Hackers desenvolvem apps móveis para proteger mulheres
O uso da tecnologia no combate à violência contra as mulheres e sua proteção são apresentadas em uma maratona de hackers na Câmara dos Deputados
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A Lei Maria da Penha foi a fonte inspiradora do tema “Gênero e Cidadania” do Hackathon da Câmara dos Deputados. Um evento que este ano reúne 22 equipes e cerca de 50 participantes empenhados em desenvolver aplicativos que ofereçam informações sobre ações do Congresso Nacional dirigidas às mulheres. Dentre eles, orientação a mulheres vítimas de agressão, estatísticas precisas e padrões de comportamento dos parlamentares sobre votações de questões de gênero.
Segundo a assessora do Laboratório Hacker da Câmara, Maria Raquel Mesquita Mello, a ideia é que sejam aplicativos cívicos, gratuitos e que as pessoas possam utilizar em várias situações.
“A mulher pode, por meio do seu celular, acionar as autoridades, fazer uma denúncia ou fiscalizar o orçamento destinado a implementação de políticas públicas para as mulheres”, explicou.
Para a deputada Janete Rocha Pietá (PT-SP), o evento é um grande avanço nas discussões e na elaboração de ferramentas para mapear e coibir a violência contra a mulher. Segundo ela, é preciso desconstruir a “naturalidade” da violência dos homens contra as mulheres.
“A nossa sociedade é violenta e trata as mulheres como seres de segunda classe. É uma violência institucionalizada. É emblemática a tentativa de abafar os casos de estupro na faculdade de medicina na USP, por exemplo”, afirma Pietá.
Violência Obstetrícia – A Organização Mundial de Saúde (OMS) admite como razoável 15% de partos cesariana. O Brasil tem 84% de cesarianas em hospitais particulares e 40% em hospitais públicos.
Uma lei de 2005 garante o direito de um acompanhante a toda mulher que vai dar à luz, mas muitas maternidades não admitem e sonegam essa informação às mulheres, segundo José Sérgio Holanda, desenvolvedor de sistemas e componente do grupo que desenvolve um aplicativo para informar as mulheres sobre a violência obstétrica.
Holanda conta que a ideia do aplicativo surgiu quanto ele e a esposa buscavam informações sobre o parto humanizado para o filho que planejam e se depararam com a violência obstétrica.
“A partir daí começamos a buscar informações e surgiu esse evento, o Hackathon, que trata da violência contra a mulher,” afirmou o programador.
Alguns estados brasileiros adotam um aparelho eletrônico que, ao ser acionado, grava o áudio do ambiente e informa às autoridades policiais que uma agressão está em andamento.
O programador Vítor Márcio Baptista desenvolveu um sistema com um número de telefone que dispara o aviso para uma central de atendimento e redes de proteção à mulher, que pode ser utilizado em qualquer telefone celular.
“Há uma demanda muito maior de violência que de oferta de aparelhos de botão do pânico. A opção de usar um celular comum é que ele contempla a maioria da população e um smartphone já restringe por causa do valor”.
A socióloga Fernanda Becker e a cientista social Fernanda Adami desenvolveram um aplicativo para identificar padrões de comportamento de parlamentares em votações para questões de gênero.
Segundo Fernanda, elas pretendem cruzar os dados abertos que a câmara disponibiliza para entender como é o comportamento da dinâmica das mulheres no parlamento cuja representatividade no Congresso Nacional não passa de 9%.
“Queremos entender como elas estão votando nas questões de gênero. Se votam identificadas o gênero, se tem características diferenciadas dos votos dos parlamentares homens ou se elas votam disciplinadas com a orientação do partido”, Contou Fernanda.
As pesquisadoras também pretendem compreender como os partidos se comportam em relação às questões de gênero e a presença de mulheres em suas bancadas.
“Queremos saber se existe um padrão e, com isso, ajudar na discussão dessa representatividade dentro do congresso nacional”, disse Maraiza.
Estatísticas confiáveis – Um dos grupos da maratona tem o objetivo de gerar estatísticas de localização e gerenciamento de risco e violência contra a mulher.
Segundo Keoma Ávila Cherulli, a justificativa nasceu da análise de uma tese de doutorado da Universidade de Brasília (UnB) que apontava a falta de dados qualificados e a grande quantidade de mulheres que não denunciam suas agressões.
O sistema é anônimo e pretende gerar dados confiáveis para tomadas de decisão das autoridades públicas.
“Não existem dados que apontem realmente a violência contra a mulher, pois elas não denunciam seus maridos e arrimos de família”, afirma Cherulli.
A Maratona Hackathon Gênero e Cidadania segue até o dia 28 de novembro. Serão selecionados dois participantes vencedores para um encontro sobre projetos Democracia Digital na sede no Banco Mundial, em Washington.
Por Guilherme Ferreira, da Agência PT de Notícias.