Hebe, Ratinho e Ana Maria Braga “venderam” Telebrás como xampu
Para convencer público de que privatização era bom negócio, os três receberam cachês que variaram de R$ 1,5 mil e R$ 17 mil
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Convencidos pelo governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e empresários, apresentadores e celebridades da televisão brasileira na década de 90 (e ainda hoje!), ajudaram a disseminar na opinião pública a ideia de que a privatização de 27 operadoras do sistema estatal Telebrás era um bom negócio.
Nos programas que levaram ao ar nos dias que antecederam o leilão (27 e 28 de julho de 2008) – realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro –, Ana Maria Braga, Ratinho (então na Record) e Hebe Camargo (SBT) deram o seu apoio “sincero” ao projeto do tucano.
O registro do episódio está em reportagem da ‘Folha Ilustrada’ de 28 de novembro de 1998, quatro meses depois. Hebe ganhou R$ 9 mil; Ratinho, R$ 3 mil; e Ana Maria, R$ 800.
Como se fosse uma campanha publicitária de uma marca de sabão, xampu ou refrigerante, os três foram agraciados com cachês ‘modestos’ diante do tamanho do negócio.
Ao bater do martelo, o grupo foi vendido por mais de R$ 20,5 bilhões, ou US$ 19 bilhões a valores do dia do leilão. Se o valor fosse convertido para os dias atuais, representaria mais de R$ 60 bilhões.
Pela cotação da moeda americana no dia 28 de julho de 1998 (R$ 1,635), Hebe recebeu o equivalente a US$ 5.505,00, que hoje valem R$ 17,4 mil.
Nessa conversão cambial, Ratinho ficou com US$ 1.834,86, ou quase R$ 5.799,00 na data de hoje; enquanto Ana Maria levou US$ 489,29, impressionantes R$ 1.548,00, se convertidos a preços atuais.
Já a Record, com faturamento publicitário de quase um terço do que foi pago ao SBT, recebeu R$ 55.400,00 (US$ 33,9 mil no dia). Pelos minutos da fala de Ratinho e Ana Maria, a conversão representa hoje pouco mais de R$ 107 mil. O SBT levou R$ 142,5 mil (ou US$ 87,15 mil, que valeriam hoje mais de R$ 275 mil).
A responsável pelos pagamentos foi uma ONG criada para fazer o lobby pró-privatização: a Rio 2000.
Audiência – O governo colocou todas suas fichas na venda das quatro empresas da estatal e precisava contrapor a forte resistência sindical ao leilão. Os marqueteiros viram nas grandes audiências da televisão uma porta de interatividade com a opinião pública.
Afinal, eram dezenas de milhões de brasileiros que garantiam audiência assídua aos programas, que ainda hoje gozam de credibilidade e exercem grande poder de influência. O leilão completa 17 anos no próximo dia 29.
Durante o processo de venda, as subsidiárias ficaram conhecidas como “teles”, porque seus nomes eram formados por esse sufixo mais o prefixo do do estado (Telesp, Telemig, Telepar, Telebrasília…).
Elas foram divididas em quatro blocos: a Telemar, Brasil Telecom, Telefônica (de telefonia fixa local) e Embratel (de telefonia fixa na modalidade longa distância). As duas primeiras se uniram – hoje são a Oi.
Hoje as três empresas que sobraram – a Oi juntou Telemar com Brasil Telecom, Telefônica/SP e Embratel (com Claro e Net) – valem mais. O portal especializado Teleco informa que, em dezembro de 2014, juntas valiam R$ 72,76 bilhões.
Por Márcio de Morais, da Agência PT de Notícias