Imprensa aponta indícios de manipulação em pedido de delegado para ouvir Lula
Em relatório, o próprio delegado reconhece que não há provas do envolvimento do ex-presidente; para a revista “Carta Maior”, o objetivo do pedido é incriminar Lula
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O despacho do delegado da Polícia Federal, Josélio Azevedo de Sousa, que pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) que autorize o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a depor na Operação Lava Jato, apresenta indícios de manipulação, conforme publicou a revista “Carta Maior”, no domingo (13).
Em seu relatório, o próprio delegado reconhece que não há provas do envolvimento de Lula. Para a revista, o objetivo do pedido é incriminar o ex-presidente.
“A manipulação da PF no Inquérito da Lava Jato não representa apenas um ataque à figura e à honra do ex-presidente Lula, porque é também uma violência à democracia e à estabilidade política e institucional”, ressalta a matéria, destacando que a “instrumentalização de investigações policiais para fins partidários ou privados é incompatível com a democracia”.
A manifestação do delegado Josélio integra o volume XII do Inquérito nº 3989, instaurado no STF para investigar políticos implicados na Lava Jato que gozam de foro privilegiado. O volume XII vai da página 2442 à 2660 do Inquérito, porém, faltam as folhas 2466, 2467 e 2468.
Segundo a “Carta Maior”, o despacho foi protocolado no STF às 13h34 do dia 10 de setembro, “mas não surpreende se tiver sido entregue antecipadamente na redação da revista Época, do grupo Globo”.
Na página 2446 do Inquérito consta que Pedro Henry Neto, do PP, afirmou em depoimento “que jamais tratou da nomeação de Paulo Roberto Costa com o então presidente Lula; que, igualmente, não tem conhecimento se Pedro Corrêa e José Janene trataram deste assunto com o ex-presidente”.
Mais adiante, na página 2650, o documento ressalta que em seu depoimento, Paulo Roberto Costa “afirma não dispor de nenhum elemento concreto que permita confirmar” a suposição de que a “Presidência da República tinha conhecimento sobre os comissionamentos proporcionados a partir da Diretoria de Abastecimento da Petrobras”.
Apesar disso, o delegado da PF conclui: “Vê-se, portanto, que os colaboradores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef presumem que o ex-presidente da República tivesse conhecimento do esquema de corrupção descortinado na Petrobras em razão das características e da dimensão do mesmo. Os colaboradores, porém, não dispõem de elementos concretos que impliquem a participação direta do então presidente Lula nos fatos”.
Blindando o PSDB – Ainda segundo o despacho, Paulo Roberto Costa afirmou em depoimento que, com relação ao deputado Eduardo da Fonte (PP), “sabe ainda que este participou, juntamente com Sérgio Guerra, das reuniões para pôr fim à CPI da Petrobras, e que resultaram no pagamento de R$ 10 milhões pagos pela Construtora Queiroz Galvão, na pessoa de Idelfonso Colares, conforme já explicitado em Termo de Colaboração próprio”.
O delegado Josélio, entretanto, livra o PSDB, apesar da implicação direta do ex-presidente do partido.
“Segundo se depreende dos fatos que ensejaram sua instauração, houve a construção de um esquema de distribuição de recursos ilícitos a agentes políticos de pelo menos três partidos políticos, PP, PMDB e PT”, afirma o delegado da PF na página 2537 do despacho.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da revista “Carta Maior”