Gleisi: Como não ser atingida(o) pela Reforma da Previdência do Temer
“A sociedade perde com a reforma previdenciária de Temer. Não ataca os setores mais privilegiados, os dos altos salários.”
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Não case, morra aos 65 anos, não exerça trabalho braçal, não dê aula para as crianças e não seja mulher, porque para elas o baque é muito pior! Para quem acha que essas dicas soam exageradas, vale a mesma orientação repassada àqueles que desejam de boa fé entender o processo de perseguição contra o Presidente Lula e sua injusta condenação: informe-se! Leia, conheça a proposta. Porque o próprio texto dela é muito esclarecedor.
A bem da verdade, todos perdem com a reforma da Previdência de Temer. Ela pune com rigor quem ousar sobreviver. Mas destila seus requintes de crueldade especialmente contra viúvos e viúvas, que mesmo tendo trabalhado uma vida inteira, terão de escolher entre ficar com sua aposentadoria conquistada ou com a pensão pela morte do cônjuge, que ganha um redutor de 40%; contra as pessoas acima de 65 anos, com o tal do gatilho demográfico, sem levar em conta o tempo de permanência no mercado de trabalho e pela abolição de qualquer regra de transição para quem encontra-se em vias de se aposentar de pelas normas em vigor.
Perseguir a aposentadoria integral (100%) se tornou uma tarefa ainda mais penosa, pra não chamar de esforço hercúleo e utópico. Às mulheres, a conquista da tão sonhada aposentadoria integral significa imediatamente contribuir dez anos a mais. Para professoras(es) da educação infantil, 15 anos a mais. Os 25 anos de serviços dessas(es) profissionais saltaram para 40.
O aumento da idade mínima para se aposentar, 65 anos para os homens e 62 anos para as mulheres, parte do pressuposto que todos os brasileiros e brasileiras trabalham com as mesmas condições de vida, desconsiderando o desgaste do trabalho braçal e daqueles que, por pobreza, envelhecem muito mais cedo. É particularmente cruel com as mulheres. Aumenta sete anos de vida para aposentar. Mulheres têm dupla, tripla jornada de trabalho. Quando diferenciamos a idade na Constituição de 1988 foi exatamente em razão disso.
A nova emenda aglutinadora, alardeada pelo governo federal como um recuo, mantém a lógica da exclusão previdenciária e do salve-se quem puder pagar pela previdência privada. Lembrando que essa tal emenda aglutinadora foi publicada no dia 7 de fevereiro deste ano apenas pela imprensa. O texto do documento não foi sequer apresentado oficialmente. E lembrando também que a estratégia do governo Temer sempre foi apostar na divisão das categorias. Começou dizendo que retirava servidores públicos desse pacotaço, a fim de esvaziar as ruas das grandes mobilizações e protestos, e, agora, tenta ganhar as viúvas (e os viúvos) dos policiais das diferentes esferas. Desde que seus cônjuges morram em serviço.
A sociedade perde com a reforma previdenciária de Temer. Não ataca os setores mais privilegiados, os dos altos salários. E mesmo esses segmentos sentirão as conseqüências da vulnerabilidade social que acompanha o empobrecimento da população.
Só tem uma coisa a fazer para impedir as maldades da Reforma da Previdência de Temer: é protestar! Lutar contra esse absurdo! Senão, ir para a rua poderá ter um sentido mais amargo e doloroso do que manifestar hoje a nossa contrariedade diante desse ataque aos direitos de todos, trabalhadores e trabalhadoras.
(*) Gleisi Hoffmann é senadora da República e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT).