Gleisi: união entre democratas é prioridade para as eleições 2024
Frente à ameaça da extrema-direita, presidenta do PT falou ao SBT News sobre as alianças do partido com legendas comprometidas com a democracia
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A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), afirmou, nesta quarta-feira (24), que as eleições municipais deste ano têm como diferencial uma necessidade maior de alianças entre os partidos comprometidos com a democracia, em razão da ameaça representada pela extrema-direita.
“Para nós é muito importante que o campo democrático saia fortalecido da eleição”, disse Gleisi, em entrevista ao programa Perspectivas, do SBT News.
A deputada falou sobre o assunto ao ser perguntada sobre a mudança de estratégia do PT em relação às eleições municipais de 2020, quando o partido priorizou mais as candidaturas próprias.
“Não precisa só o PT ter candidato e o PT ganhar. Acho que a gente tem que fortalecer esse campo democrático, candidaturas de partidos que estão conosco desde o início. Por isso que a estratégia da eleição agora de 2024 foi muito diferente da estratégia da eleição de 2020, onde nós estimulamos muito as candidaturas e também não tínhamos uma frente mais constituída. Então o PT foi para o embate”, explicou a deputada.
“E foi correto, porque nós tínhamos que nos defender, defender o presidente Lula e preparar o terreno para 2022. Agora a gente tem que defender o presidente Lula, tem que defender a democracia, tem que preparar o terreno para 2026 e tem que ser do campo amplo. Então por isso que o PT tem essa estratégia na eleição de apoiar também mais candidaturas de outros partidos. Eu espero, sinceramente, que o retrato que saia da eleição é o campo democrático brasileiro ganhou a maioria das cidades”, pontuou.
Capitais
Gleisi falou também sobre a disputa em cidades importantes como São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro.
“Nós temos prioridades, tanto em relação às candidaturas do PT, como em relação às candidaturas desses outros partidos. São Paulo é prioridade, Boulos [Psol] é a prioridade para nós, é muito importante ganhar São Paulo. Acho que nós temos que fazer uma bela campanha, o presidente já disse que vai participar da campanha, então para nós é uma grande prioridade”, disse a presidenta do PT.
“Porto Alegre também, Maria do Rosário [PT] é a nossa candidata, está indo muito bem lá, está bem nas pesquisas. Belo Horizonte também, porque aí é uma candidatura do PT, é do sudeste, a única que a gente tem nas grandes cidades do sudeste é Belo Horizonte. A gente quer retomar o PT, a organização do partido lá, o Rogério [Correia] é um excelente candidato”, afirmou.
Sobre o Rio, Gleisi disse que negociações estão em andamento com o prefeito Eduardo Paes. “No Rio a gente está conversando com o Eduardo Paes, o PT quer colocar vice do Eduardo Paes. O Eduardo acho que tem resistência, quer também conversar com outros partidos, mas nós temos dito para o Eduardo: ‘é muito importante o PT se ver na sua chapa, para a gente poder te ajudar nessa caminhada’, porque não vai ser uma eleição fácil a do Rio”, sublinhou a parlamentar.
Debates nacionais em SP
Sobre São Paulo especificamente, Gleisi disse que os debates eleitorais devem extrapolar os temas municipais e envolver também questões nacionais, em razão do tamanho e da importância da cidade.
“Eu acho que a campanha de São Paulo é uma campanha que vai ser absolutamente politizada, no sentido de discutir as posições políticas que estão colocadas no Brasil hoje, porque é uma grande cidade. Claro que tem as discussões do dia a dia da cidade, dos problemas para resolver, isso o Boulos tem muita capacidade e condições de fazer, mas ela vai ter um componente político da disputa política nacional muito forte”, disse.
A deputada acrescentou que, em razão do histórico de vitórias e de boas gestões do PT na capital paulista, é grande o potencial de vitória do campo democrático entre os eleitores paulistanos.
“Nós ganhamos a eleição com o Lula e com o [Fernando] Haddad na cidade de São Paulo. Eu acho que a cidade de São Paulo tem uma perspectiva mais do nosso campo, desse campo democrático progressista, nesse momento. Nós já governamos São Paulo com [Luiza] Erundina, com Marta Suplicy, com o Fernando Haddad. Então tem uma história da centro-esquerda e da esquerda de ter um eleitorado maior. Nós vamos apostar muito nisso”, declarou.
“É claro que a gente não subestima a máquina, eu sei como é que funciona. O prefeito tem uma máquina enorme, vai entrar a máquina do estado também, porque o governador está apoiando ele. Vão jogar pesado, porque São Paulo é estratégica, mas nós vamos ter que fazer esse embate, esse enfrentamento”, pontuou.
BC, atraso para o Brasil
Entre outros temas abordados na entrevista, Gleisi foi perguntada sobre a disposição do PT de prosseguir nas críticas à atuação do presidente do Banco Central, o bolsonarista Roberto Campos Neto, que, além de sabotar o país com a taxa básica de juros (Selic) nas alturas, tem usado o cargo para fazer especulação financeira.
“Nós vamos continuar falando e fazendo a crítica, porque eu acho que isso é um atraso para o Brasil”, afirmou a deputada.
“Esse moço é um oportunista. Ele é uma pessoa que joga contra o Brasil, fica fazendo especulação para o mercado. As declarações que ele deu agora por conta da mudança da meta fiscal foram deploráveis. Ele tinha que ficar quieto, já está de saída. Não, ele fica insistindo, insistindo em falar, em assinar para fazer especulação de mercado, achando que ele entende de tudo. Além de tudo, é arrogante”, disse.
Gleisi prosseguiu: “Então, tomara que saia logo, vai sair no final do ano, mas a gente tem que mudar isso, não pode ter um presidente de uma autarquia, que é o Banco Central, uma autarquia como qualquer outra, ficar ditando regra de economia, ditando regra fiscal e causando rebuliço no mercado. Isso é um desserviço para o país”.
Um crime contra o Brasil
Sobre os juros altos, Gleisi afirmou que a postura do Banco Central não se justifica, em razão do cenário de estabilidade econômica no país.
“É um crime contra o Brasil. O que justifica o juro de dois dígitos na economia que nós estamos vivendo? Qual é o risco de não pagar a dívida pública? Me diga, qual é o risco de não pagar a dívida pública? Nós temos reserva internacional, nunca demos calote, qual é o risco? E se a dívida aumentar 1 ou 2%, qual é o impacto na economia? Zero, nada. Então fica com o juro para fazer especulação. Para que isso? Quem é que está ganhando com esse negócio?”, questionou a deputada.
“A inflação está sob controle. Estamos precisando melhorar as condições de vida [do povo], e ele fica brincando. ‘Fiquem quietinhos aí, se vocês se comportarem como cachorrinhos quietinhos, a gente baixa o juro’. É um acinte o que esse moço faz”, disse.
Gleisi também alertou para o impacto da política monetária do BC no setor produtivo e no dia a dia da população. Segundo ela, pressionados pelos juros altos, os empresários são levados a elevar os preços ao consumidor.
“O alimento não cai mais, outros bens não caem mais, porque também quem produz tem dificuldade de ter mais recursos para colocar para aumentar a produção, porque é caro pegar o dinheiro, é caro pagar o preço do dinheiro com esse juro. Então isso é muito perverso, por isso que a gente briga muito com essa questão dos juros e com essa postura desse presidente do Banco Central”, disse.
Da Redação