Júlio Miragaya: Ecoliberalismo
Faz-se hoje no Brasil uma forte campanha contra a presença do Estado na economia, movida, sobretudo, pelo mercado financeiro, defensor da redução de regras e regulamentos, como se esquecesse que…
Publicado em
Faz-se hoje no Brasil uma forte campanha contra a presença do Estado na economia, movida, sobretudo, pelo mercado financeiro, defensor da redução de regras e regulamentos, como se esquecesse que a atual crise econômica mundial não tivesse surgido exatamente da desregulamentação financeira.
A moda agora é falar de independência do Banco Central. Como bem disse o candidato Eduardo Jorge, do PV, querem que o BC fique livre do controle do governo para ficar sob controle dos bancos. O surpreendente é que a candidata Marina Silva, do PSB, antes tão crítica dos bancos, passou a defender não só a tal “independência” do Banco Central, mas também que os bancos públicos (BB, Caixa, BNDES) reduzam sua atuação, abrindo maior espaço para os bancos privados.
Atacar as empresas públicas como ineficientes tem sido recorrente entre os liberais, Collor se elegeu assim em 1989, mas trata-se de um discurso falacioso. São inúmeras as empresas públicas exitosas, como a Petrobras, Embrapa, Furnas e os três bancos citados, assim como são várias as empresas privadas fracassadas, como os falidos bancos Nacional, Econômico e Bamerindus, a VASP e as empresas X de Eike Batista.
Com origem nos movimentos sociais do Acre, confrontando-se toda a vida com os banqueiros, latifundiários e empreiteiros, a candidata Marina mudou seu discurso para se tornar palatável à classe dominante, que anseia livrar-se de Dilma. Prega uma nova forma de fazer política, mas escala a herdeira do Banco Itaú e notórios liberais, Gianetti e Lara Resende, para elaborarem seu programa econômico, permeado de contradições: fala que vai liberar o preço da gasolina e diesel, mas promete reduzir a inflação para 3% ao ano; diz que vai ampliar os gastos em saúde e segurança mas promete reduzir os impostos.
Os dois últimos candidatos eleitos com essa postura messiânica, Jânio e Collor, foram desastrosos para o Brasil. Com a palavra o eleitor.
Júlio Miragaya é Conselheiro do Conselho Federal de Economia