Fraga quer arrocho e Mantega, empregos
Embate na TV deixou evidente a diferença entre os projetos da presidenta Dilma Rousseff (PT) e do candidato Aécio Neves (PSDB)
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O ministro da Fazenda, Guido Mantega, evidenciou a diferença entre as propostas para a economia dos governos do PT e do PSDB, que se baseia nas medidas ortodoxas simpáticas ao mercado financeiro. “Para nós, só os fundamentos não são suficientes. Principalmente num regime de crise. Durante a crise temos de fazer política anticíclica”, disse Mantega nesta quinta-feira (9), durante debate entre ele e o ex-presidente do Banco Central no governo tucano, Armínio Fraga, cotado para assumir a Fazenda num governo Aécio Neves. O confronto no canal Globo News foi mediado por Mirian Leitão.
Adepto de uma política economia de austeridade como a que freia a Europa, Fraga baseia o arrocho no aumento dos juros, como fez a equipe econômica da qual ele fez parte no governo FHC. “O Banco Central tem de segurar e governo tem outras medidas de estímulo ao consumo”, afirmou ele como medida para conter a pressão inflacionária.
Já Mantega lembrou que a saída encontrada por Fraga, no governo FHC e que deverá ser adotada caso Aécio vença, é aumentar os juros. A taxa de juro real media na época era de 13,5%, hoje é 4%. “As taxas para os consumidores caiu pela metade. O consumidor pagava 80% para comprar uma geladeira. Hoje, paga 40%. Ainda é alta, temos que continuar reduzindo, mas é uma filosofia diferente de juros”, declarou.
O ministro da Fazenda duvida de se vale a pena matar a atividade econômica para ter um foco apenas nos preços, especialmente porque a inflação está sendo mantida em patamares mais baixos do que no governo FHC sem sacrificar o emprego.
“Faz 11 anos que nós cumprimos a meta da inflação”, afirmou. Segundo Mantega, o governo está lutando firmemente contra a alta dos preços que atinge, especialmente, a população de baixa renda. “Este ano, nós fizemos uma política monetária muito rigorosa, nós não brincamos com a inflação e ela vai ficar dentro dos parâmetros”, confirmou.
A inflação está sob controle e deverá fechar o ano dentro da meta prevista, de 6,4%, garantiu Mantega, com um leque de medidas mais amplo do que a receita simples de Fraga e da ortodoxia.
Para beneficiar a consumidor e conter o aumento no preço dos alimentos, o Brasil está ampliando a oferta de produtos produzido aqui. “Hoje a economia brasileira é uma das mais produtivas na agricultura”, explicou. Entretanto, o período mais extenso de seca que ocorreu este ano em grandes regiões do País, prejudicou a oferta de alguns produtos agrícolas e causou a alta nas tarifas e energia elétrica, aumentando a pressão inflacionária.
Crise mundial – A crise mundial iniciada em 2008 ainda causa efeitos na econômica brasileira. Segundo Mantega, a desaceleração do mercado internacional reflete no ritmo mais lento do crescimento interno. Ele ressaltou, porém, o fato de o país ter passado por essa turbulência gerando empregos e aumento de renda.
A renda per capita brasileira cresceu em torno de 30%, de 2003 e 2013. Bem diferente do que ocorreu entre 1995 e 2002, com aumento de apenas 3%. “Nós temos condições de continuar elevando a renda per capita nessa trajetória nos próximos oito anos”, prometeu.
Bancos Públicos – Os dois economistas divergiram sobre o papel dado aos bancos públicos. O principal conselheiro de Aécio criticou os incentivos à Caixa e ao Banco do Brasil, que financiam programas sociais de transferência de renda e habitacionais, e defendeu maior controle sobre os financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Mantega discordou e defendeu que os subsídios dos bancos públicos são responsáveis por incentivar o investimento privado. “Se não tivesse o BNDES, não teríamos como fazer crescer o investimento em períodos de crise”, disse. O ministro explicou ainda que os programas sociais foram fundamentais para manter o poder aquisitivo da população, estimular o consumo e reduzir a pobreza.
A taxa de investimento público cresceu de 3,3% para 4,7%, entre 2002 e 2014. Segundo Mantega, a principal causa do aumento no investimento privado foram as concessões de estradas e aeroportos, que prometeu ampliar, com a reeleição de Dilma.
Outra forma usada para incentivar o investimento foram os juros subsidiados, com a entrada de R$ 240 bilhões do BNDES, por meio do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). “Sem isso, as pessoas não iriam comprar máquinas e equipamentos”, disse e justificou que, em um momento de crise, os bancos públicos recuam os financiamentos e que é preciso recorrer os bancos públicos.
Por Flávia Umpierre, da Agência PT de Notícias