Filho de Hélio Bicudo descreve ação do pai como “raivosa e grotesca”

Afirmação de José Eduardo foi feita em resposta à carta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe enviou no início do mês de outubro

O filho do advogado Hélio Bicudo, José Eduardo Pereira Bicudo, disse, em resposta à carta que lhe foi enviada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 2 de outubro, que as últimas manifestações do seu pai são “argumentos que contradizem a sua história de vida de até pouco tempo atrás”.

A íntegra da correspondência foi publicada hoje pelo site ‘Diário do Centro do Mundo’, publicação da qual José Eduardo é diretor-adjunto. Ele atribui à “maneira raivosa e grotesca” que Hélio Bicudo vem se manifestando como responsável pela aproximação com “aqueles que hoje pregam o golpe” do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff.

José Eduardo afirma ainda na carta a Lula que ele e os irmãos Maria do Carmo, José, Maria Clara e José Roberto, vivem uma situação delicada pela responsabilidade de lidar com os caminhos que o pai “vem escolhendo para se manifestar e com os desdobramentos de suas manifestações” em favor do impeachment.

Segundo José Eduardo, o comportamento tem “encorajado a aproximação de grupos de extrema direita, os quais têm aproveitado da espantosa quinada (do pai) na sua trajetória política nos últimos dez anos”. Ele acredita que esses grupos querem se promover às custas de Bicudo.

Abaixo, a Agência PT de Notícias transcreve o inteiro teor da carta de José Eduardo ao ex-presidente Lula:

“Prezado ex-Presidente Lula,

Agradeço-lhe pela carta a mim enviada em 02 de outubro passado. Sou-lhe também grato pela solidariedade e respeito emprestados a mim e à minha família.

Sua carta fez aumentar ainda mais a responsabilidade que envolve lidar com situação tão delicada como aquela que vivemos hoje, eu e meus irmãos, Maria do Carmo, José, Maria Clara e José Roberto, todos preocupados com os caminhos que meu pai vem escolhendo para se manifestar e com os desdobramentos de suas manifestações públicas.

Ninguém questiona aqui a legitimidade de meu pai ter toda a liberdade de pensar e dizer aquilo que bem entender. A questão que se põe não é esta, mas sim a maneira pela qual ele tem agido, causando espanto e temor àqueles que o conhecem bem. Suas recentes ações têm encorajado a aproximação de grupos de extrema direita, os quais têm se aproveitado da espantosa guinada na sua trajetória pessoal e política nos últimos dez anos, para se promoverem à sua custa.

A visão ciclotímica dos acontecimentos no nosso país, amplamente difundida pela mídia conservadora, apostando sempre na indigência intelectual e na falta de senso crítico, tem estimulado pessoas, as quais no passado o criticavam, a defendê-lo agora. Esquecem-se estas, porém, que a situação é muito mais complexa e delicada do que se imagina, exigindo um certo grau de conhecimento e sensibilidade para compreendê-la no seu todo. Visões simplistas, difundidas na mídia, menosprezando a manifestação pública de familiares e amigos em relação às ações recentes de meu pai, não ajudam em nada e só servem para empobrecer ainda mais a discussão.

Como bem registrado em sua carta, caro ex-Presidente, meu pai deu importante contribuição para o restabelecimento do estado de direito no Brasil, em flagrante contraposição, portanto, com aquilo que defendem esses grupos de extrema direita que agora o apóiam e que pregam deliberadamente o golpe para destituir a Presidente Dilma Roussef, sem qualquer preocupação com princípios democráticos básicos.

A guinada de meu pai o fez, infelizmente, afastar-se também de amigos como Marilena Chaui, Margarida Genevois, Maria Victoria Benevides, Antonio Cândido de Mello e Souza, Dalmo Dallari, Fábio Konder Comparato, Paulo Sérgio Pinheiro, Pedro Estevam Serrano e de tantos outros que hoje subscrevem manifesto contra o afastamento de Dilma Roussef da Presidência da República, em respeito à Constituição de 1988 e ao modo republicano de convivência democrática.

Reitero que o afastamento deliberado de meu pai de familiares e amigos o deixou livre e descompromissado com que aqueles que lhe têm verdadeiro apreço, tornando assim mais fácil a sua aproximação daqueles que hoje pregam o golpe. Não há, portanto, como isentá-lo de responsabilidades, ainda mais que ele continua a se manifestar de maneira raivosa e grotesca, com argumentos que contradizem a sua história de vida de até há pouco tempo atrás.

Esperemos apenas que aqueles que o cercam no momento, se ainda lhes resta um mínimo de sobriedade, demovam-no das luzes dos holofotes, as quais, se outrora lhe deram alguma projeção e prestígio, hoje apenas servem para dar vida aos oportunistas que posam ao seu lado.

Meus irmãos, citados nesta carta, e eu reiteramos o nosso sincero reconhecimento pela sua deferência e respeito para conosco e esperemos, finalmente, que o bom senso e a razão prevaleçam para que os avanços conquistados pelo nosso país nos últimos doze anos tenham continuidade e se aprofundem.

Um abraço cordial, José Eduardo Pereira Wilken Bicudo”

 Por Márcio de Morais, da Agência PT de Notícias

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