Fechamento da Ford no ABC evidencia fracasso da Reforma Trabalhista

Multinacional anunciou o fim da fábrica em São Bernardo do Campo, que levará a demissão de cerca de 4 mil trabalhadores; Bolsonaro quer aprofundar reforma

Adonis Guerra

“O Brasil é o país dos direitos em excesso, mas faltam empregos. Olha os Estados Unidos, eles quase não têm direitos. A ideia é aprofundar a reforma trabalhista”. Para além da servidão aos interesses estadunidenses, na frase dita no dia 3 de janeiro, em sua primeira entrevista como presidente, Jair Bolsonaro (PSL) revelou seu total desprezo pelas condições dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros. Ao contrário do que ele defende, a reforma do golpista Michel Temer (MDB) não gerou emprego. Prova disso é o fechamento da fábrica da Ford em São Bernardo do Campo.

Na terça-feira (19), a empresa anunciou que vai parar de vender caminhões na América do Sul, até novembro, e informou que a medida é “um importante marco no retorno à lucratividade”, conforme comunicado repercutido pela CUT. A decisão da Ford escancara qual é a prioridade do capital estrangeiro, quando se trata de investir no país: lucro. A saída da montadora, por sua vez, representa também o fracasso da reforma trabalhista que Bolsonaro quer aprofundar.

A decisão, tomada nos Estados Unidos, deve levar a demissão cerca de 3.200 trabalhadores diretos e cerca de mil terceirizados. O acordo coletivo de 2017 havia estipulado um período de negociação para retomada de investimentos pela Ford na planta de São Bernado do Campo. Mas não houve nada efetivo por parte da empresa desde então. Segundo publicação da CUT, desde o acordo, mil trabalhadores saíram por meio do Plano de Demissão Voluntária.

Outra montadora de veículos, a General Motors ameaçou fechar as fábricas em São Caetano do Sul e São José dos Campos. O próprio presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga, confirmou a possibilidade ao InfoMoney

Reforma Trabalhista, poucos direitos e precarização

A reforma foi aprovada em 2017 com a justificativa de que era preciso modernizar as relações trabalhistas e com isso permitir a criação de novos empregos. O que os golpistas chamaram de modernização foi na verdade a retirada de direitos e a expansão do número de empregos informais, sem carteira assinada. O ilegítimo Temer prometeu ao menos dois milhões de empregos, mas até novembro de 2018, apenas 300 mil vagas foram criadas, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Por outro lado, a precarização do mercado de trabalho cresceu no ano passado. A cada 10 trabalhadores, quatro eram informais de acordo com dados da Pnad Contínua/IBGE. Segundo avaliação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil fechou 2018 com 13,3 milhões de desempregados. Além disso, o número de trabalhadores e trabalhadoras desalentados – aqueles que, depois de muito tentar sem encontrar uma vaga, desistiram de procurar – e informais, que vem batendo recordes desde o ano passado, deve aumentar este ano sob o desgoverno Bolsonaro.

Greve contra fechamento e reforma da Previdência

Os trabalhadores da Ford decidiram entrar em greve após assembleia, realizada na terça-feira (19). Os metalúrgicos farão uma nova reunião na terça-feira (26) para encaminhar os próximos passos da luta.  “Nós lutamos, fizemos de tudo para que isso não ocorresse. E não dá para ter uma notícia dessa e achar que dá para continuar trabalhando. Precisamos ir todos para a casa e retornar na semana que vem. Até lá é greve”, disse José Quixabeira de Anchieta, coordenador-geral do Comitê Sindical na Ford, à reportagem da CUT.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, revelou a indignação dos trabalhadores da Ford. “Em janeiro fizemos uma assembleia na portaria da fábrica, decretamos o estado de luta e pedimos que uma reunião acontecesse para que a Ford deixasse claro qual era a sua real intenção em relação a planta de São Bernardo do Campo”.

O senador Paulo Paim lembrou no início da semana que a reforma trabalhista impactou negativamente as contas da Previdência, reduzindo a arrecadação do sistema ao estimular a informalidade, a precarização das relações de trabalho e ampliando a pobreza no País. Na avaliação do parlamentar, a nova legislação trabalhista também serviu para que o capital iniciasse o ataque às aposentadorias dos trabalhadores. Os mesmos argumentos usados para aprovar a reforma trabalhista, voltam agora na tentativa de golpear a Previdência Social.

Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da CUT

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