Estudantes de SP encerram ano prometendo mais mobilização em 2016
“Estamos desocupando as escolas, mas a luta continua. Vamos continuar nos organizando e lutando contra qualquer ataque à educação. Mas se tentar fechar alguma escola, ocupamos de novo”, afirmou João Vítor Santos, de 17 anos, do Comando das Escolas em Luta
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Debaixo de muita chuva, centenas de estudantes secundaristas de São Paulo encerraram na noite de segunda-feira (21) a mobilização contra o fechamento de escolas estaduais proposta pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) neste ano. “Estamos desocupando as escolas, mas a luta continua. Vamos continuar nos organizando e lutando contra qualquer ataque à educação. Mas se tentar fechar alguma escola, ocupamos de novo”, afirmou João Vítor Santos, de 17 anos, do Comando das Escolas em Luta.
De acordo com o grupo, 22 escolas ainda têm ocupações. Algumas serão desocupadas nos próximos dias, mas parte delas permanecerá assim, por demandas específicas dos alunos. Os secundaristas pretendem promover um encontro de estudantes de todo o estado em janeiro, para articular-se em torno de pautas que busquem melhorias na educação.
“Criação de grêmios, gestão democrática das unidades e redução do número de alunos por sala são algumas das nossas demandas”, destacou João Vítor.
A luta dos secundaristas teve inicio em setembro, quando o então secretário estadual da Educação, Herman Woorvald, informou que o Executivo paulista pretendia realizar uma reorganização no ensino público, com objetivo de separar totalmente os alunos das escolas estaduais por ciclo – fundamental I, fundamental II e médio.
Na prática, a reorganização levaria ao fechamento de, pelo menos, 94 escolas, atingindo mais de 300 mil alunos. Com o recuo de Alckmin em razão do movimento em cerca de 200 escolas, anunciado em 4 de dezembro, o secretário pediu demissão.
Por duas vezes, a Justiça paulista deu ganho de causa aos estudantes: primeiro rejeitando o pedido de reintegração de posse – sob argumento de que os estudantes não reivindicavam os prédios, mas sim debater o projeto e melhorias na educação – e depois suspendendo a própria reorganização.
“Foi uma vitória importante, mas temos consciência de que foi só o início da guerra. Queremos escolas que, como as próprias ocupações, tenham mais participação dos estudantes. Que tenha debate político e uma proposta educacional mais próxima do que vivemos”, afirmou João Vítor.
Os estudantes foram apoiados pelo Comitê de Mães e Pais em Luta, grupo formado por familiares dos estudantes, que apresentou denúncias de violência e abuso policial na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Os pais fizeram denúncias também à Comissão Nacional de Direitos Humanos e à Comissão Estadual dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe). “Organizamos um dossiê com mais de 100 casos de violência e abusos da PM nas escolas e nas manifestações, que não podem ficar impunes”, disse Luís Braga, membro do grupo.
Os estudantes saíram do vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, pouco antes das 19h. E seguiram rumo à Praça da Sé, no centro velho da capital. Animados com uma fanfarra, eles desceram a Rua da Consolação cantando e dizendo palavras de ordem contra a reorganização, o governador e a PM. Também era grande o número de manifestantes mascarados, que formaram uma fila junto ao cordão de policiais que caminhavam ao lado da marcha.
Houve um momento de correria quando PMs e manifestantes se empurraram, próximo à Praça Roosevelt, já na região central, com alguns policiais apontando armas de bala de borracha para os estudantes. Depois disso, a polícia continuou a acompanhar o ato, mas mantendo distância. Parte dos manifestantes deixou o protesto após o grupo parar no cruzamento da Avenida São Luís com a Rua da Consolação. Outro grupo se dispersou no Viaduto do Chá. Dali em diante, a maioria dos manifestantes era de mascarados – não houve registro de incidentes.
Violência no Metrô – Mas na chegada à Praça de Sé, os manifestantes tomaram a escadaria da catedral e, com os punhos fechados, entoaram contra a reorganização: “Não tem arrego”. Dali seguiram para a estação do Metrô, onde iniciaram um “catracaço” – ação de pular as catracas para não pagar a condução.
A princípio, os poucos seguranças do Metrô que estavam no saguão não reagiram contra as dezenas de jovens que pulavam as catracas. Porém, minutos depois, outro grupo de seguranças chegou para impedir que a ação continuasse. Nesse momento, outro grupo de jovens entrou na estação e forçou a entrada, com o auxílio dos que já estavam dentro. Os seguranças reagiram com violência, usando cassetetes, empurrando e arrastando os “catraqueiros”.
Um homem que não estava entre os manifestantes aproveitou a confusão e também pulou a catraca. Foi perseguido, agredido e arremessado por cima das catracas pelos seguranças. Vários jovens foram agredidos. Um fotógrafo que registrava a ação teve a câmera quebrada por um segurança. Um agente mostrou uma pedra que foi arremessada contra ele, mas não o atingiu. A PM foi acionada e também usou cassetetes contra os manifestantes. Ninguém foi preso ou se feriu com gravidade.
Da Rede Brasil Atual