efetiva ofensiva das esquerdas e dos setores democráticos na crise política brasileira. Barrando movimentos que buscam um maior fechamento político e afirmando a democracia como caminho.

Por Erick da Silva, historiador e membro do DM PT-POA, para a Tribuna de Debates do PT. Saiba como participar. 

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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